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Desabamento em Itapoã: trabalho de aluno de Engenharia mostrava riscos

Desabamento em Itapoã: trabalho de aluno de Engenharia mostrava riscos

Universitário fez um trabalho da faculdade em 2017 sobre o prédio e constatou que a edificação só aguentaria mais uns dois anos em pé

Publicado em 24 de maio de 2019 às 21:11

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Fotos do engenheiro civil Felipe Henriques, da época em que fez o trabalho da faculdade sobre o prédio que desabou em Itapoã, bairro de Vila Velha, mostram que situação da obra era "crítica", como apontou o laudo que ele fez para a disciplina de Perícia do curso superior. (Felipe Henriques)

Há cerca de dois anos já se sabia que o prédio que desabou em Itapoã, bairro de Vila Velha, por volta das 5h30 desta sexta-feira (24) ia cair. Um estudo feito por um então universitário que cursava Engenharia Civil em uma faculdade particular da Grande Vitória revelou que a edificação corria riscos na sustentação, que era feita apenas por escoras de eucalipto.

No documento ao qual o Gazeta Online teve acesso com exclusividade, estudantes classificavam o risco como "crítico" e com "impacto irrecuperável". No laudo, detalharam como patologias:

- Umidade nas alvenarias

- Fissura por cisalhamento

- Fissura por tração

- Fissura por compressão

- Fissuras causadas pelo recalque diferencia

- Trincas

- Rachaduras

- Corrosão nas armaduras

- Desagregação do concreto

- Ataque por sulfatos

- Carbonatação

- Reação álcali-agregado

- Má execução

(Felipe Henriques)

"Você via que as escoras estavam envergadas. Isso significava que elas eram colocadas retas, na base do prédio, e só ficavam tortas porque tinham que suportar uma pressão", dispara o engenheiro civil Felipe Henriques, de 26 anos, que fez o estudo quando cursou Perícia na faculdade e hoje é proprietário da Roots Soluções em Engenharia. 

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Era um trabalho sobre patologias em construções e eu escolhi esse prédio porque fazia estágio perto dele e há algum tempo a situação precária em que ele estava chamava a atenção da gente, que passava por ali

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Segundo o especialista, na situação em que estava o prédio, a melhor solução seria demoli-lo e construir de novo. Isso porque, de acordo com Felipe, refazer estruturas ou montar reforços metálicos para corrigir erros de projetos acabam saindo muito caro. "Do jeito que estava ia custar muito dinheiro mexer no prédio, então seria mesmo melhor destruir e fazer recomeçar do zero", conclui.

(Felipe Henriques)

ESTUDO DEU PRAZO PARA DESABAMENTO

Quando realizou o estudo, Felipe na apresentação do projeto deu até um prazo para o prédio desabar. E até nisso ele acertou. É que o laudo foi apresentado em sala de aula há cerca de dois anos e, à época, o atual engenheiro civil comentou que dava algo em torno de dois anos para que a edificação caísse.

(Felipe Henriques)

"As rachaduras, quando são verticais, indicam um problema na fundação da obra. Lá as rachaduras eram na vertical e como as escoras ficavam tortas tudo levava a crer que o problema era estrutural mesmo", corrobora. O engenheiro frisa que, por outro lado, rachaduras horizontais são comuns: "Pode ser dilatação de rejunte ou algo mais simples".

INVESTIMENTO ALTO

Em um dia que estava fazendo fotos externas do prédio, o então universitário foi abordado por um homem, que saiu da edificação, e se identificou como um dos filhos de um dos proprietários da obra. "Ele disse que era do pai dele e que eles não queriam demolir porque o pai tinha investido todo o dinheiro na obra e estava até chateado com a situação", comenta.

Nessa ocasião, Felipe explicou sobre o seu estudo e o homem sugeriu que o problema foi no projeto da obra, mas não deu mais detalhes sobre a situação. "Mas a gente conversou por acaso, não estava nada programado. Estava lá e ele apareceu", finaliza.

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