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Orgulho! Capixaba ganha bolsa de fundação onde passaram 47 prêmios Nobel

Orgulho! Capixaba ganha bolsa de fundação onde passaram 47 prêmios Nobel

O prêmio vai para pesquisadores em início de carreira que mostram uma promessa excepcional

Publicado em 20 de fevereiro de 2019 às 14:24

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Astrofísica capixaba Marcelle Soares Santos. (Photo/Mike Lovett)

A astrofísica capixaba Marcelle Soares Santos ganhou um dos prêmios mais competitivos e de maior prestígio disponíveis para pesquisadores em início de carreira, uma bolsa de pesquisa da Fundação Alfred P. Sloan, com sede em Nova Iorque, nos Estados Unidos.

A informação foi publicada nesta terça-feira (19) pela Brandeis University, onde a cientista coordena uma pesquisa que busca explicar a causa da expansão acelerada do universo usando dados de alguns dos telescópios mais poderosos já construídos.

Segundo a publicação, ex-bolsistas da Sloan incluem 47 ganhadores do Prêmio Nobel, entre eles, os físicos Richard Feynman e Murray Gell-Mann.

"É uma honra receber a bolsa de estudos Sloan Research", disse a capixaba em entrevista à universidade onde atua. "Encontrar-me ao lado das pessoas que foram reconhecidas ao longo dos anos é o que me deixa mais orgulhosa com este prêmio", afirmou.

Ao Gazeta Online, nesta quarta-feira (20), Marcelle falou da alegria de receber essa bolsa. 

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Eu estou muito orgulhosa e feliz por ser reconhecida pela Fundação Alfred P. Sloan como uma líder no meio acadêmico. Acredito que todos os meus colaboradores e ex-professores, no Brasil e no exterior, podem hoje se sentir reconhecidos por essa conquista

Marcelle Soares Santos
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Adam F. Falk, presidente da fundação, descreveu os ganhadores da bolsa Sloan como "os melhores jovens cientistas que trabalham hoje".

Ainda de acordo com informações da Brandeis University, os 126 bolsistas nomeados este ano pela fundação receberão uma bolsa de dois anos e US$ 70.000 para aprofundar suas pesquisas. "Os fundos podem ser gastos em qualquer maneira que o pesquisador julgar que melhor fará avançar seu trabalho", informa o texto.

Os candidatos são indicados pelos seus pares e os vencedores são selecionados por painéis independentes de acadêmicos seniores com base nas realizações de pesquisa, criatividade e potencial de se tornar um líder em seu campo de pesquisa.

A Fundação Alfred P. Sloan é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, com sede em Nova Iorque. Fundada em 1934 por Alfred Pritchard Sloan Jr., então presidente e diretor executivo oficial da General Motors Corporation, a Fundação faz doações em apoio à pesquisa original e educação em ciência, tecnologia, engenharia, matemática e economia.

MAIS RECONHECIMENTO

Muitos amigos e colegas de profissão usaram as redes sociais para parabenizar a capixaba. Entre eles, a página "Astronomia USP Brasil". Marcelle é doutora em Astrofísica pela USP.

SAIBA MAIS SOBRE A MARCELLE

Uma trajetória de sucesso. Nascida em Vitória, a capixaba Marcelle Soares Santos, 36 anos, sempre quis entender melhor o mundo em sua volta. A curiosidade da infância se transformou em estudo e hoje ela coordena uma pesquisa, na Brandeis University, na região de Boston, Massachusetts, que busca explicar a causa da expansão acelerada do universo. 

Segundo Marcelle, o desejo de estudar Física começou na escola, quando estava na quinta ou na sexta série, e foi ganhando espaço na vida da então adolescente quando fez o Ensino Médio na antiga Escola Técnica Federal (atualmente o Ifes). Nos anos 2000, Marcelle entrou na Ufes.

UFES

"O período na universidade foi ótimo. Além de estudar os tópicos que me fascinavam, comecei a fazer pesquisa (um projeto de iniciação científica, com bolsa do CNPq) e trabalhei também em programas de divulgação científica, com apoio do Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) voltados para estudantes e professores do Ensino Fundamental e Médio", conta.

Bacharel em Física pela Ufes, ela fez uma prova para o programa de pós-graduação em Astronomia na USP, em 2004. "Quando entrei no programa, eu já queria estudar Cosmologia* - tinha tido uma introdução ao tópico durante minha pesquisa de iniciação científica. À medida que fui aprendendo mais, tive oportunidade de mudar um pouco o foco para cosmologia observacional, usando dados de grandes levantamentos como o Dark Energy Survey (Pesquisa da Energia Escura)", explica.

USP

Doutora em Astrofísica pelo instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP, a capixaba se tornou professora universitária no departamento de Física da Brandeis University, nos EUA. De Boston, ela conversou com a equipe do Gazeta Online pela internet e contou quais são os objetivos da sua atual pesquisa, se enfrentou preconceito por ser mulher e negra em uma área dominada por homens, entre outros assuntos.

De maneira simples, o que a sua pesquisa representa para o mundo?

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Eu estudo a origem e evolução do nosso universo, usando telescópios que produzem imagens de milhões de galáxias distantes e capturam também explosões muito brilhantes e efêmeras, que ocorrem quando certos tipos de estrelas sofrem uma colisão

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Você já tem muitas conquistas profissionais. Quais são os seus projetos para o futuro?

Pretendo continuar nessa linha de pesquisa, fortalecendo meu grupo de pesquisa e formando uma nova geração de físicos e astrofísicos.

Você costumar vir a Vitória, tem familiares aqui?

Sim. Meus pais e minha irmã moram em Vitória. Visito sempre que posso.

Na infância você morou fora do Estado?

Morei dos 4 aos 14 anos na Serra dos Carajás, no Pará. Minha família voltou para Vitória, Jardim Camburi, nos anos 1990.

Astrofísica capixaba Marcelle Soares Santos. (Reprodução/Facebook)

Teve o incentivo dos seus pais para entrar nessa área?

Sim. Meus pais sempre apoiaram tanto a mim quanto meus irmãos em nossas trajetórias.

Muita gente deve fazer essa pergunta, mas não tem como a gente fugir. Física é um curso onde tradicionalmente predomina a presença de homens. Ainda é assim?

Sim.

Você enfrentou algum tipo de preconceito por ser mulher e negra nessa área?

Embora a falta de representatividade de certos grupos nas várias áreas de pesquisa acadêmica seja um problema sério e global, houve avanços nos últimos anos e com certeza minha experiência foi bem melhor do que a de professoras de uma ou duas gerações atrás.

O que você sugere aos jovens que desejam ter uma carreira parecida com a sua? Tem alguma aptidão que revele um gosto pela Física?

Acho que o mais importante é ter curiosidade a respeito dos processos que ocorrem na natureza. Se a pessoa cultiva essa curiosidade, o gosto pela Física é uma consequência direta.

Como você se interessou por sua área de atuação?

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A Física estava perto do meu coração antes que eu pudesse articular a palavra. Eu era uma criança muito curiosa, e quando cresci e comecei a estudar Matemática e Ciências, isso se tornou minha paixão. O fato de que eu era terrível em todas as formas de esporte na escola também poderia ter algo a ver com isso

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Eu era sempre a aluna mais lenta nas aulas de Educação Física, e nunca desenvolvi talento com a bola, mas se você me desse um problema de Matemática ou um quebra-cabeça, eu seria uma das primeiras a encontrar uma solução. O foco na Cosmologia, em particular, começou quando eu estava na faculdade. Houve um colóquio sobre esse assunto, e quando soube que 95% da matéria e da energia no universo são desconhecidas, eu sabia que esse era um enigma que eu tinha que ajudar a resolver.

Além de estudar o espaço, o que você gosta de fazer?

Gosto de ler histórias de ficção científica. É maravilhoso ver as leis da física serem temporariamente "suspensas" e embarcar em histórias tão imaginativas e fantásticas.

*Ramo da astronomia que estuda a estrutura e a evolução do universo em seu todo, preocupando-se tanto com a origem quanto com a evolução dele.

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