Na tarde desta quarta-feira (30) será realizada a primeira audiência de instrução e julgamento do policial militar Igor Moreira da Silva. Ele foi denunciado pelo assassinato do estudante de medicina Jean Pierre Otero Lazzarini, 27, em Araçás, Vila Velha. O rapaz foi morto em uma festa, em 25 de dezembro de 2017, com três tiros nas costas. Sete meses depois, Igor foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil e uso de meio que impossibilitou a defesa da vítima e fraude processual.
Familiares, amigos e parentes de outras vítimas pretendem realizar uma manifestação silenciosa, pedindo por Justiça, a partir das 13 horas, em frente à 4ª Vara Criminal de Vila Velha, onde ocorrerá a audiência. Para a mãe do jovem morto, Simone Otero Lazzarini, o momento será de mostrar que há pessoas lutando por Justiça. "Quero que este policial seja condenado e expulso da Corporação para que ele nunca mais tire a vida de outros jovens como fez com a do meu filho", desabafou.
A família está convidando, pelas redes sociais, a população a comparecer ao ato silencioso. "Quem se compadecer, se solidarizar pela busca por Justiça e por mães que vivem a mesma dor, pode participar da manifestação com a nossa família e amigos", disse.
INVESTIGAÇÕES
As investigações do caso foram concluídas em julho do ano passado pela Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Vila Velha e enviadas à Justiça, que aceitou a denúncia proposta pelo Ministério Público Estadual. No dia do crime, Igor se apresentou à delegacia e disse ter feito os disparos contra Jean, pois este estaria portando arma e feito menção de sacar o objeto da cintura. O PM entregou uma pistola calibre 380 com numeração adulterada que teria sido apreendida com o Jean.
Porém, segundo o delegado Ricardo Almeida, titular da DCCV, a versão dada pelas testemunhas do crime não condizia com a de Igor.
Testemunhas afirmaram que Jean estava com um copo em uma das mãos e com uma garrafa de bebida alcoólica na outra, objeto encontrado próximo ao corpo do estudante quando a perícia chegou ao local. O laudo cadavérico do DML apontou que Jean foi alvo de três tiros, todos nas costas. Exames periciais também comprovaram que os disparos saíram de uma pistola ponto 40, que pertencia à PM, e estava com Igor. Temos relato de testemunha que diz que o militar Igor, após disparar contra Jean, retirou uma arma da cintura e disse ser da vítima. A arma, uma pistola 380, foi entregue pelo PM na delegacia como sendo de Jean, por isso também o indiciamos por fraude processual, observou o delegado em entrevista à época.
A motivação do crime era uma incógnita para a polícia. Existem indicativos que o motivo foi uma banalidade, seja briga por mulher ou discussão, mas não foi possível precisar, explicou Almeida, na entrevista.
SOFRIMENTO
A expectativa de Simone é de que a Justiça mande o caso para Júri Popular. "Nós queremos Justiça, que ele seja condenado pelo assassinato do meu filho", destacou. A mãe, que passou a viver em uma casa quase em frente ao cemitério no bairro Ponta da Fruta, em Vila Velha, onde o filho está enterrado, relata que a perda de Jean destruiu sua família. "Estamos reaprendendo a viver. Mas é muito difícil viver sem o seu filho mais velho, que era um pilar da família. É muita dor. Não há um só dia em que não chore. Meu conforto tem sido o apoio de amigos e da família", disse.
Ela recorda que seu filho sonhava em ser médico, que tinha muitas expectativas para a vida e que todas elas foram mortas com ele. "Um jovem correto, um baluarte da família, e que foi tido como marginal que estava com arma na praça tentando fazer um roubo. Isso não pode acontecer. Espero Justiça e ele não será estatística de casos sem julgamentos ou não solucionados", assinala a mãe
Simone decidiu transformar a casa onde viveu quando o filho ainda era vivo em um local para oferecer serviços para a comunidade. "Ela está sendo transformada no Instituto Jean Lazzarini, onde serão oferecidos serviços para quem precisa. E mais, lá vou transformar meu luto em luta por todas as vítimas e mães que sofrem como eu", relatou.
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