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Servidora é ameaçada pelo ex: 'Só vou parar quando te matar'

Servidora é ameaçada pelo ex: "Só vou parar quando te matar"

Por telefone, homem disse que encontraria e mataria servidora pública

Publicado em 9 de março de 2019 às 01:40

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Após ameaças, mulher parou de trabalhar e agora vive com medo. (Vitor Jubini)

“Eu cheguei a pensar: eu não mereço um cara tão bom”. A revelação vem de uma servidora pública de 36 anos, moradora de Vila Velha, que sofreu um choque quando o homem com quem convivia há seis meses passou de namorado atencioso e prestativo a agressor. “Você vai morrer. Eu só vou parar quando eu te encontrar”, disse o homem em conversa telefônica gravada pela vítima em fevereiro deste ano. Desesperada, ela pergunta: “Por quê? O que eu fiz?”. Ele responde “porque eu quero”.

Desde então, a Justiça emitiu mandado de prisão contra ele, que ainda não foi localizado. Enquanto isso, a servidora convive com o medo. “Minha vida acabou, eu não faço mais nada, e ele está por aí”, diz. O nome de ambos foi omitido para preservar a vítima. Confira entrevista com ela abaixo.

CARRO DESTRUÍDO

“Eu terminei com ele em novembro do ano passado. Na ocasião, ele quebrou meu celular, tentou me enforcar dentro da minha casa. Registrei esse fato, tinha medida protetiva e achei que a vida tinha seguido para os dois. Em fevereiro deste ano, ele começou a me ligar. Recusei conversar com ele por conta de tudo que tinha acontecido. No dia seguinte, ele foi na porta do consultório onde eu faço acompanhamento psiquiátrico (por conta das violências sofridas) e disse que tinha tomado veneno para se matar. Chamei o Samu, e ele foi para o hospital. No outro dia, ele falou que ia se jogar da laje da casa dele e isso me abalou muito. A mãe dele me convenceu a ir até a casa dele para conversarmos. Em um determinado momento, ele pegou a chave do meu carro da minha mão e saiu dirigindo. Levou o carro para uma rodovia deserta e o quebrou todo, arrancou as placas e colocou embaixo do banco. No mesmo dia, à noite, ele ligou falando que ia me matar. Me ameaçando de morte.”

FORAGIDO

“Procurei a polícia, e a delegada pediu para decretar a prisão dele. O Ministério Público concordou. Agora ele tem um mandado de prisão e está foragido. Já foram atrás dele e não o encontram. Sumiu do trabalho e mudou o número do celular. Já engordei muito, machuquei o rosto, não estou trabalhando desde que aconteceram essas ameaças. Minha vida acabou, eu não faço mais nada. E o cara está vivendo aí, tranquilamente. Na primeira semana depois da ameaça eu praticamente dormi debaixo da cama. Agora, eu até consigo sair de casa rapidamente, ir a uma padaria, à casa de alguém, mas tudo acompanhada.”

O INÍCIO

“Minha mãe é acamada e meu irmão tem necessidades especiais. Eu estava recém-separada. Eu fui presa fácil para ele. Em um mês, ele frequentava minha casa falando que queria cuidar da minha mãe e do meu irmão. Você acha que eu namorei com ele, levei para dentro da minha casa porque ele chegou gritando comigo? Não. Ele chegou na minha vida como a melhor pessoa do mundo. Eu cheguei a pensar: eu não mereço um cara tão bom. Quando você está vulnerável o cara é a melhor pessoa do mundo. Um dia ele quebrou meu celular e eu pensei ‘é só um celular, ele estava nervoso, eu consigo comprar outro’. Olha a minha mentalidade? Hoje, depois de fazer o tratamento, olhando com outros olhos eu vejo que não era saudável. Eu achava que ele me amava. Mas isso nunca foi amor. É doença.”

DOENTIO

“Não é só o cara que é doente, ele deixa a mulher doente também. Como eu cuido da minha mãe e do meu irmão sozinha, ele falava ‘você é tão sozinha quanto eu’ e eu acreditava de fato que eu não tinha ninguém e que ele tinha vindo para me salvar. Ele implicava com amigos falando que eles estavam dando em cima de mim e que eu ‘não tinha malícia para ver’ e eu acreditava nele. Eu comecei a ver coisas que só existiam na cabeça dele.”

ESCALADA

“A primeira vez que me agrediu foi com dois ou três meses de relacionamento. Ele pegou forte na minha mão durante uma discussão besta, apertou e ficou roxa. A segunda vez ele me pegou pelo cabelo e logo depois falou que estava brincando. Ali era pra eu ter terminado mas eu pensava ‘foi só um descontrole, isso acontece’. Claro que não acontece, não deveria acontecer. Mas naquele momento, para mim, aquilo não era nada. Depois disso, após discussão novamente, ele pegou meus cartões e meu celular. Ele sacou R$ 600 da minha conta. Dessa vez terminamos, mas eu voltei. Como sempre, como acontece com todas que acham que o cara vai melhorar, que mudou. Após ter voltado, ele quebrou uma televisão em uma briga por conta de dinheiro. Em seguida, ele quis me enforcar. As brigas às vezes eram por conta de ciúmes, às vezes por nada.”

ALIENAÇÃO

“Minha família está sempre por perto da gente por conta da minha mãe e do meu irmão e isso incomodava ele. Ele me podava de todas as formas. Meus familiares pararam de ir para minha casa. Meus amigos viram o que acontecia, mas tinham medo de falar porque eu vivia cercada. No trabalho, os colegas achavam estranho. Mas eu falava: ‘É porque ele é sozinho, muito apegado a mim’. Eu justificava as atitudes dele.”

LEI MARIA DA PENHA

“Eu participo de congresso sobre a Lei Maria da Penha há sete anos. Quando a gente vê os outros, pensa “Nossa, que mulher idiota, isso nunca ia acontecer comigo”. Eu cansei de pensar essas coisas. Quantas vezes eu ouvia relato de mulher que apanhou e me perguntava ‘como ela pode deixar chegar a esse ponto?’.”

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