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PM que matou universitário em Vila Velha começa a ser julgado

PM que matou universitário em Vila Velha começa a ser julgado

O jovem foi morto com três tiros nas costas em uma festa no dia de Natal, em 2017. Militar foi denunciado por homicídio qualificado por motivo fútil

Publicado em 29 de janeiro de 2019 às 22:27

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Simone Otero, mãe do jovem morto por um policial no Natal de 2017. (Vitor Jubini | Arquivo | GZ)

Na tarde desta quarta-feira (30) será realizada a primeira audiência de instrução e julgamento do policial militar Igor Moreira da Silva. Ele foi denunciado pelo assassinato do estudante de medicina Jean Pierre Otero Lazzarini, 27, em Araçás, Vila Velha. O rapaz foi morto em uma festa, em 25 de dezembro de 2017, com três tiros nas costas. Sete meses depois, Igor foi indiciado por homicídio qualificado por motivo fútil e uso de meio que impossibilitou a defesa da vítima e fraude processual.

Familiares, amigos e parentes de outras vítimas pretendem realizar uma manifestação silenciosa, pedindo por Justiça, a partir das 13 horas, em frente à 4ª Vara Criminal de Vila Velha, onde ocorrerá a audiência. Para a mãe do jovem morto, Simone Otero Lazzarini, o momento será de mostrar que há pessoas lutando por Justiça. "Quero que este policial seja condenado e expulso da Corporação para que ele nunca mais tire a vida de outros jovens como fez com a do meu filho", desabafou.

A família está convidando, pelas redes sociais, a população a comparecer ao ato silencioso. "Quem se compadecer, se solidarizar pela busca por Justiça e por mães que vivem a mesma dor, pode participar da manifestação com a nossa família e amigos", disse.

INVESTIGAÇÕES

Perícia no carro de Jean Pierre Otero Lazzarini. (Carlos Alberto Silva | Arquivo | GZ)

As investigações do caso foram concluídas em julho do ano passado pela Delegacia de Crimes Contra a Vida (DCCV) de Vila Velha e enviadas à Justiça, que aceitou a denúncia proposta pelo Ministério Público Estadual. No dia do crime, Igor se apresentou à delegacia e disse ter feito os disparos contra Jean, pois este estaria portando arma e feito menção de sacar o objeto da cintura. O PM entregou uma pistola calibre 380 com numeração adulterada que teria sido apreendida com o Jean.

Porém, segundo o delegado Ricardo Almeida, titular da DCCV, a versão dada pelas testemunhas do crime não condizia com a de Igor. 

Aspas de citação

Somente o soldado e outro militar que estava na festa afirmam que a vítima estava armada, mas com descrições diferentes. Um diz que a arma estava na cintura e outro que Jean a apontou para o alto. Das demais testemunhas, cerca de 20 que ouvimos, nenhuma diz ter visto arma com a vítima

Aspas de citação

Testemunhas afirmaram que Jean estava com um copo em uma das mãos e com uma garrafa de bebida alcoólica na outra, objeto encontrado próximo ao corpo do estudante quando a perícia chegou ao local. O laudo cadavérico do DML apontou que Jean foi alvo de três tiros, todos nas costas. Exames periciais também comprovaram que os disparos saíram de uma pistola ponto 40, que pertencia à PM, e estava com Igor. “Temos relato de testemunha que diz que o militar Igor, após disparar contra Jean, retirou uma arma da cintura e disse ser da vítima. A arma, uma pistola 380, foi entregue pelo PM na delegacia como sendo de Jean, por isso também o indiciamos por fraude processual”, observou o delegado em entrevista à época.

A motivação do crime era uma incógnita para a polícia. “Existem indicativos que o motivo foi uma banalidade, seja briga por mulher ou discussão, mas não foi possível precisar”, explicou Almeida, na entrevista.

SOFRIMENTO

Jean Pierre Otero Lazzarini. (Arquivo da família)

A expectativa de Simone é de que a Justiça mande o caso para Júri Popular. "Nós queremos Justiça, que ele seja condenado pelo assassinato do meu filho", destacou. A mãe, que passou a viver em uma casa quase em frente ao cemitério no bairro Ponta da Fruta, em Vila Velha, onde o filho está enterrado,  relata que a perda de Jean destruiu sua família. "Estamos reaprendendo a viver. Mas é muito difícil viver sem o seu filho mais velho, que era um pilar da família. É muita dor. Não há um só dia em que não chore. Meu conforto tem sido o apoio de amigos e da família", disse.

Ela recorda que seu filho sonhava em ser médico, que tinha muitas expectativas para a vida e que todas elas foram mortas com ele. "Um jovem correto, um baluarte da família, e que foi tido como marginal que estava com arma na praça tentando fazer um roubo. Isso não pode acontecer. Espero Justiça e ele não será estatística de casos sem julgamentos ou não solucionados", assinala a mãe

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Simone decidiu transformar a casa onde viveu quando o filho ainda era vivo em um local para oferecer serviços para a comunidade. "Ela está sendo transformada no Instituto Jean Lazzarini, onde serão oferecidos serviços para quem precisa. E mais, lá vou transformar meu luto em luta por todas as vítimas e mães que sofrem como eu", relatou.

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