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'Com postura firme, podemos deixar os homens quietos no canto deles'

"Com postura firme, podemos deixar os homens quietos no canto deles"

Psicóloga, atriz, apresentadora e ativista social, a ex-integrante do Casseta&Planeta Maria Paula participa, em Vitória, de uma roda de conversa sobre o papel da mulher

Publicado em 10 de março de 2019 às 00:11

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Maria Paula vem à Vitória para uma roda de conversa. (Divulgação)

A força, as mil e uma competências, a capacidade de se reinventar, o equilíbrio entre a razão e a emoção e, principalmente, o respeito e a luta contra a violência, são alguns dos temas que norteiam o dia a dia das mulheres. E elas sabem: para encarar as exigências do cotidiano é necessário ter versatilidade e, também, empatia para se unir em prol do combate ao feminicídio.

Em alusão ao Dia Internacional da Mulher, celebrado na última sexta-feira, a Rede Gazeta promove, na próxima terça, uma Roda de Conversa. Em parceria com a Casa do Saber Rio, três coletivos femininos irão discutir o papel da mulher, a promoção do empoderamento e a necessidade de união contra o preconceito e o feminicídio – assunto que se tornou prioritário na agenda do país frente à escalada de violência que tem tomado conta do noticiário.

A mediadora do evento será a atriz, apresentadora, escritora, humorista e, também, ativista Maria Paula Fidalgo. “Uma eterna mutante”, como ela mesma se define, a ex-integrante do grupo Casseta&Planeta diz que hoje vive a vida na tentativa de sorrir sempre, mas com o intuito de multiplicar sorrisos e praticar a cultura da paz.

Junto dela estarão, na Roda de Conversa, Juliana de Faria, jornalista e fundadora da ONG Think Olga; Aisha Jacob, cofundadora do Coletivo Não é Não; e Priscila Gama, presidente da ONG das Pretas.

Antes, as mulheres viviam sob o esteriótipo de que tinham que ouvir cantadas e ficar caladas sobre o machismo. Hoje, as meninas estão com muito mais atitudes para enfrentar esse mal. O que você pode falar para fortalecer essa geração e todas as mulheres?

Eu, sinceramente, não dou atenção ao machismo. Quando ouço alguma gracinha, sigo meu caminho e não estou nem aí, finjo que não é comigo. Aliás nunca dei atenção para esse tipo de comentários, sou feminista nata e sempre fui livre e fiz o que quis. Nunca deixei ninguém me dizer o que era para ser feito e de que forma era pra fazer.

Um exemplo maravilhoso que tenho é que passei 17 anos trabalhando com sete homens brilhantes, durante o Casseta&Planeta, e nunca tivemos um problema de machismo e preconceito. Por que eu fui lá, com humildade e muito trabalho, e conquistei meu espaço.

Meu conselho para as meninas e para todas as mulheres é chegar chegando. Faz o seu caminho e não deixa ninguém dizer como a banda toca. É você que tem a rédea do seu destino. Vai com tudo e não dá espaço para o machismo ou qualquer tipo de preconceito. Agindo assim, com postura firme e atitudes fortes e do bem, esses caras acabam tendo que ficar quietos no canto deles.

Sobre essa experiência no Casseta&Planeta, o que ficou de aprendizado para você?

Nossa, só tenho as melhores recordações dessa época junto com aqueles caras inteligentes e maravilhosos. Foi uma grande alegria na minha vida trabalhar e conviver com eles. Aprendi muito e a troca foi recíproca.

A relação era tão intensa e verdadeira que viramos uma família, e até hoje a gente se vê e tenta sempre manter contato. Eu acabei de passar o carnaval com o Cláudio Manoel, que tenho maior carinho e admiração.

E o que posso falar desses 17 anos que trabalhamos e convivemos, quase diariamente, era que o respeito imperava. A gente se ouvia e se completava, e eu era mais uma integrante do grupo, sem diferença, o que tornou a relação muito melhor e forte.

Qual sua opinião sobre o extremismo, seja em qualquer área, até mesmo no feminismo? A impressão que se tem é de que as pessoas têm se tornado mais intolerantes...

Eu sou uma mulher da conciliação, da suavidade, da alegria. Não quero saber de extremismo. Sou aquela pessoa que caminha no meio. E como não sou juíza, não vou julgar ninguém. Cada um faz o que quer da vida, só que tem que arcar com as consequências.

O importante para mim é prestar atenção às próprias atitudes, o melhor é agir e viver sempre com respeito consigo mesmo e com as pessoas. Eu vivo o lema que quando estamos sendo sinceros e honestos em tudo, fica mais fácil para alcançar os propósitos e tudo dá certo no final.

Sobre a celebração do Dia da Mulher. Qual sua opinião em ter um dia específico para essa homenagem?

Acho maravilhoso ter um dia internacionalmente dedicado à comemoração da mulher e do que o feminino representa no planeta. A mulher traz uma qualidade diferenciada nas relações, uma qualidade que tem ligação com cuidado, com delicadeza. E ainda trazemos esse sentimento da maternidade, que sempre vai pensar no outro. A mulher é um ser especial demais.
Por isso, eu sou a favor de todas as homenagens, de todas as discussões em prol dos nossos direitos e de que todas as mulheres sem unam pela busca da felicidade, do amor e da paz.

Como você se define hoje? Ativista? E qual a importância desse trabalho de atuar em busca da paz em todos os lugares e níveis sociais?

Não consigo me definir, sou mutante, cada hora estou de um jeito. Uma coisa é certa: ao invés de excluir, eu incluo coisas, sou muito inclusiva. Pela minha história dá para perceber. Comecei com 16 anos fazendo faculdade de Psicologia, depois fui VJ, aí já fui para Globo, depois me tornei apresentadora de programas de música e de adolescentes. E logo depois já entrei no Casseta&Planeta, me tornei atriz e continuei estudando, tanto que me interessei pela medicina chinesa e, com isso, vou acumulando funções e conhecimentos.

Quando o ativismo entrou na minha vida, quando recebi o título de embaixadora da paz, foi a cereja do bolo. Eu consegui usar meus recursos e a credibilidade da minha imagem para discutir os temas mais urgentes e necessários. E não nada mais urgente que falar da paz.
As pessoas inteligentes e brilhantes estão ficando muito agressivas. Hoje, não se pode pensar diferente, por isso, a importância de suavizar e respeitar as diferenças. Por isso, vou seguir propagando a cultura da paz para todos.

Para você, humor e inteligência são obrigatórias nas relações?

Gente, o humor é fundamental. Eu não dou nem bom dia se perceber que a pessoa não tem senso de humor. As pessoas deviam trazer o humor para tudo, principalmente, para dar força nas horas difíceis.
Com humor, a gente consegue ser mais leve. Dar risada alivia as tensões, isso é fato. O que precisamos nos dias atuais é olhar mais para o outro, alargar os canais de comunicação, fazer pontes, ao invés de queimar navios. E para isso é essencial ter leveza, humor e sabedoria.

Eu uso o humor em todas as minhas relações e não importa com quem. Acredito na força do bem que é poder fazer as pessoas sorrirem.

No início dos anos 2000 você sofreu um aborto espontâneo. O que ficou de ensinamento após esse episódio?

Fiquei muito deprimida, foi um período bem difícil. Não queria sair de casa e nem falar com ninguém. Eu sempre quis ser mãe. Mas, hoje sei o quanto fui forte para conseguir mudar aquele cenário e correr atrás dos meus sonhos.

E hoje vejo que sou a mulher mais feliz e realizada do mundo. Graças a Deus, a maternidade veio para minha vida e tenho a Maria Luíza, com 14 anos e o Felipe, com 10 anos. Ser mãe é a melhor de todas as experiências, nada se compara a alegria e ao amor que a gente sente pelos filhos.

Como você lida com as mudanças físicas e psicológicas que toda mulher vai passar?

Eu lido muito bem com as transições do meu corpo e da minha mente. Sou uma mulher bem desencanada e feliz, e que acredita que a beleza realmente vem do interior, de dentro de cada pessoa. E quando conseguimos aceitar isso, de forma leve e tranquila, inundamos qualquer ambiente com vibrações positivas. O dia fica muito mais fácil de levar.

Hoje tenho certeza que os estereótipos não querem dizer nada, muito menos a idade. Vou sempre me preocupar com o bem estar em relação à saúde, mas sem neuras e sem seguir padrões.
Sou feliz e me aceito do jeito que sou. E quero que minha alegria possa trazer beleza e harmonia em qualquer ambiente que vier a circular.

Dia após dia não param de surgir notícias de casos de agressão a mulheres, os números de feminicídio parecem em uma crescente. É possível ter esperança em dias melhores?

Só posso dizer para todas as mulheres que chegou a nossa vez, podem ir com tudo, sem ter medo de nada. Faça o que você quiser, acredite em você. Afinal, a gente tem muita força e está em nossas mãos o futuro, é a gente que cria o nosso destino.

Assim como é muito importante essa união em torno dos temas que nos afligem e as reflexões que devemos nos envolver para mudar a realidade negativa, com os números de violência contra as mulheres.
Mas, como dica simples e que vale muito no dia a dia, indico prestar mais atenção nas escolhas dos nossos hábitos. Não faça nada que puxe para baixo, busque só coisas positivas. Faça caminhadas, vá nadar, fazer meditação, faça silêncio, faça amor. Conviva mais tempo com as pessoas que você gosta. Faça festa, cante e dance para espantar os males.

Com isso, é possível atrair as oportunidades mais bonitas e deixar um legado bacana, ser uma influência boa e causar um impacto positivo em qualquer ambiente. Use suas chances de ser feliz!

Serviço:

Evento: Roda de Conversa - Dia da Mulher

Quando: Terça-feira, 12/03

Local: Auditório da Rede Gazeta - Rua Chafic Murad, 902, Monte Belo, Vitória - ES

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Horário: 9h às 12h

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