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Espada encontrada no fundo de rio no ES pode ser do século XVI

Espada encontrada no fundo de rio no ES pode ser do século XVI

Historiadores desconfiam que peça pode ter sido usada na Batalha do Cricaré; uma perícia será realizada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)

Publicado em 19 de abril de 2019 às 21:00

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Espada encontrada no fundo do Rio Cricaré, em Conceição da Barra. (Jornal Tribuna do Cricaré)

Uma espada encontrada no fundo do Rio Cricaré (também chamado de Rio São Mateus), na região Norte do Espírito Santo, tem despertado a atenção de historiadores e especialistas. É que a peça pode ser do século XVI e ter sido utilizada na Batalha de Cricaré.

A espada foi encontrada no dia 17 de fevereiro, na parte do rio na altura da localidade de Meleiras, em Conceição da Barra. De acordo com o historiador Eliezer Nardoto, conhecido na região do município, um banhista relatou ter pisado em um objeto de ferro e, na intenção de retirá-lo do fundo do rio para ninguém se machucar, puxou o artefato com dificuldade e viu que era uma espada. 

"Fui ao local e, o que chamou a atenção é porque, há muitos anos, estamos buscando o local exato onde aconteceu a Batalha do Cricaré, que pouca gente na história do nosso Espírito Santo fala sobre isso. Foi a batalha onde morreu o filho de Mem de Sá, que foi devorado pelos índios".

Historiador Eliezer Nardoto com a espada encontrada no fundo do Rio Cricaré (também chamado de Rio São Mateus). (Jornal Tribuna do Cricaré)

Em conversa com a reportagem do Gazeta Online, Nardoto revelou que tudo é uma possibilidade. "Chamamos um perito de São Paulo, que tem uma fábrica de espadas. Eles disse que, pelas características, o objeto encontrado é, de fato, uma espada do período Colonial. Aumentou mais ainda a nossa curiosidade", explicou.

Nardoto relatou ainda que uma machadinha também já foi encontrada no rio, na altura de Meleiras, mas, logo depois, descartaram a possibilidade dela ter sido utilizada na Batalha do Cricaré.

"A machadinha não era dos índios porque eles não tinham aço aqui. Era dos portugueses, que usaram o objeto para derrubar as fortalezas dos índios. Isso tudo tem criado uma grande expectativa em todos nós", disse. Nardoto revela que a espada pode ter pertencido a um nobre, devido às características que apresenta: águia bicéfala (de duas cabeças), pomo e guarda-mão rico em detalhes, possivelmente vinda da Península Ibérica, de Toledo, na Espanha, ou de Portugal.

Espada encontrada no fundo do Rio Cricaré, em Conceição da Barra. (Eliezer Nardoto)

"Tem um desenho tipo de um dragão, que pode ser uma serpe alada da Família Bragança, da Família Imperial. Tem muita coisa nessa espada que pode levar a gente a descobrir alguma coisa. Mas pode ser que não seja nada demais", explicou o historiador.

A BATALHA DO CRICARÉ

A Batalha do Cricaré foi a primeira de uma série de batalhas entre portugueses e índios brasileiros da região da Capitania do Espírito Santo. O fato aconteceu na confluência dos rios São Mateus e Mariricu, nas proximidades do então povoado do Cricaré, atualmente município de São Mateus.

O combate foi travado no ano de 1558 e tinha por objetivo livrar Vasco Fernandes Coutinho, donatário da Capitania do Espírito Santo, e seus homens, do risco de ataque dos nativos. Na ocasião, muitas pessoas morreram, e historiadores buscam mais informações sobre a batalha.

Segundo o escritor Thales Guaracy, que lançou o livro "A Conquista do Brasil", em 2015, a Batalha do Cricaré pode ter sido o maior genocídio da história do país. No livro, Guaracy conta que na batalha morreu Fernão de Sá, filho do terceiro governador-geral do Brasil, Mem de Sá. E o escritor Maciel de Aguiar diz que a morte de Fernão – para ele ocorrida em 1558 – motivou um sentimento de vingança do pai.

De acordo com Maciel, Mem de Sá liderou uma esquadra e promoveu o primeiro genocídio de brasileiros, com cerca de 8 mil índios mortos, em São Mateus.

IPHAN NOTIFICADO SOBRE ESPADA NO CRICARÉ

O Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foi notificado nesta semana sobre a espada encontrada. De acordo com o Iphan, o órgão foi avisado sobre este achado e realizou visita técnica para avaliar o objeto, mas ainda não teve acesso à espada para realizar a perícia. O Iphan frisa que todo objeto histórico em contexto de uma antiga ocupação que configura um sítio arqueológico ou uma ocorrência arqueológica é patrimônio da União.

O procedimento correto em caso de descoberta acidental de um objeto dessa natureza é realizar imediatamente contato com o Iphan ou com a instituição de guarda local. O Iphan diz que não deve ser realizada retirada de objetos ou escavação, pois isso compromete a integridade do sítio arqueológico — que é composto não só pelos artefatos, como também pelos extratos do solo e resíduos ambientais.

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"Estes elementos contribuem para a datação relativa ou absoluta do sítio, entre outras informações relevantes para a pesquisa arqueológicas, como o tipo de ocupação que havia no local. O Iphan realiza fiscalização nas áreas já registradas e nas áreas encontradas por moradores ou especialistas. O instituto também conta com ações de educação patrimonial para incentivar e orientar a população sobre a importância da preservação adequada desse patrimônio cultural que pertence a toda sociedade, especialmente à história das próprias comunidades locais", concluiu o órgão, por meio de nota enviada ao Gazeta Online.

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