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ES: a cada três horas, um professor pede licença por problema psicológicos

ES: a cada três horas, um professor pede licença por problema psicológicos

Ansiedade e depressão estão entre os motivos de afastamento

Publicado em 17 de março de 2019 às 22:55

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Sedu concedeu 2.425 licenças para professores em 2018. (Divulgação)

A cada três horas um professor da rede estadual de ensino tira licença do trabalho por problemas psicológicos ou psiquiátricos, como transtorno de ansiedade e depressão, por exemplo. Ao todo, a Secretaria de Estado da Educação (Sedu) concedeu 2.425 licenças no ano passado para 1.159 profissionais da educação, sendo 628 efetivos e 530 temporários.

Do total de profissionais, uma parcela significativa pediu licença mais de uma vez: foram 567 educadores que não conseguiram permanecer na sala de aula. Há quem ficou apenas um dia afastado, mas também houve períodos mais longos como um caso de afastamento que durou 304 dias, ou seja, nove meses. O auxílio doença foi dado a 93 professores. O número foi obtido por meio da Lei de Acesso à Informação.

A professora efetiva de ensino fundamental Fernanda Emilia Bermudes, de 49 anos, trabalha há cerca de 30 anos na área da educação. Desde 2013 ela já teve de tirar diversas licenças, as cinco últimas foram em 2018 e somaram ao todo cinco meses de afastamento. Os motivos foram ansiedade, depressão e síndrome do pânico.

O último episódio que motivou a saída da professora foi ver uma mãe de aluno fazendo escândalo com uma professora e coordenadora de um colégio no qual trabalhava. Atualmente, a licença chegou ao fim e ela precisou voltar para a sala de aula em duas escolas. No entanto, continua seu tratamento com psicólogo e psiquiatra.

“A gente sofre uma pressão muito grande, muitas vezes fazemos o papel da família. Além disso, a carga horária é excessiva e tem dias que são 12 horas na sala de aula”, desabafa.

DOENÇAS

As licenças foram emitidas principalmente devido a transtornos associados à ansiedade. No entanto, depressão, reação ao estresse, transtorno afetivo bipolar também se destacam entre os afastamentos.

A Sedu não informou o total de professores efetivos e temporários que trabalham na rede estadual, mas segundo o Portal da Transparência do governo há 16.542 professores, sendo 6.483 efetivos e 10.059 com contratos temporários. Dessa forma, esse total de professores corresponde a 7% do total.

Para o diretor de saúde do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Aguiberto Oliveira de Lima, o número de afastamentos é alto. Ele acrescenta que há muitos outros professores com problemas psicológicos, mas muitos deles continuam trabalhando por não conseguirem identificar a doença. Além disso, há muitos registros de profissionais que simplesmente não conseguem a licença.

“Os números são maiores pelos relatos que temos, mas o profissional muitas vezes é vítima dele mesmo porque também não enxerga os tipos de transtorno. A depressão e a ansiedade, por exemplo, são silenciosas. Alguns precisam tirar mais de uma licença por ano porque não conseguem o tempo necessário em apenas uma para o tratamento. Muitos nem tiram a licença com medo de perder o emprego”, declara.

Professores afastados por licença no ES - clique para ampliar. (Infografia - Marcelo Franco)

AGRAVAMENTO

A diretora da Associação Brasileira de Psiquiatria, Fátima Vasconcellos, explica que determinadas profissões, entre elas a do professor, lidam com muito estresse e, de fato, têm esgotamento mais frequente que outras, levando aos transtornos psicológicos.

“Os professores precisam lidar com muitos problemas, o que gera estresse e acaba ocasionando transtornos como ansiedade e depressão. São quadros emocionais que demandam atenção e precisam ser tratados. Qualquer doença que não é tratada pode piorar”, aponta.

A médica acrescenta que diante da situação, seria recomendável ações do poder público para tratar o estresse, mas via de regra isso não é oferecido nas secretarias de Educação e Saúde. “Vale a pena investir na recuperação do professor ao invés de demiti-lo”, pontua.

ANÁLISE

Taxa acima da média

Diante dos estudos realizados é perceptível que a taxa de adoecimento dos professores está acima da média em relação a outras categorias. O número de profissionais por transtornos psicológicos é alto. A ansiedade está no topo devido aos problemas contemporâneos. A doença não é nova, ela existe há muito tempo, mas tem crescido devido a rapidez, correria, cobrança e competição que ocorrem no dia a dia. Passamos a funcionar de um jeito mais acelerado que o suportado pelo organismo.

É preciso tratar dessa problemática. Há pontos que devem ser resolvidos localmente e alguns por instâncias maiores, como as salas de aulas lotadas. Em alguns pontos, as respostas devem vir de um trabalho integrado com as próprias pessoas que passam pelo problema. É realmente necessário expor a situação para que as providências sejam tomadas.

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Escreveu Suzana Maria Gotardo, Doutora em Educação e conselheira do Conselho Regional de Psicologia do Espírito Santo

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