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'Coragem é imprescindível no desafio de transformar'

"Coragem é imprescindível no desafio de transformar"

Para Diretora de Transformação da Rede Gazeta, movimento rumo ao jornal digital é resultado de uma mudança feita pelo próprio público

Publicado em 26 de setembro de 2019 às 19:12

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Coragem. É com essa palavra em mente que Leticia Lindenberg pauta seu trabalho como diretora de Transformação da Rede Gazeta, um cargo extremamente relacionado com o momento pelo qual a empresa está passando. O grande desafio, para ela, é que a mudança não fique restrita ao trabalho, mas chegue até a cultura dos funcionários.

O que é ser diretora de Transformação neste momento de mudança?

Esse é um cargo bastante desafiador, porque a transformação tem um lado que se vê claramente, que é a mudança nos processos, no produto, algo possível de tangibilizar. Mas tem também uma mudança muito importante que é a de cultura. E isso é o mais impactante: mudar a cabeça e a atitude das pessoas. É a parte mais crítica porque diz tudo a respeito de ter sucesso ou não naquilo que você elabora. Esse é, para mim, o maior desafio da diretoria de Transformação.

O TDigital é o maior projeto da Rede Gazeta até agora?

Isso é uma coisa relativa. Eu acho que é, de fato, por ser uma mudança total, um paradigma que está sendo quebrado. Desde que foi criado, em 1928, o jornal é impresso. Eu diria que é o maior nesse sentido e também porque está impactando a empresa como um todo. Eu acredito que seja o maior também porque o nosso produto principal, de maior impacto e relevância, sempre foi o jornal impresso. Deixar de fazê-lo todos os dias é uma mudança grande no entendimento interno e principalmente externo, porque nem todo mundo consegue entender que isso é uma evolução.

O que motivou essa iniciativa?

Basicamente, o fato dos leitores terem migrado para o digital. Não fomos nós que escolhemos essa mudança. Hoje temos cerca de 10 mil exemplares de jornal circulando por dia e, ao mesmo tempo, 180 mil visitantes únicos no site. Quem está dizendo que quer ler on-line são as pessoas, não estamos impondo. Estamos atendendo a um anseio do leitor. Claro que isso tem um impacto financeiro na empresa, que vem acumulando prejuízo com o jornal há anos. Já superamos várias crises, mas foram momentos em que ainda se vislumbrava um futuro para o negócio. Agora é diferente, é um caminho sem volta, consequência de um movimento feito pelo leitor.

Como foi tomar esta decisão pelo ponto de vista do negócio sendo uma empresa familiar?

É sempre uma decisão difícil, mesmo para os conselheiros que não são familiares. Mas foi uma decisão muito racional, porque é só olhar o que está acontecendo no mundo inteiro. É preciso olhar a função que temos na sociedade, qual papel o jornalismo exerce? Para continuar cumprindo esse papel é preciso mudar. Não foi fácil, principalmente para o meu pai, que é de outra geração e que fez a empresa crescer e se tornar o que é. Mas temos essa decisão tomada desde 2017, tivemos tempo de digerir essa informação e de trabalhar esse futuro. Mesmo assim, foi chegando o dia de anunciar e foi dando uma sensação de melancolia, meio nostálgica, que é o que está acontecendo com os leitores, que tiveram o impacto da notícia agora.

Qual foi o momento mais especial do projeto?

Tivemos vários marcos ao longo do processo, coisas que fomos aprendendo e conquistando. Mas, sem dúvida alguma, o envolvimento que a gente teve no Dia D, do anúncio, falar para todos os nossos públicos ao mesmo tempo, com o cuidado de não parecer que, ao contrário de ser uma evolução, a gente estaria fechando alguma porta, foi certamente o ápice do projeto. E como o grupo envolvido ia crescendo, sabíamos que seria difícil manter isso em sigilo. O fato de ter chegado assim até o dia 31 deixou todo o grupo com muita tensão. Foi muito planejado e felizmente o planejamento deu certo. Olhando para trás, pouca coisa faríamos diferente.

Foi também o mais difícil?

Sem dúvidas, ainda mais para o meu irmão, Café, e as pessoas que estavam com ele no parque gráfico, de informar aos funcionários que dentro de 60 dias a área seria fechada e eles estariam fora do nosso projeto. Foi bastante duro e difícil, mas também comovente pela reação que essas pessoas tiveram, de compreensão do momento e de agradecimento por todos os anos que eles estiveram conosco trabalhando aqui na empresa.

O que é imprescindível em uma transformação?

Coragem.

Depois do TDigital, como imagina a Rede Gazeta daqui a 10 anos?

Eu não sei dizer como estará, que eu não sou futuróloga (risos). A única certeza que eu tenho é que ela estará totalmente diferente do que é hoje. Inclusive fisicamente. Sei que teremos um outro time, bem renovado. Não sei se eu estarei aqui. Acho que as mídias que temos hoje continuarão existindo, mas com um outro tipo de relação com o leitor, com o telespectador, com o usuário, enfim. É a única certeza que eu tenho.

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