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Governo quer leitos de transição para desafogar os hospitais do ES

Governo quer leitos de transição para desafogar os hospitais do ES

Estado promete criar 100 vagas para pacientes de cuidados prolongados

Publicado em 16 de junho de 2019 às 22:28

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Hospital Vila Velha. ( A Gazeta)

Para reduzir os gastos públicos com a compra de leitos e outros serviços na rede particular, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) reconhece que é necessário melhorar a gestão hospitalar. Uma série de medidas estão sendo preparadas nessa área, mas também há planos de ampliação das vagas de internação e a criação de uma nova categoria: a de leitos de transição. Pelo menos 100 deles já estão no planejamento do órgão.

Os leitos de transição serão para atender aqueles pacientes cujos problemas de saúde não exigem internação em grandes hospitais, mas que precisam de cuidados prolongados. São pessoas com sequelas de AVC (derrame cerebral), com Alzheimer ou mesmo de famílias com problemas sociais que não podem – ou não querem – fazer o acolhimento do doente.

“Temos hoje mais de 150 pacientes nessas condições. É um hospital inteiro de pessoas ocupando uma estrutura de alta complexidade e que poderiam ficar em leitos de transição”, observa Tadeu Marino, subsecretário estadual para assuntos de Regulação e Organização da Atenção de Saúde.

Para atender a esse perfil de paciente, a Sesa pretende ampliar uma ala do Hospital Estadual de Atenção Clínica (Heac), em Cariacica, com a oferta de 100 vagas.

Tadeu Marino trata essa questão como uma ‘política de desospitalização’, com melhor gestão das vagas para internação. Ele conta que, no início do ano, havia 50 pacientes internados em hospitais precisando apenas de hemodiálise, um tratamento para doentes renais que, em geral, não necessitam ocupar leitos.

“Fizemos o credenciamento de um local para realizar o serviço e tiramos essas pessoas de dentro dos hospitais”, aponta.

Domiciliar

A assistência a pacientes que precisam de cuidados prolongados – ou paliativos, para os que têm doenças terminais – também poderá ser domiciliar. O subsecretário diz que equipes serão treinadas para prestar esse tipo de atendimento.

“Só o Espírito Santo não tem o ‘Melhor em Casa’ (programa do Ministério da Saúde de atenção domiciliar). Vamos capacitar os profissionais de atenção primária (dos municípios) para receber esse paciente, e também as famílias para realizar os cuidados domiciliares”, ressalta Tadeu Marino.

O subsecretário diz que a Sesa também está trabalhando para, em parceria com os municípios, melhorar a assistência primária e, dessa maneira, diminuir a demanda por serviços hospitalares, mais complexos e mais caros.

Outro projeto, segundo Tadeu Marino, é criar uma rede com os hospitais de pequeno porte (abaixo de 50 leitos) pelo interior do Estado para realizar pequenas cirurgias, receber pacientes de cuidados prolongados ou de saúde mental e, assim, retirar essas pessoas de dentro dos hospitais de alto custo.

“Vamos fazendo tudo ao mesmo tempo. Começando a colocar essas medidas em prática, no próximo ano já vamos ter bons resultados”, avalia.

 

 

Compra

Mas, ainda que todas as iniciativas estejam em funcionamento, Tadeu Marino admite que a compra de leitos em hospitais da rede privada não deixará de ser feita, se houver demanda. A prioridade pela internação é na rede própria, depois na filantrópica e, somente se não houver vagas, vai para a particular.

“Quando o Estado precisa, tem que comprar. O ideal seria que nossa rede pudesse dar resolutividade a toda busca por leito e serviço e falo isso sem nenhum preconceito administrativo, de não poder trabalhar com o privado. Até porque, quando esgotam o público e o filantrópico, o privado está apto a fazer a complementação do SUS”, frisa.

Tadeu Marino acrescenta que os médicos reguladores podem fazer esse processo de compra. “São cerca de 500, 550 leitos por mês”. A média de 2019, segundo o subsecretário, se mantém como a do ano passado para os hospitais. Para pacientes de saúde mental, houve uma redução na compra porque houve incremento no número de leitos credenciados e da rede própria.

ANÁLISE: "É preciso gestão"

Do ponto de vista econômico, a tendência é um aumento da demanda por serviços de saúde diante do envelhecimento da população. A necessidade de mais assistência médica é um desafio para os serviços de saúde do Brasil. A demanda cresce num ritmo muito maior do que a capacidade do Estado em atender. No caso dos hospitais, o que se vê é que realmente estão na sua capacidade máxima e nem a adoção de modelos alternativos de gestão estão dando conta de suprir a falha da administração pública. O Brasil gasta com saúde, em percentual do PIB, o montante equivalente aos países desenvolvidos. Não é que falte recursos para a saúde no país, o que falta é gestão eficiente (competente) e moralmente íntegra (que não desvie recursos). O serviço público não demonstra a eficiência que precisaria para gerir os recursos de maneira adequada. (Arilda Teixeira, economista e professora da Fucape)

MÉDICO HOSPITALISTA

A redução do tempo de permanência de pacientes em hospitais é também uma estratégia para ampliar a oferta de leitos dentro da estrutura já existente. Esse é o resultado esperado a partir da incorporação de um novo especialista à rede estadual: o médico hospitalista.

“Em um hospital com 200 leitos, se reduzir de sete para seis dias de internação, ganhamos 30 leitos. Temos uma margem grande para melhorar o tempo médio de permanência. Se, em um ano e meio, reduzir em dois dias esse tempo nos hospitais, ganhamos uma extensão de leitos enorme na rede”, estima o secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes.

“Dentro do serviço que já temos, se aumentar o seu desempenho, conseguiremos reduzir as judicializações de leitos, por exemplo”, acrescenta.

Para fechar essa conta, o secretário aposta na incorporação do médico hospitalista ao SUS - uma especialidade ainda nova no país. “É o médico horizontal, que vai todos os dias ao hospital, assiste o paciente no leito e faz toda a gestão de cuidado dele. É um cuidado compartilhado com outro médico daquele paciente, que permite reduzir o tempo de internação e fazer uma alta segura”, aponta Nésio.

Risco

Questionado sobre como seria diminuir o tempo de internação, e se isso não representaria risco ao paciente, o secretário garantiu que não. A alta, segundo ele, não será dada de qualquer maneira, mas seguindo determinados protocolos.

“Se o paciente internou hoje e a previsão é de alta em três dias, que exames precisa fazer para garantir esse tempo de internação? Ou vou chegar no terceiro dia e pedir um exame novo que vai levar à prorrogação da internação? A gestão do cuidado é feita de maneira planejada, tanto da internação quanto da alta.”

Nésio afirma que é um movimento em que será possível obter resultados rápidos. De quatro a seis meses da implantação do médico hospitalista na rede, segundo o secretário, questões operacionais do dia a dia do hospital já apresentarão melhor desempenho.

Médicos que já atuam nos hospitais da rede poderão se especializar na área. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e a Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (Sobramh) vão assinar um termo de cooperação nesta semana para fazer a formação da equipe.

Medicina hospitalista

O que é

Profissional. O hospitalista é o especialista em medicina interna e atua na economia de recursos, na melhora da qualidade assistencial e na segurança do paciente.

No Espírito Santo

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Parceria. A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e a Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (Sobramh) vão formalizar um termo de cooperação nesta semana para supervisores e professores que vão fazer a formação dos demais profissionais na área, a fim de criar equipes de médicos hospitalistas na rede estadual.

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