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A luta de jornalista para denunciar venda de MMS, a falsa cura do autismo

A luta de jornalista para denunciar venda de MMS, a falsa cura do autismo

Andréa Werner é ativista dos direitos da pessoa com deficiência e tem páginas das redes sociais para falar sobre autismo

Publicado em 28 de maio de 2019 às 00:03

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A jornalista Andréa Werner é ativista dos direitos da pessoa com deficiência e mãe de um menino autista. Ela tem páginas nas redes sociais onde fala sobre o assunto e foi nestes canais que ela começou a receber mensagens de pessoas a respeito da substância MMS - sigla em inglês que significa “solução mineral milagrosa” - que promete tratar e até curar sintomas do autismo. Desde então, Andrea travou uma batalha para denunciar a comercialização e o uso dessa fórmula além de informar sobre os riscos do consumo do MMS.

Nesta terça-feira, o Gazeta Online revelou com exclusividade que um grupo na Serra vende a substância. Por determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a comercialização deste produto é proibida no Brasil desde junho do ano passado, mesmo assim o grupo enviava os kits para todo o país.

O MMS é obtido pela junção do clorito de sódio, usado para branquear produtos e descolorir papel, e também por ácido clorídrico, usado na obtenção de cor antes e no polimento de metais. Ou seja, é uma substância altamente tóxica para o organismo humano e pode provocar lesões graves no esôfago.

A ENTREVISTA COM ANDRÉA WERNER

Como você ficou sabendo sobre o MMS?

O que aconteceu neste ano foi que eu estava recebendo mais mensagens do que o normal sobre MMS nas minha páginas nas redes sociais. Eu notei que estava ficando muito frequente e estranhei. No início de abril um amigo achou o livro “Curando os Sintomas Conhecidos como Autismo”, da Kerri Rivera - uma das entusiastas do MMS - exposto na vitrine de uma livraria na Avenida Paulista. Foi quando eu comecei a campanha pedindo para as livrarias tirarem esse livro de comercialização e elas foram atendendo. Depois, procurando na internet eu descobri que dezenas de páginas de anúncios de venda de MMS. Foi chocante. Nessa mesma época foi enviado um ofício à Anvisa cobrando explicações. Com esse documento a agência notificou o site onde o produto era vendido. A maioria dos anúncios foi removido. Mas ainda tinha muitos sites vendendo. Eu notei que eles começaram a tirar depois o Fantástico divulgou que a reportagem iria ao ar. Os grupos começaram a mudar o nome da fórmula, mudando as plataformas de venda…

Como é o seu trabalho contra a comercialização de MMS?

Eu não trabalho sozinha. O nosso grupo é formado por mães e por autistas que me ajudam. Eu tenho mais alcance por causa da minha página. Nós estamos fazendo um dossiê com tudo que a gente consegue de provas nas redes sociais contra esses vendedores e promotores de MMS. Tem gente que vende até consultoria sobre MMS e nem da área da saúde é.

Tem muita gente que relata algum tipo de melhora que teria acontecido depois de ingerir a substância. O que você acha disso?

Funciona como um culto mesmo. Eles não querem evidências. É fé e o desconhecimento das pessoas acerca da ciência. Relato pessoal não é evidência científica. E é por isso que, para um medicamento ser lançado são necessários muitos anos de pesquisa. E quando você olha na pirâmide de evidência científica, relato pessoal está na base dela, ou seja, é a parte menos confiável.

A gente vive um momento de descrença geral em toda as instituições. Isso afeta também a ciência?

Totalmente. Eu não acho a ciência é perfeita mas ainda é a melhor ferramenta. Estamos na era da pós-verdade, na era da teoria conspiratória, então quando você vê a justificativa dessas pessoas é alguma coisa como “a indústria farmacêutica não quer que as pessoas descubram que existe uma cura barata para tudo por eles querem vender remédio” ou “a indústria farmacêutica pagou a imprensa para falar essas coisas”. Eles têm essas teorias da conspiração e pegam essas mães, criam uma culpa enorme nelas falando que elas intoxicaram os filhos aí eles mesmo apresentam uma solução. E eles vão te afastar de quem pode te esclarecer. E quando uma pessoa entra nessa linha de pensamento não adianta você ir com todas as evidências porque ela não vai querer ver. Ela prefere acreditar nos testemunhos de cura nas redes sociais.

Você disse em uma rede social que recebe muitas mensagens no privado. Que tipo de mensagens são essas?

Eu recebo muito ataque, sou muito xingada. Ainda não recebi ameaças… mas me chamam de vendida, de burra. Mas também recebo mensagem de pessoas que pedem ajuda, agradecem as informações, os esclarecimentos. A maioria das denúncias que tenho recebido é de que “terapeutas alternativos” estão prescrevendo o MMS, ou seja, são terapeutas holísticos, homeopata que não cursou medicina, que só fez um curso e atende como se fosse. Obviamente não generalizo esses profissionais, mas a grande parte das denúncias é sobre esses terapeutas.

O que você acha que leva as pessoas a comprarem essa substância para os filhos autistas?

São alguns fatores. Nós temos no Brasil um sistema de saúde que não atende como deveria. É difícil conseguir um diagnóstico. Terapia na qualidade esquece. Então, chega um charlatão com uma possibilidade que pode tirar seu filho do autismo, os pais caem. Outro fator são formadores de opinião que recomendam. Acho que os principais fatores são a falta de informação e a enganação.

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