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Artesãos deixam Mercado da Capixaba após 17 anos na Justiça

Artesãos deixam Mercado da Capixaba após 17 anos na Justiça

Espaço vai passar por restauração para virar área gastronômica e cultural no Centro

Publicado em 23 de abril de 2019 às 00:18

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Mercado da Capixaba: estrutura foi condenada pela Defesa Civil no ano passado e desocupada, passou por limpeza e aguarda reforma. (Fernando Madeira)

Após uma ação na Justiça de 17 anos, artesãos que ocupavam o Mercado da Capixaba, no Centro de Vitória, deixaram o local. O espaço vai passar por restauração para virar um centro gastronômico e cultural e as obras devem começar até dezembro. O prazo extrapola em mais de um ano a programação inicial, uma vez que a licitação deveria ter sido realizada em abril de 2018.

A ação para desocupação foi movida na gestão de Luiz Paulo Vellozo Lucas e, em 2013, já com Luciano Rezende, houve pedido de reintegração de posse. Segundo a prefeitura, as concessões estavam vencidas e os artesãos, inadimplentes. De lá para cá, a administração tentava retirar os profissionais enquanto um projeto de revitalização do mercado era preparado.

Até que, em novembro passado, Corpo de Bombeiros e Defesa Civil condenaram a estrutura, que está sem telhado, e determinaram a interdição, pois a utilização do local oferecia risco. Os artesãos ainda conseguiram trabalhar até 31 de dezembro. Em 2 de janeiro, retiraram-se do mercado.

O presidente da Companhia de Desenvolvimento de Vitória (CDV), Leonardo Krohling, disse que, após a desocupação, foi realizada a limpeza da área. “Era uma etapa necessária para avançarmos na restauração. Os projetos executivos da fachada, calçada e telhado já foram contratados e estamos contratando os complementares (sanitário, elétrico e hidráulico). A meta é concluir o processo até julho.”

Conseguindo cumprir o prazo, será aberto o processo de licitação para as obras e a expectativa, segundo Krohling, é dar início ainda neste ano. Contudo, o presidente da CDV não quis estimar tempo de duração da restauração. O valor da obra, apresentado em 2017, era de R$ 2,2 milhões, mas precisará passar por atualização. A princípio, os recursos seriam da venda do Saldanha da Gama, porém, com a doação do clube à Fecomércio, Krohling disse que a prefeitura vai usar recursos próprios na intervenção.

Com as obras, os acessos pelas Ruas Arariboia, que será só para pedestres, e Desembargador O’Reilly de Souza vão ser abertos para melhorar a circulação do público, totalizando quatro entradas com as das Avenidas Jerônimo Monteiro e Princesa Isabel. O local terá capacidade para instalar até 14 lojas, que serão administradas por concessão, e espaço para um palco.

"ENTRA PREFEITO, SAI PREFEITO, E REVITALIZAÇÃO NÃO ACONTECE"

Um dos fundadores da seção de artesanatos do Mercado da Capixaba, o artesão Mauricio Rosa da Silva, 63, fala com nostalgia do espaço onde atuou com a família por 40 anos. Agora, tenta manter a tradição dos produtos em couro que faz, realizando vendas pela internet.

Maurício é apenas um de um grupo de 35 artesãos que deixaram o mercado no início do ano. Segundo ele, cada qual seguiu um caminho e alguns até deixaram a profissão de lado por falta de incentivos.

“Todos que estavam lá trabalhavam com artesanato para ajudar na renda familiar. Mas já fazia tempo que a situação não estava boa; o Centro estava em decadência, órgãos e empresas deixando a região, e a gente sem apoio nenhum para continuar. Vitória é muito diferente de outras cidades do país onde o artesão tem apoio para trabalhar, divulgar a cultura do lugar”, afirma Mauricio.

Ainda assim, o artesão lamenta o fechamento do espaço para os profissionais da área e recorda de todas as dificuldades enfrentadas e superadas. “Foi com o artesanato que formei a minha família, criei filhos. Mas é difícil ver entrar prefeito, sair prefeito, a revitalização do Centro não acontecer e, desse jeito, a gente perder o espaço. Fico muito triste porque as autoridades apagam e enterram a história”, observa.

Mauricio espera que, com a revitalização, também haja espaço para os artesãos.

 

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