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Psicóloga sobre o autismo: 'Tratamento por toda a vida'

Psicóloga sobre o autismo: "Tratamento por toda a vida"

A psicóloga e doutora em Psicologia Mylena Pinto Lima explica que o diagnóstico de autismo deve ser cuidadoso e que, quanto antes identificado, melhor a eficacia do tratamento

Publicado em 29 de março de 2019 às 23:40

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Mylena Pinto Lima: "Tratamento por toda a vida". (Reprodução/Instagram)

O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são algumas das bandeiras da psicóloga e doutora em Psicologia Mylena Pinto Lima. Ela é uma das principais especialistas em terapia ABA no Brasil. O método, que traduzido do inglês significa Análise do Comportamento Aplicado, é reconhecido no mundo todo e é baseado em evidências científicas. O tratamento é considerado bastante eficaz para autistas e tem um atendimento individualizado.

Mãe de Ana Luiza, que é autista, Mylena defende que nenhum médico consegue avaliar o grau do autismo em apenas uma consulta e que não existe uma definição de severidade que seja estática. "Algo que não parece problema agora pode, no futuro, ser um problema sério. As crianças mudam em cada fase do comportamento infantil", explica.

O que é o Transtorno do Espectro Autista?

É um transtorno de neurodesenvolvimento que já está presente na criança desde muito cedo. Crianças muito pequenas podem ser diagnosticadas e esses sintomas acompanham pelo resto da vida. Não tem cura e nem é algo que é adquirido depois.

Quais os principais sinais do autismo?

As principais características que possibilitam a identificação pela observação clínica são sinais precoces que afetam as pessoas em três áreas principais: comunicação (desde dificuldade para aprender a falar até dificuldade para usar a linguagem de modo funcional, da aquisição ao uso). Geralmente o problema de comunicação é importante para o prognóstico.

Outro aspecto é a dificuldade de estabelecer relação social e interação. Pode ser uma pessoa que está alheia aos outros, aos pares, pode até ter aversão ao contato social, dificuldade em ficar em lugares barulhentos ou de se aproximar de outras crianças.

A terceira característica é a presença de comportamentos estereotipados, com padrões estereotipados e repetitivos. Isso vai desde a questão dos maneirismos, com mãos ou corpo, girar objetos. Além do desenvolvimento de hábitos, ter necessidade de fazer as coisas de certo jeito, dificuldades com mudanças de rotina e dificuldade de se ajustar aos ambientes.

Por que aumentou tanto a incidência de autismo?

O autismo hoje é um transtorno com uma prevalência importante. No passado, era considerado algo raro. Mas um relatório do ano passado, feito nos Estados Unidos, estima que hoje, uma em 59 crianças são diagnosticadas com autismo. Ocorre basicamente com a mesma prevalência em diferentes povos, raças e fatores socioeconômicos. Não se sabe ainda o porquê do aumento dos casos, mas os fatores são biológicos e genéticos. É investigado há muito tempo, mas a causa ou o motivo do aumento dos casos não foram definidos nos estudos.

Outro fator que colabora para o aumento dos casos é a mudança na forma de se fazer diagnóstico. Por exemplo, hoje não se fala mais em Síndrome de Asperger, essa e outras classificações foram incluídas dentro do espectro autista.

Além disso, hoje em dia mais profissionais estão preparados para identificar os sintomas do autismo, mais pessoas estão preparadas com base nos critérios atuais perceberem os sintomas atípicos, que não são esperados no desenvolvimento infantil. O encaminhamento é mais cedo também.

Quais profissionais podem fechar o diagnóstico?

No Brasil, o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista é feito pelo neuropediatra. É o profissional mais preparado. O pediatra, por exemplo, pode identificar precocemente alguns indícios, mas pede confirmação encaminhando para o neuropediatra. Alguns aspectos do autismo podem estar em outros transtornos, por isso é importante o diagnóstico cuidadoso. Às vezes, acontece de ser diagnosticado tardiamente na escola, na creche com sintomas identificados, ou até os próprios pais percebem algo diferente e procuram atendimento médico.

Fechar o diagnóstico é muito importante para a família, pois dá viabilidade de acesso aos tratamentos. Daí vem a importância das leis que garantem os direitos aos autistas, com isso os pais têm respaldo para acompanhamento clínico, médico e inserção na escola.

Quanto mais cedo diagnosticar, melhor. A intervenção deve acontecer o mais cedo possível, com redes de saúde comportamental. A criança vai precisar de neuropediatra, psiquiatra, pediatra, psicólogo, fonoaudiólogo, e essa rede de suporte precisa ser estabelecida e acessível à família.

No entanto, acontece muito de as famílias recorreram à judicialização do tratamento, porque às vezes nem o sistema público nem privado de saúde fazem as terapias.

Qual a importância do tratamento adequado da pessoa com autismo?

É importante ressaltar que o tratamento é feito por toda a vida da criança e tem um custo altíssimo envolver todos esses profissionais para minimizar os efeitos do transtorno. Dentro de cada especialidade tem um especialista que se dedica ao suporte da família, seja pediatra, neuropediatra, psiquiatra, psicólogo, que terão mais condições de indicar tratamentos do que um generalista.

Inclusive, fica um alerta. Toda vez que a família ouvir a que o autismo da criança é leve ou o médico falando “espere para ver como é que fica”, tem que buscar uma nova opinião. Isso porque não tem como fazer uma avaliação da severidade do autismo sem uma bateria de exames, que requer pessoas com treinamento. Em uma consulta de 15 minutos ou meia hora jamais o médico vai conseguir determinar o grau de autismo.

E também não existe uma definição de severidade que seja estática. Algo que não parece problema agora pode no futuro ser um problema sério. As crianças mudam em cada fase do comportamento infantil. Pode estar bem na educação infantil, mas quando as crianças neurotípicas alcançam o ensino fundamental sabem tudo, já a criança autista pode ter dificuldades, pois apresenta atraso no desenvolvimento e pode não conseguir acompanhar seus pares.

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O maior desserviço que um profissional vai fazer é dizer que o autista não precisa ser encaminhado para tratamento. É necessário um tratamento abrangente, multifocal, mas que dê conta de todas as habilidades de desenvolvimento e problemas comportamentais, déficits. E a intervenção precoce vai trazer efeitos positivos de longa duração.

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