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Populações sem rede de esgoto têm renda menor e estudam por menos tempo

Populações sem rede de esgoto têm renda menor e estudam por menos tempo

Falta de saneamento interfere na produtividade do trabalho e no desempenho escolar

Publicado em 4 de maio de 2019 às 22:29

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José Luciano mora na beira do rio em Cariacica. (Marcelo Prest)

Danos ambientais, mau cheiro, doenças. Essas são as consequências mais conhecidas da falta de tratamento de esgoto. Mas não é só isso, há uma relação com a situação socioeconômica. Um estudo feito pela ONG Trata Brasil mostrou que as populações não atendidas com esse serviço básico têm renda menor e estudam por menos tempo.

Segundo a análise, do ponto de vista do mercado, a falta de saneamento interfere na produtividade do trabalho e no desempenho dos estudantes, com efeitos de longo prazo expressivos sobre a renda das famílias.

“A criança que fica doente com recorrência não vai bem na escola. Acaba se tornando um aluno que aprende menos, um profissional que sabe menos e essas consequências vão rebatendo em outras áreas”, explica o presidente executivo do Trata Brasil, Édison Carlos.

Na Região Metropolitana da Grande Vitória, a renda média mensal de pessoas que vivem em locais com saneamento é de R$ 2.571. Já aqueles que moram em locais onde não há coleta de esgoto, ganham em média R$ 1.373. Uma diferença de 46%.

“Dentro da casa, a mulher é a mais impactada. É ela que cuida do marido, dos filhos, dos idosos, que são quem se contaminam. Por assumir a saúde da família, ela perde mais dias de trabalho e falta até no seu lazer”, diz.

Ele lembra que a falta de saneamento está em locais ricos e pobres, no entanto, é quem mora mais próximo do esgoto que mais sente essas consequências.

Na casa de José Luciano de Jesus, 65 anos, que fica na beira do Rio Formate, em Cariacica, moram mais quatro pessoas sendo três adultos e uma criança, de 3 anos. Só o idoso trabalha, fazendo bicos em obras. A renda, de cerca de R$ 400 por mês, exige que ele faça alguns sacrifícios. “Queria sair daqui um dia, comprar um terreno longe do rio. Mas nunca sobra nada”, conta.

Foi Luciano mesmo que construiu a casa onde a família mora, juntando pedaços de madeira de outras obras e até “cortando no mato”. Rede de esgoto não tem. Dos fundos do barraco sai um cano que leva o esgoto da família direto para dentro do rio. Ele não é o único. Em todas as casas vizinhas é possível perceber o mesmo modelo de encanamento.

Diante de tantas provações da vida, Luciano não tem muita perspectiva para o neto. “Peço a Deus que ajude a minha família, que abençoe o Lorenzo, pra ele sair daqui.”

ALUGUEL

A ONG demonstrou ainda que a presença ou não de tratamento de esgoto em um determinado local afeta o mercado imobiliário. Isso porque o saneamento valoriza as construções existentes e possibilita edificações de maior valor agregado, o que implica aumento do capital imobiliário das cidades.

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Na Grande Vitória, o valor médio dos aluguéis em locais onde há saneamento é de R$ 714. Enquanto que onde não há coleta de esgoto, esse valor cai para R$ 381.

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