Um jogo de empurra está deixando 154 pacientes sem diagnóstico para chikungunya. Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), desde agosto do ano passado o Ministério da Saúde não faz a distribuição dos kits de ensaio para análise do vírus que causa a doença. Já o ministério afirma que o Estado não solicitou esse material.
Apesar de os materiais não chegarem ao Estado desde agosto, os exames só pararam de ser feitos em outubro, porque a Sesa tinha estoque de material. Desde então, pacientes que buscam as unidades de saúde públicas para fazer os testes estão tendo que aguardar o resultado, que não chega.
A secretaria diz que a situação deve ser normalizada até o final do ano. Já o Ministério da Saúde não deu um prazo para a normalização do caso, explicando apenas que os Estados têm até o dia 25 do mês corrente para solicitarem os insumos necessários para rotina.
Enquanto União e Sesa não se entendem, os pedidos de teste se acumulam e quem sofre é a população. A técnica em geoprocessamento Aline dos Santos Toraes, 32, teve o material coletado para exame justamente em outubro e, como os outros pacientes, ainda não sabe se teve chikungunya, já que o resultado não está pronto.
Ainda com dores, Aline relata que fez várias visitas à policlínica de Planto Serrano, na Serra, onde mora, à procura de respostas. Mas, em todas as vezes, ouviu apenas que o resultado não tinha ficado pronto e que só após isso poderia ser encaminhada a um especialista.
A Sesa e o Ministério da Saúde afirmam que o exame, na prática, serve apenas para estatística e a pendência do resultado não atrasa ou inviabiliza o tratamento.
A infectologista Rubia Miossi explica o porquê disso. Tratamos apenas os sintomas, como fazemos na dengue, por exemplo. Para que o paciente seja encaminhado para um especialista basta uma suspeita clínica. Como não existe um tratamento específico, o exame tem função apenas epidemiológica, ou seja, para contarmos quantos casos aconteceram, afirma.
Vale explicar que a chikungunya é uma doença cujo vírus é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, o mesmo da dengue. O vírus causa, entre outros sintomas, dores nas articulações. O tratamento, em geral, deve ser feito por um reumatologista.
Foram essas dores, aliás, que comprometeram a rotina de Aline que, por meses, deixou de fazer movimentos simples como pisar no chão, ao levantar da cama. E, enquanto sentia fortes dores, ela lembra, o único medicamento prescrito para ela era paracetamol.
Rubia explica que o medicamento prescrito depende do nível de dor do paciente. Durante os 30 dias de observação usamos medicamentos para dor como dipirona, paracetamol, antinflamatórios e até corticoide, lista.
Ela alerta que, pelo protocolo estipulado pelos órgãos de saúde, o paciente, quando dá entrada no posto com sintomas de chikungunya, requer acompanhamento e notificação à Sesa. Também é fundamental colher o material para o exame.
Se em 30 dias o paciente permanece com dores nas articulações deve ser encaminhada ao reumatologista. Enquanto isso, usamos tratamentos para aliviar os sintomas, conforme o nível de dor do paciente, explica.
O vírus causa, entre outros sintomas, dores nas articulações. O encaminhamento para um reumatoligista é importante, segundo a doutora Rubia, para que sejam descartadas doenças parecidas, que também causam dores nas articulações.
OUTRO LADO
Remédio para dor
Sobre os relatos da paciente Aline dos Santos Toraes, a Prefeitura da Serra afirmou que, em uma consulta que aconteceu em agosto do ano passado, além do paracetamol, foi receitado também deocil, que é para dor aguda. Em nota, a prefeitura disse que os sintomas de chikungunya são tratados com remédios para febre e dor, conforme aponta o Ministério da Saúde. Sobre o encaminhamento ao reumatologista, a prefeitura não respondeu.
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