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Acusado de matar dono de jornal vai a júri após 35 anos do crime

Acusado de matar dono de jornal vai a júri após 35 anos do crime

Moacir Rodrigues teria cometido o crime, em maio de 1984, com policial que foi morto

Publicado em 11 de março de 2019 às 00:48

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Notícias sobre o crime. Acusado de matar dono de jornal vai a júri após 35 anos do crime. . ( Arquivo / AG)

Faltando menos de um mês para o crime prescrever, Moacir Rodrigues de Souza senta no banco dos réus como o assassino do diretor e proprietário do jornal Povão, José Roberto Jeveaux. O julgamento ocorre quase 35 anos após o crime, que aconteceu na fase final da ditadura militar, em maio de 1984. Ele também responderá pela tentativa de assassinato do vigia do jornal, Valdevino Conceição de Jesus.

Outro acusado pelos crimes, junto com Moacir, foi o policial Levyr Sarmento Filho. Ele se entregou a polícia alguns meses após a execução do jornalista, mas acabou sendo morto em fevereiro de 1985. Na época os indícios eram de que tinha ocorrido "queima de arquivo".

De acordo com a denúncia do Ministério Público Estadual, oferecida 20 anos após o crime, a motivação para o assassinato do jornalista seriam as matérias por ele publicadas. "O jornal incomodava muita gente de expressão no Estado, denunciando vários desmandos, arbitrariedades, abuso de autoridades, abuso de poder e tantas outras barbaridades que se implantara, naquela oportunidade, nesta terra, sendo o seu dono condenado a morrer e o seu jornal a sair de circulação", destaca o texto.

Foi relatado ainda na denúncia que se tratava de um "crime de mando", mas que as investigações, durante os 20 anos em que o inquérito policial levou para ser concluído, não conseguiu apontar os nomes dos mandantes. "Claro está que o crime, em tese, fora praticado a mando, mas por quem? Só Deus sabe, eis que, em nenhum momento as investigações embrionárias foram direcionadas para esta linha de raciocínio", diz o texto.

Foi deixado claro ainda que tudo indicava que o interesse era o de que o processo caminhasse para não ir a julgamento. "Existiu sim, interesse de que esse aglomerado de papel (inquérito) caminhasse a passos largos para atingir o lapso prescricional, o que está prestes a ocorrer", destaca a denúncia do MPES, oferecida em 11 de maio de 2004.

SUMIÇO

O corpo de Jeveaux nunca foi localizado. A última vez em que ele foi visto foi em sua casa, na noite do dia 20 de maio de 1984, localizada em Barro Vermelho, Vitória. Pouco antes de sair para um evento, seu filho de 14 anos o deixou em casa, na companhia de duas pessoas que foram acusadas de executá-lo: Moacir e o policial Levyr. Os dois teriam ido com o jornalista a um bar nas proximidades, onde beberam. Na volta, o mataram. Tudo o que restou na casa foi um rastro de sangue indo em direção à saída, que mais tarde foi comprovado pela polícia ser de Jeveaux.

Segundo a denúncia do MPE, Levyr e Moacir colocaram o corpo de Jeveaux no bagageiro do seu carro, um Voyage com placa de táxi, e o levaram para a sede do jornal, no Centro de Vitória. "Para lá terminar o serviço, aonde colocariam fogo, criminosamente, nas instalações e maquinários do referido jornal".

Quando chegaram no local se depararam com o vigia Valdevino, contra quem atiraram. Cinco tiros o atingiram e ele ficou caído no chão. Dado como morto, ele assistiu as tentativas de Moacir e Levyr de atearem fogo no jornal, sem sucesso. Lá ele foi abandonado. Os executores fugiram levando o corpo de Jeveaux no bagageiro. Nunca se descobriu o que com ele foi feito.

Moacir foi pronunciado - decisão que o encaminha para ser julgado por um Tribunal do Júri (Júri Popular) - em maio de 2017. Na ocasião foi mantido o seu mandado de prisão. Ele acabou sendo detido em novembro daquele ano e desde então permanece preso. Ele recorreu contra a decisão, que acabou sendo confirmada pelo Tribunal de Justiça do Estado. Assim, às 13 horas de hoje ele sentará no banco dos reús no Fórum Criminal de Vitória.

ANIVERSÁRIO DO RÉU GARANTIRIA A PRESCRIÇÃO DO CRIME

No próximo dia 9 de abril, o acusado Moacir Rodrigues de Souza completará 70 anos. Com a data ele receberia o benefício da prescrição do crime de homicídio e tentativa de homicídio por ele cometido, segundo denúncia apresentada pelo Ministério Público Estadual.

De acordo com o advogado do réu Frederico Vilela Vicentini, em uma situação normal, o crime prescreve se não for oferecida uma denúncia em 20 anos. Neste caso, o crime ocorreu em 20 de maio de 1984 e a denúncia foi oferecida em 11 de maio de 2004, quase 20 anos depois, e dentro do prazo. Porém, quando o réu completa 70 anos, o prazo de prescrição cai pela metade, ou seja, a denúncia teria que ter sido apresentada dez anos antes. Isso faria com que Moacir não fosse a julgamento.

Mas para evitar que isso ocorresse no próximo dia 9, aniversário do réu, o juiz da 1ª Vara Criminal de Vitória, Marcos Pereira Sanches, marcou o julgamento para hoje, como explicou o advogado do réu, Frederico. "Para evitar a hipótese de injustiça", observou.

O advogado está confiante com o julgamento. "Vamos trazer a versão dele, mostrar os pontos que Moacir acreditar serem verdadeiros. Ele afirma ser inocente", destacou, sem revelar os argumentos que irá apresentar. Ele conta que Moacir trabalhava com esquadrias de alumínio e que chegou a prestar serviços para o jornalista José Roberto Jeveaux. "Ele fazia serviços para o jornal e o jornalista apresentava a ele muitos clientes", relatou, acrescentando que Moacir não conhecia Levyr, seu suposto comparsa.

O CASO

CRIME

Na noite do dia 20 de maio de 1984, o jornalista José Roberto Jeveaux, proprietário do jornal Povão foi assassinado dentro de sua casa, no Barro Vermelho, em Vitória.

JORNAL

Seu corpo, segundo denúncia do Ministério Público Estadual, foi levado no bagageiro de um carro até a sede do jornal, no Centro de Vitória. Lá seria provocado um incêndio para destruir o jornal e o corpo.

VIGIA

Os assassinos foram surpreendidos pelo vigia Valdevino Conceição de Jesus, contra quem deram cinco tiros. Ele testemunhou as tentativas mal sucedidas de incêndio e foi abandonado no local como morto.

RÉUS

Foram acusados pelo assassinato do jornalista e a tentativa de morte do vigia, Moacir Rodrigues de Souza e o policial Levi Sarmento Filho. O último acabou sendo morto em fevereiro de 1985. Assim, somente Moacir será julgado.

CORPO

O corpo do jornalista Jeveaux nunca foi encontrado. Não se sabe o que com ele foi feito.

DENÚNCIA

No dia 11 de maio de 2004 o Ministério Público Estadual ofereceu denúncia contra Moacir pelos crimes de homicídio e tentativa de homicídio.

PRONÚNCIA

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Em 18 de maio de 2017 ocorreu a pronúncia de Moacir - a decisão judicial

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