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Soluções para problemas causados pela chuva podem levar décadas

Soluções para problemas causados pela chuva podem levar décadas

Especialistas apontam mudança na legislação e vontade política como saídas

Publicado em 17 de abril de 2019 às 01:33

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Alagamento na Avenida Carlos Lindenberg, um dos pontos atingidos na segunda. (Bernardo Coutinho)

Não há perspectivas a curto prazo para solucionar os problemas de alagamento e riscos de deslizamentos que afetam a população da Grande Vitória. Segundo especialistas em recursos hídricos, as possíveis soluções são caras, não são fáceis e podem levar décadas para serem adotadas. Até que isto aconteça, ponderam, vão continuar se repetindo, ano a ano, os estragos registrados na madrugada da última segunda-feira, quando temporais causaram desabamento de casas e alagamentos de ruas e avenidas, principalmente na Capital.

Tudo isso, destaca Ricardo Franci, professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Ufes, são os reflexos dos erros que cometemos no passado, como as ocupações irregulares, até nas margens de rios e morros, a supressão da vegetação e das matas ciliares, e a impermeabilização das cidades.

“Falta legislação e vontade política, além de financiamento e paciência para promover as mudanças, porque ninguém vai transformar a realidade do dia para a noite. Vai demorar décadas. E ainda tendo que evitar que novas áreas caiam no mesmo erro”, pondera.

BACIAS

Elio de Castro, vice-presidente do Fórum Capixaba de Bacias Hidrográficas, observa que as bacias hidrográficas foram altamente impactadas e perderam as suas características originais. “Todo rio tem uma calha principal que se expande nos períodos de chuva forte. O rio precisa deste espaço para se expandir mas o que houve foram invasões que tomam este espaço. Quando chove forte, o rio invade as casas”, relata.

Um problema cuja solução seria a retirada das pessoas que estão vivendo em áreas irregulares. “É um problema que pode ser resolvido, mas não há dinheiro para retirar estas pessoas. Há outras tecnologias, como os canais que são utilizados na Holanda, mas são soluções caras e demoradas. E a população quer uma resposta rápida, que não virá”, assinala Castro.

Doutor em Engenharia de Recursos Hídricos da Ufes, o professor Antonio Sergio Mendonça lembra que muitos bairros foram construídos sobre brejos e aterros feitos próximos ao nível do mar, o que dificulta o escoamento da água.

“Existe a possibilidade de redução deste defeito através de medidas estruturais (obras) e não-estruturais, que seriam ações de ocupação de solo, transferência de população de áreas inundáveis e um planejamento para o futuro para que novas áreas não sejam ocupadas irregularmente.”

Francis pondera que algumas das medidas adotadas para reverter os alagamentos demoraram tanto a acontecer, como as situações de macro e microdrenagem, que já estão desatualizadas em relação a outras soluções adotadas em outros países. “É um conceito antigo o de pegar a chuva e jogar para as galerias e transportar para locais mais baixos, só que vem a maré alta e impede o escoamento. em alguns casos ela até retorna para a cidade”, relata.

ALTERNATIVAS

O professor Francis cita que é preciso buscar reconstituir a permeabilidade, para reter a chuva onde ela cair, evitando o seu transporte pelas galerias. “O que pressupõe planejamento e regulação, uma atribuição das prefeituras, além de capacitação de recursos humanos. As pessoas têm que se atualizar tecnologicamente, para poderem projetar os sistemas do futuro, inclusive a regulação adaptada às novas tecnologias de drenagem sustentável. Algumas cidades no Brasil já exigem que as edificações captem a água de chuva e a utilizem para fins não-potáveis, como Curitiba”, relata.

Antonio Sérgio aponta que é preciso ainda mudar a legislação das cidades não permitindo a impermeabilização quase que completa do solo, com a cidade quase toda cimentada. “São calçadas, áreas cimentadas, telhados, e ao invés de ocorrer a infiltração, que reduziria a enxurrada para os córregos, a água infiltraria no solo e daria uma solução melhor para escoamento. Outra solução seriam os tanques de retenção da água que seria liberada posteriormente. Mas é preciso alterar a legislação das cidades”, destaca.

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