> >
Falta acostamento e sobra buraco na BR 262

Falta acostamento e sobra buraco na BR 262

Importante rota para o turismo e a economia, via tem asfalto ruim, trechos sem acostamento, pista simples e não vê mudanças significativas há 50 anos

Publicado em 29 de junho de 2019 às 22:46

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Viagem pela BR 262, do Trevo de Viana até Pedra Azul . (Fernando Madeira)

Basta o termômetro começar a registrar temperaturas mais baixas que, gradativamente, aumenta o fluxo de turistas nas estradas em direção à Região Serrana do Estado. Na BR 262, principal ligação do litoral com as montanhas, o crescimento no volume de motoristas é visível a cada final de semana em que quilômetros de filas se formam para testar a paciência daqueles que só querem curtir um friozinho. Só não dá para ver solução a curto prazo para a prometida duplicação, que tornaria a rodovia mais segura, ou manutenção adequada para eliminar de vez os buracos da pista.

Com um traçado sinuoso que segue cortando as montanhas, a BR 262 tem longos trechos sem acostamento. Qualquer imprevisto no caminho – pneu furado, pane mecânica – e não há para onde escapar. Boa parte do trajeto também é de pista simples, que dificulta a ultrapassagem. É ainda local de tráfego intenso de caminhões, pois trata-se de uma das rodovias transversais, que corta o país de Leste a Oeste, passando por cidades do Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul.

Percorrendo um trecho capixaba de pouco mais de 70 quilômetros entre Viana e Pedra Azul, região de Domingos Martins, a reportagem de A GAZETA se deparou com todos esses problemas na BR 262. A falta de duplicação é a principal queixa de motoristas entrevistados no percurso.

Obra de ponte, no km 69,5 da rodovia, foi paralisada por determinação do Tribunal de Contas da União. (Fernando Madeira)

Obra parada

Morador de Marechal Floriano, o lavrador Alcemir Denis Borlot, 39 anos, usa a rodovia quase toda semana transportando esterco em um caminhão. Para ele, a BR não é segura. “A rodovia tem muita curva. Se fizesse a duplicação, iria melhorar muito. Mas a obra está parada”, lamenta. Ele se refere à suspensão da obra no trecho entre os kms 49 e 56, de Marechal a Paraju (Domingos Martins), após auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), por indícios de irregularidade.

De Sabará, Minas Gerais, o caminhoneiro Antônio Carlos da Silva, 51 anos, ressalta o fato de a rodovia ser “muito apertada e cheia de curvas”. Embora não chegue a invadir a contramão ao curvar na rodovia, ele diz que não é raro passar bem colado a outros motoristas, devido ao tamanho de seu caminhão (em torno de 18 metros), quando trafega em uma pista simples.

Para Alcemir Borlot, a BR 262 melhoraria com a duplicação. "A obra começou e não deram continuidade. E os buracos? Tampam e rapidinho abrem de novo.". (Fernando Madeira)

A comerciante Ana Teixeira conta que muitos motoristas que passam por seu estabelecimento, na região de Pedra Azul, reclamam do tempo que levam para chegar a seu destino, principalmente nos finais de semana e feriados, porque a rodovia fica muito movimentada e a falta de duplicação não permite que desenvolvam um pouco mais de velocidade.

“Acho que a duplicação também diminuiria os acidentes porque, se a pessoa está apressada, talvez (hoje) ultrapasse num ponto que não pode. Duplicada, daria mais segurança”, ressalta.

Buracos

Outra reclamação frequente é em relação à manutenção da pista. Especialmente a partir da sede de Marechal Floriano até Pedra Azul, há muitas trincas e buracos no asfalto. O serviço de recuperação até é feito, mas ao que tudo indica a qualidade do material ou a baixa qualificação de quem está executando a atividade comprometem o resultado final. Com pouco tempo, o asfalto cede novamente e o trajeto volta a ficar tomado por buracos.

Os comerciantes Ana Teixeira e Rafael Canal, de Pedra Azul, sempre ouvem reclamações de motoristas sobre a falta de duplicação e radar sem sinalização. (Fernando Madeira)

Para o lavrador Agnaldo Barbosa Souza, 34, que usa a rodovia diariamente, a “buraqueira” é um transtorno. “Eles têm que tampar esses buracos direito. Só tampam por cima, não fazem o serviço direito”, opina.

Um dos locais com o problema, no trajeto feito pela reportagem, foi no quilômetro 69,5, diante da Cachoeira da Bica, um dos pontos turísticos às margens da rodovia. A cratera ocupava boa parte da pista no sentido Domingos Martins-Marechal Floriano. Por lá, a obra da ponte também está paralisada. À noite, todo o percurso fica ainda mais arriscado para os motoristas, com tantos desníveis e buracos ao longo da 262.

Por sua vez, o caminhoneiro Leonardo Ribeiro dos Reis, 36, considera a falta de acostamento um dos principais problemas de uma rodovia cheia de curvas como a BR 262. Na sua opinião, se pelo menos houvesse uma terceira pista, já que a duplicação lhe parece mais difícil de ser realizada, poderia minimizar os riscos.

Um dos pontos críticos para o caminhoneiro Leonardo Ribeiro dos Reis é a falta de acostamento da rodovia. "O trajeto é perigoso", avalia. (Fernando Madeira)

“Às vezes, o carro dá problema em uma curva e não tem um acostamento para o motorista parar. De noite, é ainda mais perigoso”, observa Leonardo, acrescentando que as viagens noturnas têm um grau maior de risco também por conta da cerração comum nesta época do ano na região serrana.

VEJA VÍDEO COM OS PROBLEMAS DA BR 262

AUDIÊNCIA EM 30 DIAS

Há seis anos no pacote de rodovias do governo federal para concessão à iniciativa privada sem ter andamento, o processo da BR 262 ganha um novo capítulo. No próximo mês, será iniciado o período de consultas públicas sobre o projeto referente à rodovia. É o que aponta o Ministério da Infraestrutura, que prevê a abertura das audiências no final de julho.

O ministro Tarcísio Gomes de Freitas já manifestou, em visita ao Estado no mês passado, que a duplicação está prevista no contrato e que, durante a consulta pública, serão divulgados os pontos onde a obra será necessária.

A concessão tem prazo de 30 anos e o investimento previsto é da ordem de R$ 9,2 bilhões para o trecho de 672 quilômetros, do Espírito Santo até Belo Horizonte, em Minas Gerais, pegando uma parte da BR 381. Desse total, 605 quilômetros deverão ser duplicados.

Obra de ponte, no km 69,5 da rodovia, foi paralisada por determinação do Tribunal de Contas da União. (Fernando Madeira)

Ao passar à iniciativa privada, a rodovia terá pedágio. Segundo a assessoria do ministério, a expectativa é que o preço da tarifa seja reduzido até a conclusão das obras. Os valores de pedágio ainda estão em estudo.

Em 2013, já havia sido feito um leilão de concessão da BR 262, que fracassou na época por falta de interessados.

Dnit

Antes da concessão, porém, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes do Espírito Santo (Dnit-ES) já havia assumido a duplicação de trechos da BR em território capixaba, totalizando 52 km. A primeira etapa da obra, de sete quilômetros – entre o km 49 (Marechal Floriano) e o km 56, no trevo de Paraju (Domingos Martins) – deveria ter sido concluída mês passado. As outras duas etapas não foram iniciadas.

O serviço no trecho de 7km começou em maio de 2018, mas indícios de irregularidades levaram o Tribunal de Contas da União (TCU) a pedir a mudança no curso das obras – hoje paralisadas. De acordo com a assessoria do órgão, “ainda não há deliberações ou determinações do TCU sobre o caso”, ou seja, não há previsão para os trabalhos serem retomados.

Superintendente do Dnit no Estado, Romeu Scheibe Neto explica que o problema identificado pelo TCU é de ordem administrativa – o edital, quando lançado em 2013, fazia referência a um terreno ondulado, e o projeto de duplicação foi preparado para um terreno montanhoso, que é o característico da região. Por isso, o TCU determinou que a obra só poderia continuar se o projeto fosse revisto para implementar um traçado na rodovia para terreno ondulado ou, então, deveria ser feita uma nova licitação. De uma forma ou outra, Romeu afirma que o custo da obra vai aumentar. Por isso, tenta junto ao TCU modificar a decisão do órgão a fim de manter a despesa original.

Movimento grande, muitas curvas, pista simples. Essa combinação da BR 262 é um problema para Antônio Carlos da Silva. "É arriscado demais dirigir aqui!". (Fernando Madeira)

O problema é que, se não houver uma definição até outubro, o Estado perde os R$ 45 milhões que estão reservados para a conclusão da obra. Romeu acrescenta que, quando os serviços foram paralisados, cerca de 70% da terraplanagem já havia sido concluída. O superintendente diz ainda que, se o TCU mudar de posicionamento e liberar nos próximos dias a continuidade da obra, um novo cronograma deverá ser preparado, mas estima que a duplicação desse trecho seja concluída em janeiro de 2020.

Quanto à manutenção da rodovia, Romeu ressalta que as operações tapa-buraco e de capina estão em andamento, porém intervenções mais significativas só poderão ser executadas após a temporada de inverno das montanhas. O superintendente argumenta que obras de fresagem (retirada do asfalto desgastado para colocação de um novo) neste período aumentariam as dificuldades no tráfego.

ENTENDA

Duplicação

Edital

Em 2013, foi lançado edital do Dnit-ES para duplicar 52 km da BR 262, entre Viana e Victor Hugo (Domingos Martins).

Etapas

A primeira etapa, entre o km 49 (Marechal Floriano) e o km 56, no trevo de Paraju, em Domingos Martins, foi iniciada em maio de 2018 e deveria ser concluída em um ano. As outras duas etapas não foram iniciadas.

Paralisação

Em dezembro de 2018, o Tribunal de Contas da União (TCU) decidiu que, para a obra continuar, havia duas possibilidades: nova licitação ou mudança no projeto. A obra foi paralisada em abril e, se não for retomada até outubro, o Estado perde os R$ 45 milhões reservados para finalizar o serviço.

Concessão

Este vídeo pode te interessar

Paralelamente, está em curso proposta para concessão de 672 km da rodovia, do Espírito Santo até Belo Horizonte (MG). Duplicação está prevista para 605 km do trajeto. Haverá consulta pública.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais