"De ontem para hoje já fui em oito velórios. É um sofrimento muito grande, a população está abatida." O relato dolorido é do padre Anderson Teixeira. Ele atua na paróquia Sagrada Família, em Jardim Camburi, Vitória, mas é natural de Brumadinho, Minas Gerais, onde o rompimento de uma barragem da Vale deixou dezenas de mortos e centenas de desaparecidos.
"Boa parte dos desaparecido e mortos faz parte da minha história. São amigos de escola, pessoas que estudaram comigo, gente que conheci na igreja", diz. O religioso conta que saiu da cidade ainda adolescente, quando entrou para o seminário, mas como toda a família mora na cidade mineira, sempre voltava.
Para ele, o som dos helicópteros que procuram por corpos dia e noite é uma lembrança constante da catástrofe que aconteceu na última sexta-feira (25). O religioso conta que, ao chegar na cidade, ficou impactado com a mudança na paisagem. "Antes tinha um rio que cortava a cidade. Agora está tudo coberto. A água que corre tem cor de sangue."
O padre relata que os colegas têm feito plantão para dar conta de atender a todos que precisam de um apoio espiritual. "No cemitério novo foram abertas mais de 100 covas. Os padres da região estão fazendo plantão para rezar com o pessoa, acolher as famílias. As pessoas estão sofrendo muito. Tem família que perdeu cinco pessoas de uma vez. É uma calamidade", diz.
Padre Anderson afirma que uma logística organizada pela empresa e pelo poder público tem dado conta de atender as necessidades mais básicas, como comida e água. No entanto, a maior dificuldade tem sido mesmo conviver com a dor de todos que perderam seus familiares ou que ainda aguardam notícias. "Fazemos o papel de escutar o outro, deixar a pessoa contar a dor dela. A gente fica até sem palavras para consolar."
A igreja matriz São Sebastião, em Brumadinho, tem deixado as portas abertas para acolher aquelas pessoas que não podem voltar para suas casas. A todo tempo, também chegam ao local pessoas em busca de consolo pelas suas perdas e também aqueles que sobreviveram por pouco. "Se a gente vir o sofrimento com olhar humano, só veremos caos. Mas quando olhamos com olhar de fé, encontramos forças. Apesar de tanto sofrimento, sabemos que Deus vai ser os sustento desse povo, é Nele que eles deverão se apegar", diz o sacerdote.
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