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Ativista alerta: 'A sentença é preta e o direito é branco'

Ativista alerta: "A sentença é preta e o direito é branco"

À frente da organização Das Pretas, Priscila Gama chama atenção para o racismo feminino

Publicado em 13 de março de 2019 às 01:20

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Plateia do auditório da Rede Gazeta, em Vitória, que ficou lotado . (Monica Zorzanelli)

Em uma sociedade machista e patriarcal, ser mulher já é difícil. Mas ser mulher e negra é ainda mais desafiador. A presidente da organização capixaba Das Pretas, Priscila Gama, é enfática: “As mulheres negras são invisíveis, suas dores são invisíveis. As negras falam sobre suas vidas e não são vistas, mas as brancas que falam das negras são ouvidas.”

De acordo com Priscila, o Das Pretas surgiu diante de dados alarmantes de negras assassinadas apenas por serem do sexo feminino em Vitória. “Os índices no geral até diminuíram, mas a diferença entre o feminicídio preto é de 71%. Ainda há casos de mulheres negras que não se reconhecem como negras. Dessa forma, o número pode ser ainda maior”, comentou.

Há cinco anos no cenário capixaba, o Das Pretas precisou criar uma metodologia de autofinanciamento porque nenhuma empresa privada se tornou parceira institucional do grupo até o momento. “Estamos falando de um espaço que a sentença é preta e o direito é branco”, destacou Priscila. Ao todo, as ações do movimento já atingiram cerca de duas mil mulheres.

Para lidar com a realidade de preconceito contra a mulher e com o racismo, Priscila disse que o instituto usa o termo “ubuntu” que, segundo ela, significa “nós por nós”. “Essa expressão não fala de você por mim, nem de eu por você. É como a história da sororidade. Significa respeitar o outro e as escolhas do outro. Por um tempo a gente passou a respeitar só quem pensa como nós. Avançamos muito nesse sentido.”

VIOLÊNCIA

Priscila compartilhou que teve o corpo assediado a vida inteira. “Sou filha de um homem preto com uma mulher branca. Dizem que eu sou morena, me colocam nesse lugar para me fazer entender que eu não sou tão preta assim”, comentou, acrescentando que hoje, aos 37 anos, se sente digna e plena.

Além dos assédios praticados pelos homens, Priscila alertou ainda que mulheres brancas também assediam as negras. “Elas nos tocam. Isso nos agride, nos fere. Nosso corpo precisa ser respeitado.”

Depois de levantar a discussão sobre os desafios da mulher negra, Priscila faz um único pedido: “Nos enxerguem. Compartilhem a luta conosco. O feminismo não é só de vocês.”

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