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Treze pessoas são internadas por dia por falta de rede de esgoto no ES

Treze pessoas são internadas por dia por falta de rede de esgoto no ES

Em um ano, 4.713 foram parar no hospital no Espírito Santo

Publicado em 1 de julho de 2019 às 23:55

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Morador em região com esgoto a céu aberto em Vila Velha: riscos de contaminação por vírus e bactérias . (Vitor Jubini)

Treze pessoas são internadas por dia no Estado com doenças associadas à falta de saneamento. Isso poderia ser evitado se a população tivesse acesso ao básico: água limpa e esgoto tratado. Os dados foram levantados pela ONG Trata Brasil e se referem aos registros de internação que constam na base de dados do Ministério da Saúde, relativos a 2017.

Naquele ano, 4.713 pessoas foram parar no hospital por doenças de veiculação hídrica (transmitidas pela água contaminada) como as diarreias, e também aquelas adquiridas através do contato com insetos e pragas comuns em áreas sem saneamento, como a leptospirose — transmitida pela urina do rato.

O custo dessas internações para o sistema de saúde do Estado e dos municípios é alto: cerca de R$ R$ 1,8 milhões por ano.

Segundo o economista e consultor da Trata Brasil, Fernando Garcia, há uma ligação clara entre a falta de acesso ao saneamento e o adoecimento da população. “Essas doenças não são exclusivas — você pode pegar uma bactéria comendo em um restaurante, por exemplo — mas são fortemente correlacionadas à ausência de saneamento. Nossas análises mostram que 80% a 90% vêm na falta de saneamento”, afirma.

PERFIL

O especialista explica que, em todo o Brasil, a parte da população mais afetada são as mulheres, crianças e idosos moradores de locais mais pobres.

As mulheres são duplamente afetadas: elas costumam ficar mais em casa e, portanto, têm mais contato com os locais insalubres. São elas também que faltam no emprego para cuidar dos familiares quando eles ficam doentes. “A mulher, quando não sofre o impacto direto das doenças, sofre o indireto, como cuidadora. E isso tem implicações, inclusive no mercado de trabalho. Muitas atuam como diaristas ou outros serviços autônomos e, quando se afastam, acabam ficando sem receber aquele dia. Isso impacta na renda da família inteira”, afirma.

Um outro impacto secundário diz respeito às crianças e aos adolescentes. Como essas infecções costumam ser recorrentes, ou seja, as pessoas são infectadas diversas vezes em um ano, os afastamentos afetam o desempenho escolar.

“A criança perde cerca de três dias a cada afastamento. Então, pode chegar a perder semanas de aula em um ano. Isso tem efeito muito forte sobre o desempenho escolar. Nós sabemos que a nota no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), por exemplo, é maior nos locais com maior cobertura de saneamento básico”, afirma o especialista.

DINHEIRO

Para o economista, o fato de o saneamento ser uma atribuição dos municípios é um dos principais entraves na ampliação dos serviços. Com arrecadação baixa, os prefeitos não conseguem ter dinheiro para investir. No Estado, em 52 municípios, a atribuição é repassada à Cesan, responsável pela coleta e tratamento de esgoto.

Há ainda o fato de que, principalmente em cidades menores, quase não há capacidade técnica para montar um plano de gestão de saneamento. Sem o plano, esses municípios ficam impedidos de pegar empréstimos de fontes como o BNDES.

“Muitos municípios são frágeis não só financeiramente, mas nas capacidades técnicas para organizar o sistema de gestão pública razoável. Não basta o município ter interesse e necessidade, tem que ter esta capacidade. Tem muitos que nem plano existem e não estão habilitados a tomar recursos do governo federal nem empréstimos das fontes oficiais”, esclarece.

Para Garcia, é preciso flexibilizar a gestão da água e do esgoto, formando parcerias com empresas privadas, as chamadas PPPs. A experiência já vem sendo feita em alguns municípios da Grande Vitória, como a Serra, que tem alcançado bons resultados.

ANÁLISE

TRATAMENTO É NECESSÁRIO

As doenças diarreicas que são transmitidas pelo esgoto vêm dos restos que a gente elimina, pois essas bactérias e vírus estão no intestino. Quando não há tratamento, esses agentes vão para a água, e esta contamina as pessoas pela ingestão ou na irrigação de alimentos. Muitas guerras históricas não foram perdidas por armas, mas por falta de água limpa. Os soldados tomavam água contaminada pelo esgoto e pegavam cólera e febre tifóide, por exemplo. Atualmente essas doenças estão relacionadas a pessoas com baixas condições socioeconômicas. Aí temos a associação de duas situações: falta de saneamento e população mais vulnerável. Esses fatores favorecem o aparecimento de doenças e a gravidade delas. Há o argumento de que as obras de esgotamento são caras, mas perto do benefício, não são. E vidas que se perdem? Os dias de trabalho que se perdem? Considerando tudo, o custo não é tão alto. Infelizmente vivemos em um país que mede o custo imediato e não a longo prazo.

Tâmia Pôssa infectologista e professora da UVV

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