Quantas pessoas ainda vão precisar morrer? Quantas famílias ainda serão destruídas? O questionamento é da analista de recursos humanos Fernanda Endlich. Ela perdeu o irmão Aloísio Endlich, na época com 27 anos, no acidente que vitimou outras 10 pessoas, a maioria membros de um grupo de dança folclórica de Domingos Martins. O caso aconteceu em 2017, na BR 101, em Mimoso do Sul.
Ao ver a notícia de mais um acidente envolvendo um caminhão de transporte de granito, que matou três pessoas de uma família na noite da última segunda-feira (10), Fernanda afirma que a dor da perda do irmão voltou à tona. Quando a gente vê uma situação dessa, podemos falar que nós sabemos o que a família passa nesse momento.
Até agora, o dono da carreta e o motorista, apontados como causadores do acidente que matou o irmão de Fernanda, não foram presos. O processo corre na Justiça, em fase final. A família espera que os acusados sejam julgados em júri popular.
Como anda o processo para responsabilizar os causadores do acidente com seu irmão?
O processo está em fase final, aguardando o julgamento que dirá se eles irão a júri popular ou não. A nossa esperança é que o júri popular aconteça para que, assim, os causadores sejam realmente punidos porque, até agora, não houve punição nenhuma. Eles não foram presos em momento algum.
E qual é a sensação de esperar tanto tempo por uma resposta?
É muito difícil para gente. O que nos deixa mais chateados nisso é quando nós vemos a imprudência, a negligência e a irresponsabilidade das transportadoras e das pessoas que são contratadas para fazer as entregas dessas pedras. A gente entende que eles são responsáveis pela segurança até que o produto chegue no destino final. Precisou acontecer mais uma tragédia para que o assunto viesse à tona novamente.
Como você se sentiu quando soube dessa nova tragédia?
Quando a gente vê uma situação dessa, podemos falar que sabemos o que a família dessas vítimas está passando. Ler sobre esse caso faz voltar à tona tudo o que eu e minha família vivemos quase dois anos atrás. Infelizmente, é mais um caso para a estatística.
Para nós, fica cada vez mais óbvio que não há justiça para esses casos, e quando há, ela caminha de forma muito lenta. Nós sabemos que a fiscalização é falha, que a Polícia Rodoviária Federal não tem como fazer a fiscalização como deveria, há uma grande deficiência por parte do poder público. E continua acontecendo. E eu me pergunto: quantas pessoas ainda terão que morrer? Quantas famílias serão destruídas para que haja uma mudança? Quem sofre mais é quem fica aqui. O nosso Estado, infelizmente, virou uma referência muito negativa disso: em menos de dois anos, foram três tragédias gravíssimas. Somando dá quase 40 mortos.
Como é sua vida e da sua família desde o acidente?
O que a gente sabe é que eles nunca mais vão voltar. Infelizmente, eles saíram para uma viagem e não chegaram. A gente espera que a justiça seja feita porque a nossa vida parou depois do acidente. É difícil pra mim, para o meu irmão, para a minha mãe. Sempre falta um lugar na mesa. É uma presença que foi tirada de forma muito trágica e agressiva. A gente conversou com ele uma hora antes do acidente. Quando vemos novos casos a gente revive tudo de novo.
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