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Massacres como o de Suzano podem acontecer em qualquer escola

Massacres como o de Suzano podem acontecer em qualquer escola

Afirmação é de especialista que, em tese de doutorado, apontou o alto índice de casos de bullying em escolas da Região Metropolitana de Vitória. "São poucas as estratégias para o combate. Não é só palestra que resolve", diz autor

Publicado em 14 de março de 2019 às 00:18

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Momento em que um dos atiradores inicia ataque em escola de São Paulo. (Reprodução)

O terror vivenciado em Suzano (SP) não está longe como pode-se supor. Estudo realizado com alunos na Região Metropolitana de Vitória não deixa dúvidas para os pesquisadores: um novo massacre pode acontecer em qualquer escola por causa de bullying.

É o que afirma o professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Edson Theodoro Santos Neto, epidemiologista e coordenador do projeto de doutorado sobre fatores de risco para doenças em adolescentes. “Fizemos um estudo epidemiológico ouvindo adolescentes de 15 a 19 anos, no ensino médio. Constatamos uma prevalência muito alta de bullying nas escolas.”

Foram ouvidos 2.293 alunos nos municípios da região - Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão - e, desses, cerca de 40% já foram vítimas de bullying e 29% admitiram ser agressores.

A pesquisa foi feita em 54 escolas das redes particular e pública, em 2016 e 2017. Segundo explica o professor, o diagnóstico, tanto para vítima quanto para agressor, foi feito a partir de respostas a uma questionário de padrão internacional, no qual a palavra “bullying” não aparece. São questões indiretas que levam à conclusão desse quadro.

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Durante as entrevistas, a gente percebeu a naturalização do problema. Muitos não se davam conta que estavam praticando algo inadequado. O bullying é entendido como uma brincadeira, mas não é. O bullying é um processo frequente, repetitivo e que provoca um sofrimento duradouro

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Edson Theodoro acrescenta que a equipe pedagógica das escolas muitas vezes não sabe como lidar com a situação, ou até não admite o problema. “Estivemos em escolas em que disseram que não havia bullying. Reconhecer que existe o problema é o primeiro passo para intervir".

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O massacre que aconteceu em Suzano pode acontecer em qualquer escola daqui porque são poucas as estratégias para combater o bullying. Não é apenas uma palestra; são necessárias intervenções sistemáticas

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FAMÍLIA

A tese de doutorado ressalta, ainda, que o bullying não está vinculado apenas à escola. O ambiente domiciliar e o social em que os meninos e meninas estão envolvidos também podem favorecer à prática.

Edson Theodoro esclarece que adversidades - abusos físico (surra), psicológico, sexual, presenciar uso de drogas - que os adolescentes eventualmente sofreram em casa quando ainda eram crianças aumentam em até quatro vezes o risco deles se envolverem em bullying, como vítima ou agressor. Se há mais de um tipo de violência associada, o risco sobe para até 10 vezes.

De outro lado, se o adolescente está envolvido em grupos sociais, como movimentos comunitários, igreja, equipe esportiva, o bullying tem menos chance de prosperar. “Embora a escola possa fazer muito para prevenir, e deve mesmo ser espaço de intervenção, o fenômeno bullying é resultado daquilo que aconteceu na infância. Essa sociedade violenta contra a criança vai sofrer o reflexos daqui a algum tempo”, conclui.

 

 

 

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