Com 38 semanas de gestação, Mayara Rogério da Silva, 24 anos, já estava com todas as roupinhas prontas à espera de Bernardo. Ela planejava um parto normal, mas por causa de um sangramento na manhã do último domingo (28), correu às pressas para o Hospital de Cobilândia, em Vila Velha.
O menino seria o segundo filho da dona de casa, mas nasceu morto na madrugada desta terça-feira. A família acusa o hospital de negligência e diz que a demora para realizar o parto fez com que faltasse oxigênio para o bebê.
O que aconteceu no domingo quando você deu entrada no hospital?
Eu acordei sangrando muito e meus pais me levaram para o hospital. Chegando lá eu fui examinada por uma equipe de plantão e a médica disse que provavelmente era um deslocamento de placenta, que ia ter que fazer cesária. Ela marcou a cesária para 17h no domingo, mas pouco depois veio me dizer que tinha cancelado a cesária porque precisava fazer um ultrassom antes. Aí ela marcou o ultrassom para o dia seguinte.
Como foi na manhã de segunda-feira quando você acordou?
Meu filho ainda estava vivo. Eu ouvi o coração dele, senti ele mexer. Mas na hora que a gente foi fazer o ultrassom, por volta das 11 horas, já não tinha mais sinais. Foi quando os médicos descobriram que ele estava morto.
Eles te avisaram que o bebê estava morto?
Sim. Eles disseram que infelizmente ele tinha morrido. A médica não me deu muitas explicações e só disse que meu pré-natal estava atrasado, como se tivesse colocando a culpa em cima de mim. Aí ela disse que eles iam ter que induzir o parto para tirar o bebê e que isso seria feito durante a madrugada.
Como é para uma mãe receber essa notícia?
Eu entrei em desespero. Eu já estava com tudo pronto, tinha levado as roupinhas do Bernardo para o hospital, eu não imaginava que iria sair de lá sem ele.
Como foi o processo de parto induzido?
Às 18h eles me deram os remédios para induzir o parto e a partir daí eu comecei a sentir as dores. O parto aconteceu durante a madrugada e foi uma dor que eu não sei explicar. Tanto física quanto emocional. Eu pensei que eu fosse morrer, que não ia aguentar, mas a equipe médica segurou a minha mão e me ajudou. A pior hora foi quando meu filho nasceu, todo formado, gordinho, mas morto. Ele era perfeito.
Qual foi a reação dos médicos quando viram seu filho?
Eles ficaram revoltados. Meu filho era perfeito, pesava mais de três quilos, não tinha nenhum problema. Na hora a médica disse que aquilo tinha sido uma negligência. Havia um coágulo na placenta e meu filho provavelmente morreu por falta de oxigênio, porque passou da hora de nascer.
Como você reagiu ao saber de uma possível negligência?
Eu fiquei revoltada. A médica poderia ter feito cesárea no dia que eu cheguei lá, ela viu minha situação, eu estava sangrando.
O que você pensa em fazer agora?
Eu quero esclarecer o que aconteceu e se houve negligência médica que as pessoas sejam punidas. O meu filho não vai voltar, mas terão outras crianças e mães que vão passar por este hospital. Eu preciso pensar nelas também.
MORTE SERÁ APURADA
Por solicitação do diretor geral do Hospital Municipal de Cobilândia, Clio Venturim, a Secretaria Municipal de Saúde de Vila Velha (Semsa) determinou a abertura de uma auditoria técnica para apuração de todo o processo de atendimento que culminou com o caso do recém-nascido natimorto naquele complexo de saúde.
"A Semsa já expediu ofício à Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para que disponibilize um profissional auditor de seu quadro funcional para também integrar a equipe de auditoria municipal instaurada para esta finalidade", concluiu, por meio de nota.
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