O relato da filha de seis anos mudou a segunda-feira (18) de uma dona de casa, de 28 anos, em Cariacica, Região Metropolitana de Vitória. Pouco antes de a criança ir para a escola, a capixaba se deparou com uma conversa que a surpreendeu. Amedrontada, a menina falou que a "Momo" estava ensinando a pegar a faca ou qualquer outro objeto cortante para cortar os pulsos, a barriga e o pescoço.
Momo é uma personagem criada a partir de uma escultura de um artista plástico japonês, que possui olhos esbugalhados, pele pálida e sorriso sinistro. Ela ficou conhecida depois que um vídeo chamado Desafio Momo, que envolvia roubo de informações pessoais, incitação ao suicídio e extorsão, viralizou na internet no ano passado.
Nesta segunda-feira, foi noticiado que a imagem estaria aparecendo no meio de vídeos do Youtube que são voltados para o público infantil. Quando aparece, ensina crianças o passo a passo para o suicídio.
"Ontem (domingo) eu tinha notado que minha filha estava mais tristinha, calada. Aí hoje, eu estava no banheiro, ela chegou e me perguntou se poderia conversar com o espelho. Eu expliquei que a gente deve usar o espelho para se olhar e não para ficar conversando. Então ela disse que precisava de uma faca para cortar o pulso, pescoço e barriga, porque a Momo tinha falado isso em um vídeo. E se ela não fizesse a Mono viria durante à noite e faria isso com ela", conta.
O relato da criança ligou o alerta na mãe, que nunca havia ouvido falar sobre a Momo. Depois disso, ela começou a pesquisar na internet e se assustou com o que viu.
"Ela ficava vendo vídeos no celular, ou na televisão no quarto dela, mas nunca pensei que pudesse ser desse tipo. A partir de agora vou fiscalizar tudo. Estou tão assustada que desde que ela me disse isso não consegui nem mais lavar um copo dentro de casa. Estou na internet pesquisando o tempo todo".
OUTROS RELATOS
O assunto foi tema de uma reportagem da Revista Crescer, publicada na última sexta-feira (15). De acordo com a revista, mesmo no YouTube Kids - versão do aplicativo própria para crianças - é possível se deparar com a presença da Momo. A reportagem traz também o depoimentos dos pais de uma menina de 8 anos que, após ver a personagem assustadora no meio de um vídeo sobre slime, ficou completamente amedrontada. Mesmo com filtro nos vídeos e tendo acesso apenas ao YouTube Kids, a menina já havia visto a Momo três vezes.
O QUE FAZER? ESPECIALISTA EXPLICA
Para Roberta Pereira Vallory, psicóloga especialista na infância e adolescência, é fundamental que os pais estejam atentos aos perigos que surgem no mundo virtual. A orientação número um é: jamais confiar em filtros ou bloqueios, e sempre supervisionar o uso do celular e da internet por parte das crianças.
"A gente consegue preservar as crianças desse tipo de risco orientando e supervisionando o que a criança tem visto. Dependendo da idade, orientar mesmo, falar, não dar detalhes para não aguçar a curiosidade, mas explicar o risco, o perigo. O mais importante: não entregar o celular na mão da criança e achar que ela está protegida porque está dentro de casa. Muitas coisas acontecem no mundo virtual. É ter cuidado, orientar, conversar, estar ao lado quando tiver vendo algum vídeo. 'Que vídeo é esse, deixa eu ver com você'. É você estar ao lado, conhecer seu filho, saber do que ele gosta, explicar os riscos. Você não vai proibir, mas vai supervisionar", explica a psicóloga.
Vale, inclusive, explicar as crianças que há uma pessoa por trás da Momo, alguém que utiliza o personagem para influenciar crianças e adolescentes a cometerem atitudes ruins. Seu filho já viu? Mudou de comportamento depois disso? É bom buscar ajuda profissional.
"Explicar que há uma pessoa por trás da Momo. As pessoas estão usando disso para poder instruir crianças para o mal. Para atingir crianças e adolescentes para ter certo tipo de comportamento. Tem que explicar, estar atento, mostrar que há um incentivo de alguém, por trás da Momo, para incentivar a fazer coisas ruins contra a própria vida. Explicar abertamente para a criança. Se a criança está traumatizada, com mudanças bruscas de comportamento, o ideal é os pais procurarem uma ajuda psicológica para avaliar qual nível do trauma e reduzir toda a ansiedade", conclui.
O QUE DIZ O YOUTUBE
Procurado pela revista Crescer, o YouTube se manifestou por uma carta, em que conta a história da aparição do boneco e nega a existência de novos vídeos da momo no aplicativo.
"Muitos de vocês compartilharam suas preocupações conosco nos últimos dias sobre o Desafio Momo - prestamos muita atenção nisso. Depois de muita análise, não vimos nenhuma evidência recente de vídeos promovendo o Desafio Momo no YouTube. Vídeos incentivando desafios prejudiciais e perigosos são claramente contra nossas políticas, incluindo o desafio Momo. Apesar dos relatos da imprensa sobre esse desafio, não tivemos links recentes sinalizados ou compartilhados conosco do YouTube que violem nossas Diretrizes da comunidade.
É importante notar que permitimos que os criadores discutam, denunciem ou instruam as pessoas sobre o desafio / personagem Momo no YouTube. Vimos capturas de tela de vídeos e / ou miniaturas com eles [...] Essa imagem não é permitida na aplicação YouTube Kids e disponibilizamos garantias para a excluir do conteúdo no YouTube Kids."
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta