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Engenheiros citam risco de colapso na estrutura da Rodoviária de Vitória

Engenheiros citam risco de colapso na estrutura da Rodoviária de Vitória

Um ano após laudo apontar perigo de desabamento, nada foi feito

Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 03:21

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Ferro está à mostra e cheio de ferrugem nas estruturas de concreto que sustentam o terminal. (Marcelo Prest)

Um ano após o laudo do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) apontar um risco de desabamento da estrutura da Rodoviária de Vitória, vários pilares que sustentam o terminal ainda continuam danificados. O local completa 40 anos em março.

A assessoria de imprensa do conselho informou ao Gazeta Online que o Crea encaminhou ao Ministério Público do Espírito Santo, ainda em dezembro de 2017, o relatório técnico que indicava falhas na estrutura e apontava risco de colapso.

A rodoviária é sustentada por tubos metálicos concretados onde se apoiam blocos de concreto armado e, a partir daí, sobem os pilares e vigas. São os blocos de concreto que estão em pior estado, segundo o laudo.

Alguns deles já perderam o concreto e a água está chegando à parte de ferro, e estão em estado avançado de corrosão. Representantes do Crea afirmaram na época que era preciso uma intervenção imediata para evitar um acidente.

Entretanto, o Gazeta Online voltou ao local nesta terça-feira (5) e registrou imagens que mostram que os reparos ainda não foram feitos. Fotos revelam que vergalhões continuam expostos à ação do mar e do vento, com concretos desgastados, o que evidenciam o risco de colapso.

O parecer técnico, emitido pelo Crea em dezembro de 2017, foi feito através do Grupo de Trabalho de Infraestrutura e Mobilidade Urbana do conselho.

Os engenheiros que assinam o documento classificaram a situação como preocupante. Além dos pilares, que ficam em contato com a água da Baía de Vitória, o Crea encontrou rachaduras no piso da rodoviária. Também foi encontrado desgaste no concreto que envolve os pilares que sustentam o telhado.

O engenheiro civil Jaime Oliveira Veiga, um dos autores do laudo do Crea, contou que uma outra empresa, de Minas Gerais, foi contratada para fazer uma análise do local e que ela também encontrou as irregularidades citadas no documento do Crea.

“A rodoviária, quando você vê por baixo, é destacamento de concreto, armadura em estado avançado de decomposição e corre risco de colapso se nada for feito. O trabalho dessa empresa de Belo Horizonte afirma exatamente isso, as mesmas coisas que o nosso laudo constatou”, disse ele. A reportagem não teve acesso ao laudo da empresa mineira.

CONCESSÃO 

A Rodoviária de Vitória é administrada pela empresa Contermi, terceirizada pela Secretaria de Estado de Gestão e Recursos Humanos (Seger). O contrato de concessão, no entanto, não deixa claro a responsabilidade das partes quanto ao cuidado com a estrutura que fica dentro da água – e que é a mais afetada pela corrosão.

Uma parte do contrato diz que a área do “aquaviário” anexa à rodoviária, não integra o “objeto do contrato”, o que a deixaria fora da responsabilidade da empresa concessionária. A estrutura, que fica dentro da água, no entanto, ajuda a dar sustentação para um terminal rodoviário no local.

O contrato, válido até 2021, trata de uma concessão onerosa, ou seja, em que a empresa (no caso, a Contermi) recebe autorização para explorar a rodoviária, mas deve pagar uma contrapartida ao governo do Estado.

HISTÓRICO

Denúncia

Dezembro de 2017

O primeiro alerta feito pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES) sobre a situação dos pilares que sustentam a Rodoviária de Vitória ocorreu no dia 18 de dezembro de 2017.

Por acaso

O engenheiro civil Jaime Oliveira Veiga, que na época era coordenador do Grupo de Trabalho de Infraestrutura e Mobilidade Urbana do Crea, contou à reportagem que os problemas no local foram encontrados por acaso, quando ele estava de barco a caminho de uma vistoria na Segunda Ponte. “Estava passando de barco quando vi algo estranho. Chegamos mais perto, e nos deparamos com o estado lastimável da estrutura”, disse na ocasião.

Urgência

O Crea ressaltou no laudo técnico que era necessário um plano de recuperação da estrutura com urgência. “A rodoviária requer cuidados com urgência para evitar o colapso da estrutura. Não dá pra precisar em quanto tempo ela pode romper, mas é preciso agir rápido”, disse o especialista na época.

Laudo

O laudo de vistoria técnica realizado pelo Crea revelou a situação precária dos pilares que sustentam a rodoviária. Fotos feitas pelos engenheiros mostram que, em alguns pontos, o concreto que sustenta os pilares e vigas já está totalmente desgastado, em adiantado estado de corrosão (fotos acima).

Rachaduras

Além dos pilares, que ficam em contato com a água da Baía de Vitória, o Crea encontrou ainda rachaduras no piso da rodoviária. Também foi encontrado desgaste no concreto que envolve os pilares que sustentam o telhado da rodoviária.

Julho de 2018

Novo alerta

No ano passado, o Crea voltou a alertar sobre a situação da rodoviária. Desde a produção do laudo, nenhuma intervenção havia sido feita. De acordo com o engenheiro Jaime Oliveira Veiga, não só a parte localizada sobre o mar corre riscos. Ele explicou que, como a estrutura metálica é uma só, em caso de colapso do trecho que está baseado na região que sofre ação da água, outras partes da rodoviária que estão fundadas em terra também poderiam sofrer danos e até mesmo cair.

MPES NOTIFICA EMPRESA E GOVERNO POR ATRASO

Corrosão em estrutura de sustentação da rodoviária. (Marcelo Prest)

O Ministério Público do Espírito Santo notificou o governo do Estado (MPES) e a concessionária que administra a Rodoviária de Vitória (Contermi) por atraso nas obras da rodoviária.

Segundo o Ministério Público, o cronograma da obra deveria ter sido entregue até o último dia 20 de janeiro, o que não foi feito. As intervenções também já teriam que ter começado, de acordo com o MPES.

A Promotoria de Justiça Cível de Vitória afirmou, em nota, que tem procedimento aberto para acompanhar e investigar o “suposto risco de desabamento da estrutura que sustenta o antigo terminal aquaviário que fica ao lado da Rodoviária de Vitória”.

Na época do laudo, o engenheiro Jaime Oliveira Veiga, que era coordenador do Grupo de Trabalho de Infraestrutura e Mobilidade Urbana do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), afirmou que além da parte localizada sobre o mar, outros trechos da rodoviária também poderiam cair em caso de colapso. Isso porque a estrutura metálica é uma só.

O Ministério Público informou que já fez várias reuniões com a concessionária que administra a Rodoviária de Vitória – Contermi – a Secretaria de Estado de Gestão de Recursos Humanos (Seger), a Procuradoria-Geral do Estado do Espírito Santo (PGE) e o Ministério Público do Trabalho.

Segundo a nota enviada pela assessoria de imprensa do Ministério Público do Estado, o órgão recebeu o laudo do Corpo de Bombeiros, informando que “não há risco de desabamento imediato, embora a situação do imóvel exija cuidados e providências”. A concessionária disse ao MPES que iniciou uma obra de escoramento do telhado em novembro de 2018.

O governo do Estado diz que o escoramento da estrutura já foi concluído. Essa seria uma intervenção inicial que evitaria qualquer risco aos passageiros até uma obra definitiva de secção do telhado e isolamento do ponto desativado do aquaviário – onde estão os pilares dentro da água –, que é “colado” à rodoviária e é o trecho mais afetado pela corrosão provocada pelo mar. Essa intervenção deve começar nos próximos dias.

A concessionária que administra a rodoviária foi procurada pela reportagem, mas não respondeu o contato. Já o governo do Estado, apesar das imagens registradas pelo Gazeta Online, garantiu que “não há identificação de problemas na rodoviária”. Afirmou ainda que em breve dará início às obras para segregação do piso e da cobertura que unem o aquaviário à rodoviária – o que inclui os pilares corroídos. Disse que, concluída essa etapa, o governo terá tempo hábil para avaliar as intervenções necessárias à recuperação da estrutura do terminal aquaviário.

OPINIÃO DA GAZETA

Perigo visível

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O que mais é preciso fazer para conseguir alguma reação do poder público? Mais de um ano de denúncias ainda não foi suficiente. E nem é preciso ser especialista para se assustar com o estado dos pilares da rodoviária. No laudo técnico do Crea-ES, o alerta de que intervenções são urgentes para evitar o colapso só confirma o que é visível. Milhares de usuários estão expostos ao perigo, numa estrutura prestes a completar 40 anos. A rodoviária necessita de mais atenção.

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