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Parto normal e cesárea: gêmeos nascem com 8 horas de diferença no ES

Parto normal e cesárea: gêmeos nascem com 8 horas de diferença no ES

Gael nasceu nasceu às 10h04, e realizou o sonho da mãe de ter um parto normal após duas cesáreas. O irmão, Dante, chegou oito horas depois, em uma cirurgia cesariana

Publicado em 30 de abril de 2019 às 15:51

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Camila Vescovi, de 36 anos, mãe dos gêmeos Gael e Dante. (Reprodução / Instagram)

"Não tenho palavras para descrever o que eu estou vivendo. Estou realizadíssima". Ainda é difícil para Camila Vescovi, de 36 anos, explicar tudo que aconteceu há uma semana. Ela já era mãe de duas meninas - Gabrieli, 6 anos, e Beatriz, 3 anos - quando engravidou pela terceira vez. A gestação gemelar de Gael e Dante, de forma natural, foi surpresa para a família. Com duas cesáreas anteriores e uma gravidez de gêmeos, o sonho de ter um parto normal pareceu inatingível. Entretanto, Gael e Dante estavam dispostos a quebrar paradigmas: os gêmeos nasceram por vias de parto diferentes e com um intervalo de oito horas entre um e outro.

Gael nasceu nasceu às 10h04 do último dia 24 de abril, e realizou o sonho da mãe de ter um parto normal após duas cesáreas. O irmão, Dante, chegou oito horas depois, às 18h22, em uma cirurgia cesariana. Irmão mais velho, Gael viu Dante nascer. Os partos aconteceram em um hospital particular da Serra e, saudáveis, mãe e filhos tiveram alta dois dias depois, na sexta-feira (26).

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A gente seguiu o protocolo: em primeiro lugar a saúde, minha e dos meus filhos, e o meu desejo. Tinha essa possibilidade de nascer um normal e outro cesárea. Eu tinha um desejo forte de que fosse normal os dois, mas em primeiro lugar a saúde e a segurança. Nasceu o primeiro, o segundo poderia demorar mais a nascer e eu não queria estender muito tempo. Na minha cabeça eu coloquei quatro horas só, se não nascer eu vou para cesárea. Para minha surpresa, quando eu fui me dar conta, já havia passado seis horas. Tentei mais um pouquinho e foram oito horas de diferença. Foi uma cesárea totalmente diferente das outras duas, humanizada. O Gael, irmão mais velho, assistiu o parto, estava junto na sala. Me senti totalmente acolhida. O pai cortou o cordão umbilical dos dois, vivenciou tudo junto comigo

Camila Vescovi, mãe dos gêmeos Gael e Dante
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A escolha por uma cesariana no parto do Dante aconteceu depois que as contrações pararam de evoluir. Ainda assim, Camila afirma que, desta vez, a experiência com a cirurgia foi completamente diferente do nascimento das duas filhas mais velhas.

"Eu queria muito vivenciar o parto normal, e eu vivenciei. Na gestação da Gabrieli eu tinha vontade, mas não procurei me inteirar muito sobre parto humanizado. Gabrieli nasceu com 38 semanas de uma cesárea. A Beatriz eu tentei, fiquei 23 horas em trabalho de parto, mas o médico disse que eu não tinha passagem e fui também para uma cesárea. O Dante estava sendo acompanhado 24 horas, estava tudo perfeito, eu poderia ter tentado o segundo normal também, porém estendeu demais. O médico já tinha me explicado, que por eu já ter duas cesáreas, poderia ser que quando nascesse o primeiro, paralisasse as contrações. E foi exatamente o que aconteceu. Parou. Não engrenou, e foi uma opção minha a cesárea. Eu fui respeitada, ninguém me induziu. Cheguei no meu limite e fomos para uma cesárea linda, transformadora. Dante nasceu, ficou no meu colo, tive a hora de ouro (a primeira hora de vida, em que todos os procedimentos com o bebê são realizados no colo da mãe) com ele também no meu colo. Emocionante, eu fiquei sem palavras", recorda.

MITOS AINDA PERSISTEM

O pai, Fabio Ferreira Sá, de 37 anos, segura Gael no colo enquanto dante ainda está na barriga da mamãe Camila. ( Reprodução / Instagram)

Camila lembra que, embora tenha ficado feliz com a notícia de que estava grávida de gêmeos, acreditou inicialmente que não conseguiria ter o sonhado parto normal. "Como o médico tem ultrassom no consultório dele, na primeira consulta fiquei sabendo que eram gêmeos. Foi uma surpresa geral. Ficamos assustados na hora, mas muito felizes. Confesso que quando descobri, pensei 'meu sonho de ter um parto normal foi para o brejo agora. Duas cesáreas prévias e uma gravidez gemelar, não vou conseguir'. E ele (o médico) com aquela calma toda, me disse: é possível sim, a ciência diz que sim".

Médico responsável pelo parto dos gêmeos, o obstetra Frederico Bravim explica que, ao contrário do que algumas pessoas acreditam, uma gravidez gemelar não é indicação absoluta de cesariana.

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Única indicação absoluta de cesariana em gravidez gemelar é se os gêmeos não estiverem perfeitos, se estiverem ligados por alguma parte do corpo, como os siameses. Eles obviamente não podem nascer de parto normal, porque não cabem no canal vaginal. E há recomendação para se realizar cesariana também quando o primeiro bebê está sentado e o segundo bebê estiver de cabeça para baixo, porque pode ocorrer um efeito de gancho e as duas cabeças ficarem agarradas. Em todas as outras posições é possível se tentar um parto normal. No caso do Gael e do Dante eles estavam, os dois, de cabeça para baixo. Os dois na posição perfeita para o nascimento

Frederico Bravim, obstetra
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DOIS BEBÊS, DUAS FORMAS DE PARTO

Antes de Gael e Dante nascerem, Frederico já havia assistido outro parto gemelar em que os bebês nasceram por vias de parto diferentes. O intervalo grande, de oito horas, entre um nascimento e outro não é comum, mas é perfeitamente seguro quando acompanhado de forma correta.

"Uma gravidez de gêmeos de forma natural já não é tão comum. Mas sempre que se prioriza pelo parto normal, quando há essa possibilidade, você tem que estar atento à possibilidade de intervir com cesariana para o nascimento do segundo filho. É sempre uma possibilidade. Na maioria das vezes um bebê vem em seguida do outro, nos primeiros 30 minutos , só quem em alguns casos pode demorar um pouco mais. E nesses casos é preciso aumentar a vigilância com relação ao sangramento, tem que lembrar que a outra placenta pode descolar e pode colocar o segundo bebê em mais risco. Tem que estar o tempo todo ao lado dessa mulher, o tempo todo escutando o coraçãozinho desse bebê para garantir que ele fique saudável", esclarece o médico.

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Aconteceu neste caso, especificamente, o que a gente chama de parada de progressão e parada de evolução e de descida do trabalho de parto. Nasceu o primeiro bebê de um parto natural, que foi tudo lindo e maravilhoso. E o trabalho de parto parou e ela não teve mais contrações. Iniciamos um estímulo com exercício e passamos um longo período de tempo estimulando, porém as contrações não voltaram. Como nós estávamos o tempo todo vigiando, nós pudemos esperar o tempo necessário, até que nós identificamos que realmente o bebê não ia descer mais e a mãe também já estava com o estado psico-emocional e físico já no limite. Optamos por uma cesariana, por considerarmos o melhor caminho naquele momento

Frederico Bravim, médico obstetra
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FAMÍLIA COMPLETA

Há cinco dias, o lar de Camila e Fábio está completo. Reencontrar as filhas mais velhas, voltar para casa com os gêmeos nos braços e um sonho realizado ainda é uma sensação difícil de descrever.

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"Quem dera se todas as mulheres pudessem ter a equipe que eu tive. Eu realizei um grande sonho, com prudência e cautela. Procurem equipes que realmente vão encarar com você o parto normal. Parto normal é bem puxado, mas é renovador. Me sinto realizada como mãe, como mulher. Chegar em casa na sexta-feira com o meu coração leve, meu lar completo, minha família toda junta, isso para mim realmente não tem preço. Por hora estamos todos muito bem, muito felizes, como muito leitinho para amamentar e realizados".

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