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'Mãe, agora sou seu herói', vibra menino autista ao ir à farmácia sozinho

"Mãe, agora sou seu herói", vibra menino autista ao ir à farmácia sozinho

A mãe de Davi, de 10 anos, Raphaella Jesus de Oliveira conta por redes sociais cada conquista do filho e também falou à reportagem do Gazeta Online sobre as barreiras que Davi quebra todos os dias

Publicado em 19 de junho de 2019 às 15:08

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Raphaella e o filho Davi . (Reprodução/Instagram)

Autismo é um transtorno de desenvolvimento que prejudica a capacidade de se comunicar e interagir. O pequeno Davi de Oliveira Garcia, de 10 anos, é autista. Ele foi diagnosticado há quatro anos e começou a desenvolver a fala há um ano. Antes disso, conversava apenas por palavras soltas: "mamãe", "água". Com tantas mudanças em tão pouco tempo, há quase um mês, Davi conseguiu ir até a farmácia sozinho e virou um herói.

A mãe de Davi, a gerente comercial Raphaella Jesus de Oliveira, de 33 anos, é quem conta, cheia de orgulho, das conquistas do pequeno, que teve um diagnóstico tardio, com seis anos de idade, sobre o autismo.

Raphaella diz que, aos três anos, o filho só conversava com palavras soltas. Aos quatro, Davi foi ao fonoaudiólogo, de onde foi encaminhado para um neurologista e inicialmente diagnosticado com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

"Eu conhecia outras crianças com TDAH, mas todas conversavam e o Davi, não. Eu perguntava para ele todos os dias como tinha sido na escola e ele não falava. Fiquei agoniada e procurei outro neurologista, foi então que ele foi diagnosticado com autismo, daí em diante foram muitas mudanças", relembra a mãe.

Davi frequenta ainda um fonoaudiólogo, além de psicólogo, terapeuta ocupacional e, a cada três meses, visita o neurologista. Os dias, como descreve Raphaella, passaram a ser corridos. Além de tudo, o menino vai muito bem na escola, brinca com os colegas, as professoras contam à mãe que ele aprende o conteúdo apenas ao ouvir as explicações e é uma criança carinhosa. "Ele é meu companheiro das aventuras", diz a mãe.  

"MAMÃE, AGORA EU SOU O SEU HERÓI"

Com o diagnóstico tardio, mas com um grande desenvolvimento, Davi, que tem apenas 10 anos, nunca tinha saído sozinho de casa. E, em maio deste ano, um relato emocionante de Raphaella no Instagram descreveu a primeira vez em que o menino foi até a farmácia, que fica na frente de casa, sem a mãe.

Raphaella explica que, no ano passado, até tentou deixá-lo ir sozinho ao mercado, que também fica perto de casa, mas que teve receio e acabou indo com o garoto.

"Ano passado eu até tentei deixar ele ir ao mercado, mas quando ele desceu eu acabei indo atras dele. Mas dessa vez eu expliquei, falei para ele olhar para os dois lados e ele conseguiu, deu tudo certo. Quando ele chegou em casa, falou "mamãe, eu sou grande agora, sou seu herói", relembra.

"LEGOTERAPIA"

A "legoterapia" é o nome que a mãe deu à brincadeira com fundo de seriedade. O lego, além de mostrar a incrível habilidade de Davi em construir estruturas ou bandeiras de países, por exemplo, também o ajudou a desenvolver a fala, a coordenação motora, a atenção, entre outros aspectos.

"Ele cria tudo o que ele vê ao redor dele. O lego ajudou ele a falar e eu chamo de 'legoterapia'. Tudo o que ele faz, ele quer me mostrar e então eu começo a fazer perguntas sobre o que ele fez e isso o ajudou a falar. Esses dias mesmo ele começou a montar bandeiras de vários países, eu fiquei impressionada, a neurologista ficou encantada e, enquanto ele ia me mostrando, eu perguntava de qual país era a bandeira e ele falava", conta.

Além disso, Raphaella, que tem um conta no Instagram para mostrar as conquistas do filho, conta também que fez algumas publicações sobre o lego e recebeu mensagens de outras mães de filhos autistas dizendo que têm comprado o brinquedo e que a atividade também tem ajudado.

ASSENTO PREFERENCIAL

 

O laço com peças de quebra-cabeça coloridos é o símbolo do autismo. (Reprodução/Pixabay)

Apesar de ainda estar em fase de desenvolvimento da fala, Davi, como afirma a mãe, é sincero e diz o que vem à cabeça. Essa é uma característica de muitas crianças e, em um desses momentos de sinceridade, enquanto voltavam para casa em um coletivo, Davi pediu para se sentar, dizendo estar cansado e os dois ouviram o que não precisava: "mas ele nem tem cara de autista".

"Nós passamos na casa de uma prima e, quando estávamos voltando para casa, o ônibus estava cheio. Depois de um tempo, ele virou para uma moça que estava sentada, na verdade eram dois adolescentes, e falou "com licença, eu quero sentar", eu falei que não, mas ele disse que estava cansado, então um rapaz que estava sentado ao lado dessa moça disse "não levanta não, ele é criança, aguenta ficar em pé", daí eu mostrei a carteirinha de autista para a moça, e ela se levantou. O mesmo rapaz virou para a gente e falou "mas ele nem tem cara de autista", relembra

Então Raphaella começou a entrar em contato com a Ceturb para solicitar que o símbolo do autismo fosse incluído nos avisos de assento preferencial, mas não obteve respostas objetivas. Ela chegou a fazer uma campanha para que mães e pais de autistas também entrassem em contato com o a empresa, mas não houve um retorno positivo.

"Eu entrei em contato com a Ceturb e eles perguntaram qual a linha que eu uso, mas e as outras mães? Não sou só eu quem precisa e eu também disso isso para eles, mas responderam que dependia do número de solicitações. Por isso eu fiz a campanha no Instagram, mas eles começaram a repassar as ligações e não tivemos nenhuma resposta", relata.

A gerente conta que já existem mercados em alguns municípios da Grande Vitória que tem o símbolo, além de cinemas de alguns shoppings.

Ceturb

A Ceturb-ES informa que o autismo está contemplado no símbolo universal da pessoa com deficiência que já existe dentro dos ônibus. A inclusão do símbolo exclusivo do autismo é uma questão que precisa de análise, uma vez que existem várias outras deficiências que fazem parte do rol da legislação em vigor e que também têm direito ao assento reservado.

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A Ceturb-ES afirma que vai reforçar, junto aos consórcios operadores para que motoristas e cobradores sejam orientados para auxiliar em casos como o de Davi. A Companhia ressalta que esse é um problema comportamental e que cada um deve fazer a sua parte para manter a boa convivência dentro dos ônibus, assunto que já foi alvo de campanha educativa da empresa.

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