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Governo quer analisar prescrição de remédios para evitar processos

Governo quer analisar prescrição de remédios para evitar processos

Governo quer criar análise de prescrição de medicamentos

Publicado em 13 de abril de 2019 às 02:47

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O secretário Nésio Fernandes destacou que compras emergenciais são caras. (Divulgação)

Entre os projetos de lei para melhoria na saúde – entregues pelo governo à Assembleia Legislativa nesta sexta-feira (12) – está a criação de uma etapa administrativa na Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para analisar a prescrição de remédios que não constem na relação estadual. O objetivo, segundo o secretário da pasta, Nésio Fernandes, é organizar uma contenção do grande número de judicializações da saúde, ou seja, decisões da Justiça que obrigam o Estado a fornecer medicamentos e tratamentos de saúde a pacientes que ingressam com ações pleiteando tais benefícios.

“Isso tem levado a muitas compras emergenciais, judicializadas e que acabam sendo sempre muito caras. Se a gente cria uma etapa onde o profissional pode prescrever e a Sesa pode se manifestar, e em alguns casos, a secretaria entender que deve comprar e incorporar aquele medicamento à sua relação, a gente consegue comprar no processo administrativo normal e consegue até um preço melhor”, disse.

Nésio explica que a secretaria também tem a opção de recomendar a utilização de outra substância ou medicamento equivalente. O prazo para a análise da secretaria, de acordo com o projeto de lei, é de sete dias.

“Se ele não quiser utilizar o equivalente e quiser judicializar, aí vamos discutir na Justiça. Mas (o objetivo) é criar uma etapa administrativa onde a Sesa possa avaliar essa solicitação e, concordando, comprar de maneira ordinária aquele produto”, finalizou.

Essa e as demais propostas agora seguem para apreciação na Assembleia Legislativa. Questionado se pediria regime de urgência, Casagrande afirmou que “a princípio, não”. O governador Renato Casagrande disse que pretende deixar a Assembleia discutir um pouco os temas para depois pedir a urgência.

GASTO PESADO

As judicialização da saúde representa um gasto cada vez mais pesado para os cofres públicos. No ano passado, A GAZETA publicou uma série especial sobre esse grave problema.

A reportagem acompanhou pacientes por três meses que esperavam até por anos por consultas, remédios ou cirurgias. No dia a dia, tem funciona assim: o paciente é examinado e o médico conclui que determinado tratamento ou procedimento é fundamental. O paciente não tem aquilo em tempo hábil e, então, vai à Justiça.

O juiz descobre um relato dramático corroborado por um laudo médico e defere o pedido. Sobrecarregado por demandas, o Estado perde o controle sobre o que é prioritário e, em diversas ocasiões, não cumpre as determinações da Justiça no prazo.

OUTROS PROJETOS

Outra proposta entregue à Assembleia é a convocação remunerada de profissionais, voltada para profissionais da saúde aposentados do Estado. Eles poderão ser convocados diante de situações excepcionais ou de interesse público para a realização de mutirões de cirurgias, campanhas de saúde, enfrentamento de situações específicas de calamidade pública, entre outros casos.

Outro projeto quer regulamentar o pagamento de indenização para o enfrentamento de demandas excepcionais, permitindo a convocação extraordinária de profissionais para a realização de mutirões de cirurgias e exames, bem como para cobrir escalas de férias ou completar escalas de trabalho.

O último projeto do pacote apresentado é similar ao que ocorre em nível nacional. A Tabela SUS do Espírito Santo poderá prever a complementação de valores pagos pela União para consultas e exames aos prestadores de serviços de saúde.

ANÁLISES

Comprometimento com a atenção básica

A ideia de formar médicos com foco de atuação nos postos é interessante. É necessário formar profissionais que conheçam e respeitem o SUS, comprometidos com a atenção primária de saúde. Profissionais com sensibilidade social, que reconheçam a saúde como um direito de cidadania e não como um bem de consumo. O importante do projeto de governo estadual de capacitação para a atenção básica é que ele está preocupado com a fixação de profissionais nas regiões mais carentes e onde os profissionais formados para uma alta tecnologia não querem se fixar. No que diz respeito à proposta de criação de uma comissão de especialistas, como tentativa de solucionar o problema da judicialização da saúde, vejo com esperança mas com enormes reservas. O problema da judicialização não é falta de normatização ou de uma comissão, é complexo. Ou mudamos a lógica da assistência, nos comprometendo fortemente com uma política que priorize a atenção básica ou não resolveremos o problema.

Elda BussingerDoutora em bioética e professora da FDV

Estratégias são necessárias

Investir em atenção primária, como prevê parte dos projetos apresentados pelo governo do Estado à Assembleia, é fundamental, pois é impossível construir um sistema de saúde com qualidade e sustentabilidade financeira sem uma atenção primária fortalecida. São necessárias várias estratégias, incluindo médicos preparados para trabalhar nessa atenção. Qualquer medida que tem como objetivo qualificar o trabalho do médico é bem-vinda. O Estado tem se preocupado com isso, já que o governo federal já sinalizou que vai substituir o Programa Mais Médicos por outros programas, além disso os municípios estão com dificuldade financeira. A atenção primária é de responsabilidade do município, mas o Estado, nesse caso, terá participação. Isso não é um movimento exclusivo do Espírito Santo, outros Estados têm fortalecido a atenção primária. Caminhar sem isso fica ineficiente.

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Thiago Sarti doutor em saúde pública e professor da Ufes

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