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Na contramão do país, Espírito Santo registra queda de feminicídios

Na contramão do país, Espírito Santo registra queda de feminicídios

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 31 mulheres foram vítimas de feminicídio no ES em 2018. No ano anterior, foram 42. Queda é de 27%.

Publicado em 11 de setembro de 2019 às 17:12

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Violência contra a mulher. (Pixabay)

Na contramão do país, que registrou aumento no número de feminicídios, o Espírito Santo teve queda de 27% dos casos em 2018. As informações fazem parte do levantamento realizado pelo Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta terça-feira (10) pelo Fórum Nacional de Segurança Pública. De acordo com o documento, 42 mulheres foram mortas no Estado pelo crime de violência de gênero em 2017. Já em 2018, foram 31 vítimas.

Os dados do Anuário tem como base os registros de boletins de ocorrência de cada estado do Brasil. Em todo o país, 1.206 mulheres foram vítimas de feminicídio em 2018. Há um aumento de 4% dos casos em relação a 2017, quando 1.151 mulheres foram assassinadas pelo mesmo crime. 

Por muito tempo, o Espírito Santo foi considerado um estado violento e já ficou no topo do ranking de feminicídios no país, como em 2013, segundo dados do Atlas da Violência. Os números ainda são altos e até agosto deste ano eram maiores que o mesmo período do ano passado: foram 23 casos em 2019 e 21 em 2018, segundo a Secretaria de Segurança (Sesp). Contudo, assumir a situação como grave e real tem sido o ponto de partida para o combate no Estado.

"O primeiro passo é entender que o problema existe, é grave e precisa ser enfrentado. Já ocupamos um espaço bem desagradável, hoje ainda é, mas já foi pior", afirmou a gerente de Proteção à Mulher da Secretaria de Segurança Pública, Michelle Meira.

Meira vê a redução do crime no Estado como resultado de uma rede de trabalho feito pela Secretaria de Segurança, que engloba educação, políticas de prevenção e punição aos autores destes crimes.

"A gente busca esforços em todos os setores do governo e é o que tem feito diferença. Na Polícia Civil, criamos uma divisão que é voltada para o atendimento da mulher, com a padronização das DEAMs. Houve também um reforço nas operações para cumprimento de prisões. No âmbito da Polícia Militar, temos a Patrulha Maria da Penha, que visita as mulheres com medidas protetivas. Há também projetos que trabalham a questão de gênero com homens que tem histórico de violência, por meio de atendimento psicológico. Tudo isso tem refletido nos resultados", exemplificou.

PERFIL DE MULHERES

Por meio da análise dos boletins de ocorrências de cada Estado, o Fórum traçou um perfil das vítimas de feminicídio no Brasil entre 2017 e 2018. A maioria delas é negra (61%), tem entre 30 e 39 anos (29,8%) e baixa escolaridade (70,7% só tinham até o ensino fundamental). O perfil nacional é similar ao do Espírito Santo, onde mulheres com maior vulnerabilidade representam a maioria das vítimas.

"O feminicídio é um crime observado em todas as classes, mas a gente percebe que ele é maior quando há uma situação de vulnerabilidade, como é o caso das mulheres negras e aquelas que tem menos instrução. Isso reflete muitas vezes na falta de conhecimento dos direitos da mulher e também na dependência financeira do homem", pontuou Michelle Meira.

Violência contra a mulher. (Divulgação)

Um outro índice apresentado pelo Anuário é que 88,8% das mulheres foram mortas pelo ex ou atual companheiro. Para a pesquisadora do Fórum de Segurança Pública, Cristina Neme, esse dado revela a cultura patriarcal e o machismo como os grandes problemas por trás do crime de feminicídio. 

 "A gente vê que existe um sentimento de posse do homem em relação a mulher, que não respeita a vontade dela de por fim ao relacionamento ou o fato dela ser independente. Isso reflete o machismo que temos na sociedade, do homem que trata a mulher como propriedade dele e não aceita um não", afirmou.

EDUCAÇÃO É FUNDAMENTAL

A educação nas escolas é apontada pelos especialistas como fundamental no combate ao feminicídio. De acordo com Michelle Meira, "as ações punitivas são válidas, porém cruéis em crimes onde uma vida já foi tirada", disse.  

Recentemente, a Polícia Civil lançou o projeto Papo de Responsa, onde delegadas da Delegacia da Mulher vão até as escolas de áreas mais vulneráveis para abordar questões de violência e também de gênero com os estudantes.

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"É um projeto que tem como objetivo conscientizar estes jovens, falar sobre violência, relacionamento abusivo, desigualdade de gênero. A gente acredita que a educação é a principal aliada em crimes como o feminicídio, que tem uma origem no sistema patriarcal", destacou Meira. 

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