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Violência contra a mulher: só uma em cada 10 procura delegacia

Violência contra a mulher: só uma em cada 10 procura delegacia

Mais da metade das vítimas não contou a ninguém sobre as agressões que sofreu

Publicado em 28 de fevereiro de 2019 às 01:04

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Mais da metade das mulheres brasileiras vítimas de violência se calou após sofrer a agressão. Segundo pesquisa do Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 52% das vítimas não falaram sobre o caso nem mesmo para familiares ou amigos.

Mais alarmante ainda é o fato de que apenas uma em cada 10 procurou uma delegacia especializada. Para Cláudia Dematté, delegada-chefe da Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, os casos ainda são muito subnotificados, mas as denúncias crescem a cada ano. “A violência contra a mulher sempre existiu em nossa sociedade e é fruto dessa sociedade machista e patriarcal”, aponta.

Ela explica que, antes da Lei Maria da Penha, que é de 2006, o número de denúncias era menor ainda. “A maioria dos crimes contra a mulher era considerada de menor potencial ofensivo. Na delegacia, apenas se lavrava um termo circunstanciado e o agressor, na Justiça, só pagava uma cesta básica. Isso desencorajava muito”, lembra.

Com a lei, criou-se um mecanismo mais eficaz de proteção à mulher, segundo a delegada. Infelizmente, 12 anos depois, muitas ainda sofrem em silêncio.

Pelo contato frequente que tem com vítimas de violência, a professora da Ufes e procuradora de Justiça Catarina Cecin Gazele acredita que, no Estado, o quadro de subnotificação de queixas seja semelhante ao do país.

Catarina conta que já ouviu vários relatos de vítimas que, ao serem orientadas a procurar uma delegacia, optam por não fazer denúncia, mesmo quando informadas que vão ser acompanhadas e ter assistência.

MEDO

“Elas nos procuram só para contar, mas não querem denunciar. Muitas têm medo de delatar o agressor. E esse é um número lamentavelmente alto”, afirma a professora, que coordena na Ufes o projeto Direito pró-gênero. Ela estima que no Estado, para cada mulher agredida que denuncia, há uma que não apresenta queixa por medo.

A delegada Claudia Dematté sustenta que os motivos são diversos para não denunciar. “Muitas têm vergonha de serem julgadas pelos familiares e amigos. Há ainda as que não denunciam porque têm ligação afetiva com o agressor, ou têm filhos com ele, e não querem que sofram com a prisão do pai”, afirma.

A delegada pontua ainda os casos em que as vítimas são dependentes financeiramente do agressor, ou seja, são sustentadas por eles. “Tudo isso dificulta. Mas nossa orientação é de que elas não se calem, que denunciem na primeira violência sofrida”, diz.

Catarina Gazele também avalia que dependência econômica e falta de apoio familiar são fatores que inibem denúncias. “Ainda há mães que falam para as filhas agredidas: ‘volte para casa, faça uma janta gostosa e fique por lá’. A rede de apoio à mulher precisa ser permanentemente fortalecida.”

Outro ponto crítico, na avaliação da professora, é que a violência está tão naturalizada que muitas não reconhecem xingamentos, pressão psicológica e outros atos como agressão. “Elas não têm noção de que estão sendo vítimas e não denunciam”, conclui.

ONDE DENUNCIAR

Delegacias especializadas

Cariacica

(27) 3136-3118. BR 262, km 3, bairro Vera Cruz, Cariacica.

Serra

(27) 3328-7217

Rua Sebastião Rodrigues Miranda, 49, bairro Boa Vista II, Serra.

Viana

(27) 3255-1171

Avenida Levino Chacon, 149, Centro, Viana.

Vila Velha

(27) 3388-2481. Rua Luciano das Neves, 430, Prainha, Vila Velha.

Vitória

(27) 3137-9115. Av. Nossa Senhora da Penha, 2270, Santa Luzia, Vitória.

Plantão 24 horas

(27) 3323-4045. Rua Hermes Curry Carneiro, 350 - Ilha de Santa Maria, Vitória.

Interior

Também há delegacias especializadas em Aracruz, Cachoeiro de Itapemirim, Colatina, Guarapari, Linhares, Nova Venécia, São Mateus e Venda Nova do Imigrante.

Telefone

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Em caso de emergência, ligue 190. Também é possível acionar a Central de Atendimento à Mulher no número 180.

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