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Zona rural de Boa Esperança também sofre com assaltos

Zona rural de Boa Esperança também sofre com assaltos

Nos distritos, lavradores que usam moto são alvos de ladrões

Publicado em 3 de fevereiro de 2019 às 01:28

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Boa Esperança. (Marcelo Prest)

Na zona rural de Boa Esperança, os relatos sobre a insegurança não são diferentes. Os distritos mais distantes do centro da cidade possuem acessos fáceis e rápidos. O deslocamento entre as lavouras, quase sempre de café, é feito, na maioria das vezes, com motocicletas, alvos preferidos de ladrões.

No último dia 14, uma moto foi roubada nas proximidades de Patrimônio Quilômetro 20. Cerca de duas horas depois, a informação já estava na boca de grande parte dos moradores da cidade, sendo que até o prefeito já tinha sido avisado sobre o roubo. A Polícia Militar foi acionada e conseguiu recuperar o veículo e deter um dos dois assaltantes.

Já para a manicure Ana Paula Ferreira, 25 anos, o medo começa no ponto de táxi do distrito. “Passa uma moto e eu já fico aflita, pensando: ‘é agora que vou ser assaltada’. Se você não foi assalto, conhece alguém que foi”, contou a jovem, que não sai mais de casa no período da noite.

E nem a estrutura da torre de transmissão de uma rádio local escapou. No distrito de Santo Antônio, fica a torre e, ao lado dela, uma casinha que serve de abrigo para o transmissor da rádio. “O local foi arrombado e levaram um extintor de incêndio e o controle do ar-condicionado. Por sorte, nada foi danificado e, por isso, não prejudicou a transmissão”, contou o locutor Paulo Aguiar, 39 anos. A porta foi trocada e os cadeados reforçados.

No distrito de Sobradinho, a dona de casa Ana Paula Lima Santos, 38 anos, aguardava dentro da casa da irmã pelo ônibus para ir à cidade. Ela segurava, aflita, a bolsa. “Não tem mais lugar seguro. Apesar do celular ser um telefone móvel, eu só uso o meu fora de casa em situações extremas, pois sei que é alvo para um ladrão”, diz a dona de casa.

Ao percorrer o distrito, simples e com pouquíssimas pessoas na rua, a equipe de reportagem flagrou cenas de venda de drogas em dois pontos, em plena luz do dia, às 11 horas. Sobre o assunto, os moradores abordados preferiram o silêncio. O tempo que a reportagem esteve no local, nenhuma viatura policial esteve na região.

O comerciante Jhonatan de Oliveira, 31, passa o dia trabalhando em uma sala sem circulação de ar. Ripas de madeira foram pregadas na janela para reforçar a segurança do local após três casos de arrombamentos em 2018. "Até as grades eles conseguiram tirar. Agora tem que ficar assim.". (Marcelo Prest)

Janelas fechadas no verão e cães de guarda

Os cães têm sido aliados do agricultor Célio José Simoneti, 54 anos, e o pai dele, o aposentado Nilton Simoneti, 86, na tentativa de manter a segurança da casa onde eles residem com a família, na zona rural de Boa Esperança .

Quem pisa na propriedade é recepcionado por dois labradores. “Eles são os nossos guardiões. Quando chega qualquer pessoa, o latido já avisa quem está dentro da casa que tem gente do lado de fora”, disse o aposentado.

A janela, que ficava aberta nos dias de calor da cidade, é um “luxo” que a família não tem mais. E até a lavoura saiu prejudicada. ”Mudamos até o horário da irrigação, que era à noite. Tínhamos que sair para ligar e cuidar, mas agora paramos para evitar sair de casa nesse horário, pois se tornou perigoso ir para à roça”, contou Célio.

Nenhum integrante da família foi vítima de assaltos, mas todos percebem que a violência se aproxima. “Já roubaram moto do rapaz que trabalha para gente. Já assaltaram nossos vizinhos. Não é tão simples assim lidar com isso quando a sua ajuda mais próxima é um vizinho em outra propriedade. Fica a aflição”, resume Célio.

"Um motoqueiro diferente por essas bandas ou que entra com capacete já chama atenção", contou o comerciante José Carlos Rosa Ferreira, 45. Em um dos roubos que o supermercado dele sofreu, os ladrões levaram as câmeras de videomonitoramento. (Marcelo Prest)

SEM ESTRUTURA, POLÍCIA TRABALHA NO IMPROVISO

A deficiência nos recursos das polícias Civil e Militar é algo que parece preocupar os moradores e também as autoridades de Boa Esperança. Um exemplo é o prédio da delegacia da Polícia Civil, que mesmo interditado continua funcionando normalmente.

O imóvel apresenta problemas estruturais. As rachaduras estão logo na entrada da delegacia. Na recepção, um amontoado de caixas de ar-condicionado divide espaço com uma pequena bancada e cadeiras de espera. Um ventilador turbo tentar sanar o calor escaldante que faz na cidade.

03/02/2019 - Prédio onde funciona a Delegacia de Boa Esperança está interditado. (Marcelo Prest)

No local, dois policiais civis atendem os moradores, recebem ocorrências da PM e tentam fazer investigações. O delegado que responde pela delegacia é da cidade vizinha, Pinheiros. E apesar das dificuldades, os policiais já conseguiram identificar três duplas de assaltantes que agem na região.

E se a estrutura da Polícia Civil é precária, a falta de efetivo da Polícia Militar também deixa a população em alerta. “Hoje, temos 16 policiais lotados, mas somente três estão aqui, pois em dezembro e janeiro, a Operação Verão reforça o policiamento nas praias”, apontou o vereador Jocemar Xavier.

O prefeito de Boa Esperança, Lauro Vieira, também chamou a atenção para o efetivo policial reduzido em um ofício que enviou para Secretaria de Segurança Pública (Sesp).

“Confiamos no trabalho da polícia, por isso mesmo queremos que ela fique ainda mais próxima da população, para que possamos trabalhar em conjunto e conter essa onda de violência em Boa Esperança. O ofício foi para que o Secretário de Segurança Pública tomasse alguma atitude e, assim, a população tenha tranquilidade”, observou Vieira.

A reportagem solicitou entrevista com o delegado, porém, a resposta veio por nota da Polícia Civil, informando que a corporação trabalha para garantir todos os serviços em funcionamento à população e que investiga todos os casos formalizados nas delegacias.

A Polícia Civil também orienta que as vítimas de delitos registrem a ocorrência em qualquer delegacia, munidas de todo material que comprove o crime e que auxilie no trabalho de investigação.

Procurado, o prefeito Lauro Vieira garantiu que até o final do verão um novo prédio será disponibilizado para a delegacia.

Já a Sesp informou, também por nota, que uma unidade padrão está sendo planejada e deve entrar em uma análise orçamentária. Sobre o efetivo, a secretaria acrescentou que há um concurso público em andamento e que outro 300 policiais foram nomeados na última gestão.

"Confiamos no trabalho da polícia, por isso queremos que ela fique ainda mais próxima da população, para conter essa onda de violência" Lauro Vieira,Prefeito de Boa Esperança. (Marcelo Prest)

PM garante reforço no efetivo para diminuir crimes

O comandante do 2º Batalhão da Polícia Militar, Tenente Coronel Mário Marcelo Dal Col, afirmou que as ocorrências de janeiro vão ser analisadas uma a uma para que seja traçado um plano de ação conjunta com Polícia Civil, Prefeitura, Justiça e o Ministério Público.

“Vamos analisar cada crime. A meta é devolver a normalidade até o final de fevereiro”, pontuou o tenente-coronel Dal Col, que assumiu o comando da batalhão na última terça-feira.

Ainda se inteirando da situação dos nove municípios atendidos pelo batalhão, o comandante respondeu os questionamentos sobre o efetivo. “Não houve redução no número de policiais de serviço, o contingente continua o mesmo. Mas vamos buscar aumentar o número de policiais de serviço”, prometeu. Porém, o comandante não quis informar o número de policiais que seriam deslocados para Boa Esperança.

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Segundo a PM, o número de roubos registrados por vítimas em janeiro passou de 12 em 2018 para 13 em 2019. Já os casos de furtos passaram de 3 para 14. “Sabemos que a sensação de insegurança é o que preocupa. Vamos trabalhar para que até o final do mês de fevereiro os números baixem. Porém mais que isso, trabalharemos para que a população de Boa Esperança tenha tranquilidade e que retorne à normalidade”, afirmou o comandante.

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