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Mortes de bebês motiva protesto em Guarapari

Mortes de bebês motiva protesto em Guarapari

No ano passado, 18 bebês teriam morrido na maternidade do Hospital Infantil Francisco de Assis; MP abriu inquérito para apurar a denúncia

Publicado em 6 de março de 2019 às 23:55

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Grupo de pais protestam em Guarapari. (Divulgação)

Um grupo de 25 pessoas fez um protesto na noite desta quarta-feira (6), na Praia do Morro, em Guarapari, por conta de dezenas de mortes de bebês registradas na maternidade do Hospital Infantil Francisco de Assis. Segundo levantamento de um grupo de mães que acusam a unidade de negligência, no ano passado, 18 bebês morreram. Em 2019 são já seriam seis óbitos.

O protesto começou às 17 horas desta quarta e foi até as 20h, na areia da praia, na altura da casa do prefeito da cidade, Edson Magalhães.

Uma das mães que passou pela situação de perder um bebê é a dona de casa Márcia Pereira de Souza. Ela contou que perdeu a filha Lara na 41ª semana de gestação, depois de ir ao hospital várias vezes sentido fortes dores e, mesmo assim, ser mandada de volta para casa.

"Foram dias de muita angústia. Eu vinha para o hospital, mas eles me davam medicação e me mandavam embora. Eu vinha de dois em dois dias com dor, mas aconteceu também de eu vir duas vezes no mesmo dia e não fazerem nada. Quando eu vim mesmo para a minha filha nascer, ela já estava morta. Minha filha não aguentou", lembrou.

Márcia acredita que houve negligência médica, que deixaram passar da hora do parto porque a filha ingeriu mecônio (primeira fezes do bebê). Além disso, segundo ela, a criança não foi retirada por cesárea, e sim por parto normal.

"Minha filha ainda estava na barriga quando viram que ela tinha morrido. Me forçaram um parto normal com ela morta dentro de mim e quando ela saiu, viram que ela tinha engolido mecônio e me falaram que ela morreu sufocada. Mas na certidão de óbito, veio escrito que a minha filha morreu por hipertensão gestacional, sendo que todo mundo que acompanhou o parto viu que a minha filha tinha engolido fezes", explicou. A situação aconteceu em 2017. Márcia define que viveu o pior pesadelo da vida.

"Você segura a sua gestação por nove meses, esperando a sua filha, preparando o quarto, comprando roupinhas, pra chegar no dia de nascer e você receber uma certidão de óbito? Foi o que eu ganhei. Aquilo me matou, me destruiu. Nunca mais dormi direito pensando na minha filha, em como ela estaria hoje. Pra eles, foi mais um bebê que morreu, mas para mim não, era a minha filha", disse.

Márcia está grávida novamente. Aos sete meses de gestação, ela teme passar pela mesma situação.

O drama vivido pela dona de casa foi o mesmo da cunhada da gari Gilmara Ferreira dos Santos. Ela contou que tudo aconteceu há menos de 15 dias.

"Minha cunhada veio com dor, então aplicaram um remédio e mandaram ela embora, falaram que hospital não era SPA pra ela ficar deitada lá. Quinze dias atrás, ela voltou para ganhar neném, sentindo muita dor, mas aplicaram remédio de novo e mandaram embora. À noite ela veio e ficamos em casa esperando a notícia, mas recebemos a informação de que a neném tinha morrido porque tinha engolido água de parto, água com cocô. Acredito que morreu por negligência, porque ela estava com cesárea marcada, mas resolveram mandar ela pra casa", disse.

Com tantas mortes semelhantes, o grupo foi criado para amparar essas mães. "Nós criamos esse grupo para as mães terem voz, estão acontecendo muito casos, eles estão demorando muito a fazerem os partos. Passa da hora e eles se recusam a fazer uma cesárea", falou a dona de casa Fabíola Pereira da Silva, que criou o grupo.

Cartazes foram feitos como forma de protesto. (Divulgação)

MP ABRE INQUÉRITO PARA INVESTIGAR MORTES

No fim do mês de fevereiro, conforme publicado pelo Gazeta Online, o Ministério Público Estadual, abriu um inquérito para apurar os fatos. Na ocasião, informou ainda que, caso sejam constatadas irregularidades, serão adotadas providências previstas em lei.

Também no fim de fevereiro, quando houve a denúncia das mortes na unidade, a Secretaria de Saúde disse que se reuniu com o Comitê de Investigação e Acompanhamento de Óbitos para debater as mortes ocorridas no hospital de 2018. O grupo estuda prontuários, aciona órgãos de competência e de direito, acompanhando o andamento desses processos. Na reunião, a secretária Alessandra Albani cobrou um relatório de óbitos para análise. O comitê fará reuniões mensais e visitas ao hospital para analisar esses prontuários.

HOSPITAL NEGA NEGLIGÊNCIA

Também em fevereiro, o superintendente do Hospital Francisco de Assis, Jailton Alves Pedroso, negou que exista negligência na unidade.

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"Nós estamos aqui há cinco anos e tivemos essa quantidade de óbitos muito perto uns dos outros, o que criou um alarde na população. Essas mortes são de causas indeterminadas, não evitáveis pelo hospital. O hospital finaliza a gestação da mulher a partir de 39 semanas, e a questão dela ir e voltar é normal porque ela está em andamento para o parto. Não é negligência do hospital, estamos aguardando o momento ideal", disse.

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