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Gasto com acidentes no ES daria para construir dois hospitais

Gasto com acidentes no ES daria para construir dois hospitais

Custo de acidentes foi de quase meio bilhão de reais em 2018

Publicado em 29 de abril de 2019 às 11:16

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A rodovia BR 101 é onde são registrados mais acidentes . (Bernardo Coutinho)

O gasto com os acidentes registrados nas rodovias federais que cortam o Estado, no ano de 2018, chegou a quase meio bilhão de reais. É o resultado do que foi despendido para o atendimento de 2.641 acidentes registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no período.

É o custo da imprudência, como destaca o inspetor-chefe do núcleo de comunicação da PRF, Alexander Valdo Lemos, presente na maior parte dos acidentes. Ele destaca que não há como mensurar o custo das perdas emocionais e psicológicas, que por vezes ocasionam danos irrecuperáveis. “Mas temos que considerar que há também danos materiais expressivos, valores que poderiam ser investidos em outras áreas”, pondera.

Só para se ter uma ideia, com o custo dos acidentes do ano passado seria possível construir dois hospitais, como o que está sendo viabilizado em Cariacica, para cuja obra vão ser necessários R$ 239 milhões. Supera ainda em mais de oitenta milhões o orçamento deste ano da Secretaria de Estado da Justiça (Sejus), responsável pela manutenção de todos os presídios capixabas, e que chega a R$ 404 milhões.

Gasto com acidentes no ES daria para construir dois hospitais

LIDERANÇA

Embora os acidentes que envolvam morte tenham um valor unitário maior (R$ 742.192,20), a maior despesa, no global, foi com os acidentes com feridos, cujo número foi mais expressivo nas rodovias. O gasto com eles foi de R$ 394,7 milhões.

Foi seguido de perto pelas despesas com os acidentes em que teve mortes, que totalizou R$ 86 milhões, porque foi registrado um número menor de acidentes desta modalidade. Por último tivemos o custo dispendido com os acidentes sem vítimas, que totalizou R$ 4 milhões.

Dentre as rodovias, sai bem na frente, com larga distância a BR 101. De todas é a maior em percurso – são 460 quilômetros –, e ainda a mais movimentada, com maior tráfego. Com isto, por lá são registrados ainda mais acidentes. Foram 1.904 no ano de 2018, segundo dados constantes no site da PRF.

Registros que resultaram em um gasto, só da BR 101, de R$ 351,6 milhões com acidentes. Cerca de 72% do custo total envolvendo as rodovias. Só para se ter uma ideia do que representa este valor, ele é superior em mais de cem milhões ao orçamento da Assembleia Legislativa previsto para este ano, de R$ 214 milhões.

Na Região Serrana, a BR 262 ficou com o segundo lugar no ranking das rodovias com mais acidentes e, por consequência, um dispêndio maior de recursos com eles. Foram registrados 570 acidentes naquela rodovia, totalizando um gasto superior a R$ 99 milhões.

Quase um terço deste valor, R$ 24,9 milhões, foi o custo da BR 259, onde ocorreram, no total, 125 acidentes. O restante foi registrado em outras três rodovias federais, de menor tamanho, também no Estado.

O cálculo dos dados foi feito com base no levantamento médio unitário de cada acidente, feito pelo Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit), de acordo com sua letalidade: com mortos, com feridos e sem vítimas.

É levado em consideração na avaliação o custo de danos a veículos e cargas, os custos médico-hospitalares, as perdas de produção e consumo, as perdas de rendimento futuro (nos casos de morte ou invalidez).

Também é avaliado o valor do tempo despendido em retenção de tráfego causada pelo acidente, custos operacionais de atendimento aos acidentes (viaturas, ambulâncias, guinchos), danos ao patrimônio, dentre outros itens.

Na prática este valor pode ser ainda maior, uma vez que o último levantamento unitário foi feito pelo Dnit em 2018. A partir deste ano, segundo informou o órgão federal, foi contratada uma nova metodologia de cálculo, que será desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas. A estimativa é de que a divulgação dos novos valores ocorra em setembro.

GASTO MAIOR EM VIAS SEM RADARES E DUPLICAÇÃO

Dois fatores que podem ajudar a reduzir o número de acidentes, ou a sua letalidade, estão praticamente ausentes das rodovias federais capixabas. Trata-se de vias duplicadas ou que contem com a presença de radares, que ajudam a fazer o controle da velocidade.

De acordo com o inspetor-chefe do núcleo de comunicação da PRF, Alexander Valdo Lemos, a duplicação das rodovias é um fator importante na redução dos acidentes, principalmente daqueles com maior número de mortos.

No caso da BR 101, por exemplo, ele relata que desde a sua concessão, a via está em melhores condições. Mas pondera que a duplicação ajudaria a reduzir, por exemplo, os acidentes com colisão frontal, em geral ocasionados nas ultrapassagens.

Como hoje as pistas são simples, com uma mão em cada sentido, as ultrapassagens são feitas na contramão. “Com a duplicação teríamos um obstáculo físico, uma mureta, um canteiro, que ajudaria a reduzir as colisões frontais. As ultrapassagens ocorreriam na mesma mão de direção”, pondera.

Alexander relata que quase 90% da malha viária das rodovias possui pista simples. E é neste tipo de pista que ocorrem os acidentes com maior número de mortos.

Mas uma pista em boas condições, até mesmo duplicada, não é suficiente, destaca o inspetor, se os condutores forem imprudentes. Este é, segundo ele, o motivo causador da maioria das colisões, incluindo as que resultam em mortes.

São casos de excesso de velocidade, de falta de atenção na condução, de ultrapassagens em locais indevidos e até alcoolemia, ou seja, pessoas que fizeram uso de álcool e ainda assim assumiram a direção de um veículo.

É há ainda uma outra que também tem crescido nas estatísticas: o manuseio do celular. “Ele tira a atenção do condutor. Já registramos até um motociclistas manuseando o aparelho na direção da moto. Um absurdo”, relata.

A duplicação ajudaria a reduzir os acidentes com colisão frontal, geralmente ocasionados nas ultrapassagens. (Divulgação/PRF)

RADARES

Outro fator importante nas vias é a presença dos radares, como destaca o especialista em segurança, Paulo Lindoso. “Não temos agentes suficientes para cada trecho com dificuldade ou perigoso. O equipamento é necessário para ajudar a controlar a velocidade e a evitar acidentes”, pondera.

Para as rodovias federais em todo o Brasil estava previsto a instalação de mais de 8 mil radares. Um total de 280 seria destinado para as vias da União que cortam o Estado. Mas a instalação destes equipamentos, que estavam sendo contratados pelo Dnit, foram suspensas por determinação do presidente da República, Jair Bolsonaro, no início deste mês.

O argumento foi a suspeita de que os equipamentos serviriam para o “enriquecimento de muitos”, como destacou o presidente nas redes sociais, levantando o debate sobre uma suposta “indústria de multas”. Algo rechaçado pelo inspetor Alexander. “Nem 10% das infrações cometidas em um dia são alvo de multas. O que temos é uma indústria da impunidade”, pondera.

Paulo Lindoso acrescenta que se todos os motoristas e demais pessoas envolvidas no trânsito, como ciclistas e pedestres, respeitassem as leis, não haveria acidentes e conflitos. “Só existem acidentes, na maioria das vezes, porque alguém descumpriu as normas, as regras de trânsito. Se todos respeitassem as leis não teríamos gastos tão altos e nem vítimas”, assinala.

RADARES SUSPENSOS

Brasil

Mais de 8 mil

Equipamentos tiveram a sua instalação ou manutenção suspensa por decisão da Presidência da República. O argumento foi a suspeição da existência de uma indústria de multas.

Estado

280 radares

Tiveram a sua instalação em terras capixabas suspensas. Eles iriam para oito rodovias federais espalhadas em terras capixabas. A maior parte dos equipamentos iria para a BR 262.

Custo

Equipamentos

O valor estimado do do contrato é de R$ 23,8 milhões, dos quais cerca de R$ 4 milhões já estavam empenhados – liberados para o pagamento à empresa pela execução dos serviços.

Localização

Radares

BR 101 - 19

BR 259 - 37

BR 262 - 129

BR 342 - 6

BR 381 - 24

BR 393 - 14

BR 447 - 11

BR 482 - 40

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