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Canhões de névoa serão instalados contra o pó preto na Grande Vitória

Canhões de névoa serão instalados contra o pó preto na Grande Vitória

No Dia do Meio Ambiente, A GAZETA mostra 4 desafios e soluções para a área

Publicado em 5 de junho de 2019 às 00:38

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O professor Danilo Abdala Guimarães, 55 anos, mora em um prédio no final da Praia de Camburi, em Vitória. No local, todos os moradores fecharam as varandas para tentar reduzir o contato com o pó preto. (Marcelo Prest)

Há décadas os moradores da Grande Vitória aguardam por uma solução para o pó preto, que nunca vem. A redução dessa poeira é um dos desafios que devem ser lembrados hoje, Dia Mundial do Meio Ambiente. No entanto, segundo a prefeitura, a implantação de canhões de névoa, ainda este mês, entre outras medidas, deve diminuir a poeira particulada vinda dos depósitos de minério no Porto de Tubarão, na Capital.

“Os canhões seriam instalados pela Vale só em dezembro, mas conseguimos antecipar para junho. Vai reduzir a emissão do pó”, afirma o secretário de Meio Ambiente de Vitória, Luiz Emanuel Zouain. Também está previsto para este mês, ainda segundo ele, que a empresa entregue um estudo que vai permitir a instalação de novos pontos de monitoramento da qualidade do ar na Capital. Ambas ações são parte do acordo feito pela empresa com a prefeitura para que houvesse a desinterdição de três áreas da Vale, fechadas em fevereiro deste ano por conta de vazamentos de resíduos para o mar.

Por meio de nota, a Vale informou que estão em andamento a instalação dos canhões de névoa no pátio de pelotas e também projetos para ampliação da capacidade dos reservatórios e água e efluentes. “Nos próximos cinco anos estão previstas também outras intervenções, como a instalação de quatro novas barreiras de vento (wind fences) e o fechamento e/ou adequação de 40 km de correias transportadoras”, afirmou.

GRAVES

Além do pó preto, ainda faltam soluções para problemas ambientais graves no Estado: o esgoto continua correndo a céu aberto em muitos locais, os lixões ainda existem e a reciclagem não chega a todos. Além disso tudo, estamos cada vez mais perto de um cenário de falta de água por conta de irrigação incorreta, desmatamento e falta de planejamento na utilização das rios. 

Mas muita coisa já vem sendo foi feita. Na Serra, a prefeitura em parceria com uma empresa privada conseguiu aumentar a cobertura de rede de esgoto de 58% para 86% em três anos, atendendo 120 mil pessoas a mais.

Outras iniciativas não tiveram tanto sucesso. Os prazos previstos no Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com o Ministério Público do Estado para erradicar os lixões no Espírito Santo venceram, sem que o problema fosse resolvido.

“Nós sempre lidamos com o meio ambiente como recurso, a partir do qual a gente consegue produzir outras coisas. Mas as pessoas não entendem que ele é finito”, afirma o engenheiro ambiental e especialista em desenvolvimento sustentável Bruno Navarro.

Segundo ele, a degradação das condições ambientais se intensificou quando a população deixou de ser majoritariamente rural e passou a ocupar as áreas urbanas. “Hoje, 90% vive nas cidades. Essa aglomeração gera muito esgoto, muita necessidade de consumo de água, muito resíduo sólido... Ou seja, os impactos estão aglomerados em pontos pequenos”, destaca.

Navarro afirma que a ocupação urbana sem planejamento criou muitos dos problemas com os quais convivemos hoje. “Sofremos com as com enchentes, porque o solo ficou impermeabilizado nesse processo. Os rios se transformam em valões, começa a faltar água de qualidade”, diz.

SOLUÇÕES

Para o especialista, para que mudanças sejam vistas é preciso que a questão ambiental seja colocada de forma central nas elaborações de políticas públicas. “As pessoas precisam demandar mais para que isso vire pauta de governo”, avalia.

Ele acredita que é possível, com investimentos importantes, reduzir os impactos sobre o meio ambiente. “Em relação à poluição do ar, por exemplo, podemos investir em alternativas de mobilidade que não poluam, exigir que indústrias invistam em tecnologias que reduzam esse impacto”, diz.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que 23% das mortes no mundo ocorrem por conta de poluição, principalmente do ar, da água e do solo. “Estamos morrendo por deixar o ambiente doente. A forma como estamos vivendo está gerando grande impacto na natureza e isso volta para a gente”, afirma.

ESGOTO

Obras e parcerias para ampliar rede

Valão em Barramares, onde Ronaldo vive: comunidade aguarda rede de esgoto. (Vitor Jubini)

Ter rede de esgoto disponível é essencial para saúde, bem-estar e dignidade da população. Mas, de tanto esperar, Ronaldo Santana, morador de Barramares, em Vila Velha, já apela a Deus que a obra chegue ao bairro. “As crianças aqui ficam muito doentes quando chove e a água do valão sobe”, conta.

Segundo ele, um projeto de drenagem e pavimentação na região está sendo feito. “Parece que a rede de esgoto vem junto. Estou pedindo a Deus para que venha”, diz.

Como mostrado em maio por A GAZETA, quatro em cada dez moradores da Grande Vitória dispensam esgoto de forma irregular, o que acaba poluindo rios e o mar. Desses, três não têm rede disponível e um tem, mas não faz a ligação.

A cidade que mais vem avançando nessa questão é a Serra que, em 2015, firmou parceria Público-Privada (PPP) para universalização de rede de esgoto até 2023. Lá, o índice de cobertura saltou de 58% para 86%. Segundo o município, para 2019, estão previstos R$ 43 milhões em obras para ampliar a rede.

Vila Velha, onde mora Ronaldo, também aderiu em 2017 ao modelo PPP com o objetivo de, em até 10 anos, ampliar a cobertura de rede para 95%. Atualmente, na cidade, cerca de 45% da população dispensa esgoto de forma irregular, seja por falta de rede ou por não fazer a ligação. Segundo o município, serão investidos R$ 700 milhões com o objetivo de manter, operar, ampliar e universalizar o serviço de coleta e tratamento de esgoto na cidade.

Já a obra em Barramares faz parte de um contrato de R$ 3 milhões e também deve atender o bairro João Goulart. O contrato foi publicado em abril e a obra tem cerca de um ano para ficar pronta.

Em Vitória, cidade com melhor cobertura no Estado, foi firmado com a Cesan neste ano um convênio. O plano é que o município tenha 100% do esgoto coletado e tratado até 2025. Cerca de R$ 137 milhões serão investidos nas redes de esgoto. Em relação aos bairros que receberão obras no sistema de esgoto, a maior parte é localizada em áreas elevadas da cidade, como Itararé, Bairro da Penha, Bonfim, Gurigica, Piedade, Romão, Fonte Grande e Conquista.

Cariacica, que tem um os piores índices de cobertura da Grande Vitória, informou que faz, atualmente, revisão do Plano de Saneamento Básico, que inclui esgotamento sanitário. Informa ainda que, em 2018, foram enviadas 136 notificações para imóveis realizarem a ligação à rede.

Grande Vitória

Proporção da população que joga esgoto de forma irregular

Cariacica: 63,59%

Serra: 27,84%

Vila Velha: 45,65%

Vitória: 16,88%

O que está sendo feito

Vitória – Contrato firmado com a Cesan para que o município tenha 100% do esgoto coletado e tratado até 2025.

Vila Velha – Aderiu em 2017 à parceria público-privada (PPP) para, em até 10 anos, ampliar a cobertura de rede para 95%.

Serra – Após PPP, índice de cobertura saltou de 58% para 86%. Para 2019, estão previstos R$ 43 milhões em obras para ampliar a rede.

Cariacica – O município faz revisão do Plano de Saneamento Básico, que inclui esgoto.

PÓ PRETO

Ações para diminuir poluição no ar

Além da sujeira em casa, Paulo Vitor diz que sofre com problemas respiratórios. (Carlos Alberto Silva)

É difícil encontrar morador de Vitória que não tenha se alarmado ao passar a mão sobre um móvel e ver a poeira escura que se acumulou. O problema do pó preto acompanha a Capital há décadas e parece não ter fim. Mas ações como a instalação de novos canhões de névoa devem ajudar a reduzir a poluição.

Paulo Vitor Aquino, 29, vive na Mata da Praia, de frente para a praia de Camburi, e é lembrado diariamente das atividades do Porto de Tubarão pela poeira que invade o apartamento.

Segundo ele, no entanto, a sujeira é a menor das consequências. “Eu tenho rinite, minha mãe e meu irmão têm sinusite. A gente entende que possivelmente possa ser por conta do pó”, afirma.

No entanto, segundo a prefeitura, a implantação de canhões de névoa, ainda este mês, deve diminuir a poeira particulada vinda dos depósitos de minério no Porto de Tubarão.

A medida foi uma das condicionantes na assinatura de acordo de desinterdição da mineradora Vale em fevereiro deste ano. No dia 7 daquele mês, o município havia fechado três áreas da empresa por vazamento de resíduos no mar.

Outras duas medidas previstas no acordo também devem ser entregues neste mês: o projeto para ampliação da bacia de rejeitos, para que não haja mais vazamento para o mar; e a entrega de um estudo para instalação de equipamentos de monitoramento do ar da Capital. “Hoje Vitória não tem controle das estações de monitoramento, está com o Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente)”, afirma o secretário de Meio Ambiente de Vitória, Luiz Emanuel Zouain.

Além disso, o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos vai lançar hoje o inventário de emissões poluentes da Grande Vitória, que permitirá apontar as fontes poluidoras do ar da região. O documento, no entanto, vai sair com atraso: ele deveria ter sido lançado em 2015.

Mas Paulo Vitor, como integra a Associação de moradores do bairro, diz que a situação parece longe de ser resolvida. “Houve a wind fence que não foi suficiente. Não há histórico positivo nesse caso”, diz.

Ele afirma que vai acompanhar a Frente Parlamentar de Fiscalização do Pó Preto, que começou no fim de maio na Assembleia Legislativa. O grupo planeja fiscalizar o cumprimento das 191 metas para reduzir a emissão de poluentes na Grande Vitória, conforme Termo de Compromisso Ambiental celebrado entre Vale e ArcelorMittal e o Iema e a Secretaria de Estado do Meio Ambiente. Das 191 metas estabelecidas nos TCAs, 65 vencem em 21 de setembro.

O problema

Minério no ar

Há décadas, os moradores da Capital sofrem com o pó preto. Além de sujar as casas, muitas pessoas reclamam de problemas respiratórios.

Ações

Canhão de névoa

Os canhões que vão lançar água sobre as pilhas de minério nos pátios da Vale para evitar que material particulado seja levado com o vento deve começar a operar neste mês, segundo a prefeitura de Vitória.

Estudo

Também será apresentado neste mês um estudo para implantação de uma rede de monitoramento de ar para a cidade.

Fiscalização

Uma Frente Parlamentar vai acompanhar o cumprimento do Termo de Compromisso Ambiental (TCA) firmado com ArcellorMittal e Vale e governos que tem 191 metas a serem cumpridas pelas empresas.

LIXO

Coleta seletiva avança, mas volume é pouco

Cristina Puppim e parceiros de ONG mostram produtos feitos com material reciclado. (Carlos Alberto Silva)

A Grande Vitória avança na ampliação da coleta seletiva de resíduos, segundo as prefeituras. Mas o volume de recicláveis captado ainda é pequeno. Em Vitória, onde é recolhido o maior volume de lixo reciclável – 250 toneladas por mês –, o montante só corresponde a 2,5% do lixo recolhido na Capital.

Em comparação, em Cariacica, o volume é de 40 toneladas por mês e, na Serra, apenas 12,7 toneladas. Vila Velha não respondeu à reportagem.

Todas as prefeituras apontaram que estão viabilizando meios para ampliar o serviço.

De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2010, a implantação da coleta seletiva é obrigação dos municípios.

A presidente do Movive, ONG de desenvolvimento Sustentável de Vila Velha, Cristina Puppim, afirma que atualmente o que chega às associações de catadores, além de ser pouco é resíduo de péssima qualidade. “Temos que aumentar a quantidade de resíduo levado à associação e educar a população para que aprenda a fazer o descarte correto”, diz.

Segundo ela, é preciso que os municípios tratem a questão com a importância que ela merece. “Fora do Brasil funciona. Por que a gente não consegue?”

Outro ponto da política Nacional de Resíduos Sólidos também não tem saído como previsto. Após anos de tratativas entre Ministério Público do Estado (MPES), o Ministério Público do Trabalho (MPT), o Instituto Estadual do Meio Ambiente (Iema) 11 municípios ainda têm lixões ou aterros não licenciados.

Os Termos de Compromisso Ambiental (TCA) com os municípios foram firmados entre 2013 e 2015. O objetivo era encontrar soluções para o descarte do lixo e recuperar as áreas degradadas pela atividade. No entanto, o problema persiste. “Todos os prazos concedidos nos aditamentos de TCAs se encerraram em dezembro de 2018, sem que houvesse êxito na resolução do problema”, afirmou o MPES.

A maioria dos lixões está na região Norte do Estado. De acordo com o MPES, a maior dificuldade desses municípios é a falta de um aterro licenciado na região, o que faz elevar muito os custos com o transporte do lixo. “Grande parte dos aterros sanitários licenciados estão localizados na Região Metropolitana. Diante disso, os municípios encontram dificuldades financeiras, já que o custo do transporte se torna excessivamente elevado”, afirmou o órgão por meio de nota.

O MPES lembrou ainda que, no início de 2018, o Ibama realizou diversas autuações em municípios que ainda possuem lixões, gerando multas às prefeituras.

Reciclagem

A coleta seletiva na Grande Vitória avança lentamente.

- Vitória: 250 toneladas recolhidas por mês

- Cariacica: 40 toneladas recolhidas por mês

- Serra: 12,7 toneladas recolhidas por mês

- Vila Velha: 17 toneladas de lixo recolhidas por mês

Lixões

Política Nacional de Resíduos Sólidos

Implantada em 2010, a política previa a erradicação dos lixões.

Termo de Compromisso Ambiental (TCA)

Foram firmados TCAs em 2013 e 2015 entre os municípios e o MPES

Resultado

Os prazos previstos nos documentos venceram no fim de 2018 e 11 municípios ainda estão irregulares.

RIOS EM RISCO

Metas para recuperação das bacias

Rio Itaúnas é um dos que estão em situação mais crítica no Espírito Santo. (Fernando Madeira)

Esgoto, lixo, efluentes industriais, falta de vegetação ciliar, irrigação incorreta... As intervenções humanas têm colocado em risco as bacias hidrográficas do Estado. O fato é notório e foi confirmado em um relatório conduzido pela Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh) e Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). No documento – que mostra que alguns locais correm risco de virar desertos –, também aponta ações para serem implementadas em até 20 anos.

No entanto, as mais urgentes precisam ficar prontas em quatro anos, um “prazo impossível” segundo o presidente do Fórum dos Comitês de Bacias do Espírito Santo, Paulo Moulin Breda.

“É pouco tempo. Um exemplo é a questão do esgoto e dos efluentes industriais. Os municípios têm os planos de saneamento há anos e continuam fazendo tudo da mesma forma, o esgoto está sendo jogado nos rios sem que providências sejam tomadas”, diz.

Característica comum às bacias do Espírito Santo, algumas áreas de pastagem chegam a ocupar mais da metade do território. Em regiões onde não tem chuva, a demanda hídrica é maior, provocando o uso excessivo de irrigação, atividade que, em muitos locais, não há o planejamento adequado. Na bacia do Itaúnas, no extremo Norte do Estado, mais de 90% da demanda é para irrigação. Uma das estratégias é definir índices de uso racional da água na agricultura. Também estão previstas ações para reflorestamento, uma vez que apenas 9,5% da bacia têm cobertura florestal, e há áreas suscetíveis à desertificação.

Para Breda, tão importante quanto formalizar os planos para salvar as bacias é a vontade política, que, ele aponta, está em falta. “Da maneira como está hoje, é impossível cumprir a meta em quatro anos. Prefeitos não levantam a bandeira do meio ambiente e dos recursos hídricos porque não dá voto”, diz.

A ação dos municípios é essencial pois os recursos do fundo dos comitês de bacias, que vêm do governo federal, é pequeno. Cerca de R$ 30 mil anuais. “Não tem como fazer gestão de recursos hídricos com esse valor”, afirma Breda.

Para ele, a solução para que haja mais celeridade nas ações que podem salvar alguns rios importantes é a mobilização popular. “A sociedade precisa entender que algumas doses de remédio são necessárias. Se querem que seus filhos tenham água de qualidade, é preciso se abster de algumas ações agora. Não podemos mais utilizar a água como nossos avós faziam”, pondera.

Plano de bacias

Estudo

Instituto Jones dos Santos neves e Agência Estadual de Recursos Hídricos avaliaram as bacias hidrográficas do Estado, mostrando ações a serem apresentadas.

Prazos

Estão previstas medidas de curto (4 anos), médio (12 anos) e longo prazo (20 anos).

Problemas identificados

Pastagem

Em alguns locais, as pastagens cobrem 60,7% da área da bacia.

Saneamento

A qualidade da água é ruim próximo às sedes municipais.

Irrigação

Na bacia do São Mateus, 95% do uso da água é para irrigação.

Cobertura vegetal

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Em algumas bacias, sobraram menos de 10% da cobertura original de florestas.

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