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'Segurança é falha', afirma professora do ES

"Segurança é falha", afirma professora do ES

Profissional diz que qualquer um entra pela frente

Publicado em 15 de março de 2019 às 01:33

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Estudantes dizem que não se sentem seguros na Escola Irmã Maria Horta, na Capital. (Guilherme Ferrari)

“A segurança nas escolas públicas deixa muito a desejar, é falha.” A avaliação é da professora Edinéia Altoé, que dá aulas tanto em uma Escola Viva, em Vitória, quanto na rede municipal, em Vila Velha. Segundo ela, qualquer pessoa entra com facilidade nas escolas pela porta da frente. “As pessoas entram e não são indagadas sobre o que vão fazer ali, com quem vão conversar, ninguém pergunta nada”, afirma.

Segundo a professora, que trabalha com educação há 20 anos, é comum se deparar com alunos de outras escolas, ex-alunos e parentes andando no ambiente escolar. “Às vezes eles estão lá em momentos em que não deveriam estar naquele ambiente.”

Edinéia pondera que a escola deve, sim, ser um ambiente aberto à comunidade escolar e aos pais, mas que isso precisa de controle. “A escola é muito aberta. Há um sentido positivo nisso porque a presença dos pais e da comunidade são importantes na educação, mas também há esses casos e agressores que podem entrar nesse espaço público sem indagação nenhuma”, diz.

INSEGURANÇA

Um estudante da escola Irmã Maria Horta, localizada na Praia do Canto, bairro nobre de Vitória, afirma que, mesmo tendo um vigilante no local, não se sente seguro. O aluno do técnico em Recursos Humanos pontuou que, apesar do bairro ser considerado nobre, o policiamento e a estrutura da escola não os fazem se sentir seguros nas aulas. “A segurança não é boa, às vezes a gente vê a polícia passando na frente mas logo os policiais vão embora”, destaca.

Depois do massacre que resultou na morte de nove pessoas em Suzano, São Paulo, os alunos dessa escola relatam temer que o mesmo aconteça. Uma estudante do curso técnico de administração, de 36 anos, disse que além de aluna é mãe de alunos, o que aumenta o medo de que uma tragédia aconteça.

“Sou aluna e mãe de alunos. Deixo meus filhos na escola acreditando que eles estão seguros para estudar, mas a realidade não é assim. Apesar de ter um guarda na porta, a insegurança existe, porque sei que qualquer um entra aqui. É só dizer que é aluno ou parente de aluno que consegue entrar”, relata.

BULLYING

Além da insegurança, a professora aponta o bullying como uma das questões preocupantes dentro das escolas. Um dos maiores receios é com o fato de que muitos alunos sofrem com esse problema, mas não contam nem à escola nem à família. “Às vezes a pessoa não fala nem para a própria mãe. O aluno fica com aquilo, acanhado, fica isolado, às vezes se automutila. Aqueles que chegam a falar, a equipe técnica faz um trabalho tanto com a vítima quanto com o agressor”, conta.

Ela esclarece que os casos chegam a sair do ambiente escolar e acabam parando nas redes sociais. “Eles montam grupos e ficam ‘malhando’ as pessoas da própria sala de aula”, relata.

SINDICATO: INSTITUIÇÕES DE ENSINO ESTÃO VULNERÁVEIS

Para o diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Espírito Santo (Sindiupes), Adriano Albertino da Vitória, muitas escolas estão em situação vulnerável. Não apenas pela falta de vigilantes ou equipamentos de segurança, mas pela violência cotidiana que tem se refletido dentro das unidades de ensino.

“Sabemos que o fator segurança está ligado a muitos outros aspectos além de vigilância na portaria. O que aconteceu em Suzano pode acontecer em qualquer lugar. Não estamos livres só pelo fato de ter um sistema de segurança”, avalia.

Adriano argumenta que os discursos de ódio e de intolerância que têm sido propagados acabam atrapalhando o papel da escola, que visa estimular o contato das pessoas em sua diversidade.

“A sociedade hoje vive esta narrativa baseada no ódio, o que não é nada bom. A escola é parte da sociedade e todos os problemas sociais também são vivenciados nesse espaço”, afirma.

O dirigente sindical diz que a entidade tem feito um contato permanente com os professores, que vivenciam a insegurança na sua rotina, para que tentem superar esse movimento crescente de intolerância e ódio.

“Casos de bullying, conflitos entre alunos e com professores estão muito relacionados a essa violência instalada na sociedade. E a defesa armamentista só pode piorar essa situação. O instrumento de trabalho do professor é o diálogo, e é com ele que esperamos superar tudo isso. Se facilitar o acesso a armas fosse bom, não veríamos tantos massacres como nos Estados Unidos, onde são liberadas.”

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