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'Justiça', pede mãe de professor morto após ataque de homofobia no ES

"Justiça", pede mãe de professor morto após ataque de homofobia no ES

Mãe emociona ao falar do filho, Roberto, que morreu após ataque homofóbico

Publicado em 31 de maio de 2019 às 22:41

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(Carlos Alberto Silva)

Por volta das 3h da manhã do dia 30 de setembro de 2013 Maria Madalena Alcântara recebeu uma ligação de um hospital em Vila Velha e perguntaram: "Você conhece Roberto Alexandre Alcântara?". Ela conhecia.

Ele era o filho que, na noite anterior, tinha saído para ir a uma festa, na Praia da Costa. Foi agredido, teve os dois lados do maxilar quebrados e o queixo partido em três partes. Tudo porque um cidadão não aceitou a orientação sexual do rapaz, que morreu em 2016 vítima da depressão que desenvolveu após o ataque homofóbico.

Ele é só um dos milhares de homossexuais que compõem a triste estatística de agressões por homofobia no Espírito Santo e no Brasil. Em entrevista exclusiva à reportagem, Madalena detalha como era Roberto, como ele se assumiu para a família e de que forma foram os primeiros passos dele depois dos socos e chutes que levou de um agressor, que por falta de uma lei eficaz está solto pela Grande Vitória até hoje.

Como foi a agressão?

Ele estava a caminho da boate Rouge, em Vila Velha, em setembro de 2013. Nesse dia tinha uma festa que ele gostava e ele tinha falado que tinha chamado um táxi. Quando chegou na rua da boate, percebeu que tinha muito carro ali na região e decidiu saltar do táxi e foi andando. Nisso ele só viu quando uma pessoa foi para cima dele com um soco, jogou ele no chão e ele ficou desmaiado. Estava sozinho nessa ocasião.

Ninguém o ajudou?

O cara que agrediu foi embora. Ele ficou lá caído e foi um senhor porteiro que o viu e decidiu colocá-lo na calçada, porque ele estava no meio da rua. Ai chamou a ambulância e ele foi socorrido.

Como você ficou sabendo?

Ai quando foi de madrugada de alguma forma conseguiram me localizar e me ligaram. Ele ficou no Hospital Vila Velha. Era umas 3h e falaram: 'Roberto Alexandre Alcântara. Você conhece?'. Ali eu já fiquei gelada. Eu sai louca de casa e quando cheguei lá ele nem tinha conseguido dar entrada ainda. Estava todo 'quebrado', sangrando em cima de uma maca.

Como ele se machucou?

Ficou com o maxilar quebrado dos dois lados e o queixo em três partes. O hospital não tinha um bucomaxilo e eu mesma paguei um particular para ir lá. A médica teve que colocar uma série de placas metálicas para refazer o rosto e ele ficou lá uns dias.

E o que vocês fizeram depois disso?

Quando ele saiu do hospital, nós fomos à delegacia fazer um boletim de ocorrência. Na ocasião a delegada achou tão absurda a história que ela pediu imagens do videomonitoramento de Vila Velha e conseguiu até uma gravação com áudio de algum estabelecimento. Ai tem tudo isso anexado no processo. O agressor foi identificado e preso.

Ele continua preso?

Não. Uma semana depois ele saiu porque o advogado conseguiu tirá-lo. Nem sei se ele sabe que o meu filho morreu. Eles tentaram até fazer uma negociação com meu filho para ele não fazer queixa, mas meu filho denunciou, sim. Meu filho quis e abriu o processo.

Seu filho não preferia esquecer tudo?

Não era questão de esquecer. Não era questão de dinheiro. Era de respeito. Ele abriu o processo e quando ele morreu eu tomei parte, que é o que está em processo agora. Eu vou continuar representando ele na Justiça e tenho esperança de que o agressor pague pelo que ele fez.

A lei ajudaria nesse caso?

Claro! Agora, sendo lei, tenho ainda mais esperança. Passei a ser autora do processo e serei a primeira pessoa do Espírito Santo a conseguir ganhar um processo por homofobia. Tenho certeza. O que nós queremos é que ele pague na Justiça. Nem me interessa dinheiro, só a Justiça.

E como foi quando ele se assumiu?

Desde os 18 anos ele se assumiu para a família. A princípio teve um problema com o pai, acabou saindo de casa e eu sai também. Fui atrás dele, me separei do meu marido por causa dele e ficamos juntos até ele ir morar sozinho com o companheiro dele. Ele era professor, diretor de faculdade, professor do Ifes e dava aulas particulares. Uma pessoa bem resolvida na vida, com uma vida completa.

E como seu filho morreu?

Depois do trauma ele nunca mais foi o mesmo. Ele morreu vítima da depressão que teve depois da homofobia. Ele ficou em casa. Ele preferia ficar em casa a fazer qualquer coisa.

Como descobriu que ele estava morto?

Ele tinha sumido há um tempo e todos da família estavam atrás dele. Meu irmão foi atrás da casa dele, chamou um chaveiro para abrir a porta e viu o corpo dele jogado no chão. Quando ele veio falar comigo pelo rosto dele eu sabia que o Roberto tinha morrido. Depois disso não lembro de mais nada. Só sei que no outro dia estava no cemitério enterrando o meu filho.

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