Entrevista

"Cafés do Espírito Santo têm características únicas"

A inovação na lavoura capixaba se traduz em novas possibilidades ao mercado consumidor, acredita o gerente agrícola de cafés da Nestlé

Nestlé

O Espírito Santo é o segundo maior produtor de café do país. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a estimativa para este ano é que o Estado colha 8,83 milhões de sacas do grão – cerca de 20% da produção nacional –, sendo 33% arábica e 67% conilon. Além do volume produzido, o Estado também é conhecido pela qualidade dos grãos produzidos.

As singularidades da produção de café do Espírito Santo, como o cuidado durante a colheita e o histórico do Estado com o grão, além do papel das inovações, das tecnologias no campo e do produtor rural dão à iguaria capixaba papel de protagonismo no segmento no país, defende o gerente agrícola de cafés da Nestlé Brasil, Pedro Malta Campos.

Em um bate-papo no município de Araras, em São Paulo, na última terça-feira, ele destacou que por mês, a empresa transforma entre 5 e 6 mil toneladas de grãos de café na versão solúvel do produto. Do total produzido, 70% é exportado e os outros 30% consumido pelo mercado interno. Para atender à grande demanda, produtores de conilon do Espírito Santo são os principais fornecedores da empresa. Já os grãos do arábica vêm de Minas Gerais. Confira a seguir a entrevista.

O que torna um café de qualidade?

A qualidade do café combina pelo menos três elementos: planta, meio ambiente e tudo o que é feito depois da colheita.

Como esses itens estão relacionados com a qualidade do café capixaba?

O Espírito Santo tem desenvolvido novas variedades da planta de café, melhorando qualidade e produção. Na interação da planta com o meio ambiente, o Estado, pela sua diversidade ambiental, tem uma variedade de condições agroclimáticas que permitem que mesmo que o Espírito Santo seja relativamente pequeno em extensão territorial, tenha se tornado o segundo maior produtor de café do país, entregando ao mercado nacional e internacional grandes possibilidades sensoriais e de sabor do café. Já no fator humano, o Estado tem uma tradição forte na agricultura. Há um saber fazer e um conhecimento muito arraigado nas famílias.

O que esperar para o futuro do café capixaba?

Existem ainda algumas características dos cafés capixabas que serão descobertas e exploradas positivamente. Tenho percebido ainda, em alguns nichos de mercado, a identificação de que cafés do Espírito Santo têm características únicas. O Estado precisa, assim que puder e ver condições, coordenar atividades de promoção e divulgação do café. Isso vale a pena e faz sentido, pois temos características muito interessantes que poderiam proporcionar ainda mais possibilidades e ganhos para a cadeia de café do Estado.

Vivemos um momento em que a tecnologia está inserida no dia a dia da cidade. Mas como fazer para com que ela seja inserida no campo?

A tecnologia, muitas vezes, em particular na agricultura, tem sido mostrada para a sociedade através de equipamentos sofisticados e caros, mas muito interessantes, como é o caso do mapeamento por satélite e do uso de drones.

Observamos que na agricultura a inovação e também a tecnologia são coisas importantíssimas. Mas elas bebem na fonte dos conhecimentos e aplicações de seus ancestrais. A inovação com o uso de tecnologias, como máquinas e aplicativos, aliada ao conhecimento das gerações passadas são essenciais para garantir a perpetuidade da atividade agrícola.

O que vem a ser a inovação do campo?

É saber fazer ou implementar técnicas de maneira racional ou apropriada à realidade de cada propriedade visando fazer mais com menos recursos para ter produtividade. Além disso, reduzir a penosidade do trabalho, o que é possível e uma tendência que deve continuar evoluindo.

De que formas podemos encontrar as inovações?

Elas podem estar ligadas à conservação do solo, por que para a agricultura o solo é um meio de produção e se você não cuidar dele, não tem como garantir a produção no futuro. Mas existem inovações relacionadas à manutenção, à preservação e até à criação e produção da água na propriedade, que são técnicas de população de plantas e árvores em regiões específicas de uma propriedade.

Implementar essa tecnologia pode contribuir para que o êxodo rural diminua?

Sem dúvida. O êxodo rural é uma realidade que inúmeros países viveram e ainda vivem. A nossa sociedade está inserida em um contexto de urbanização. Mas, para a indústria de alimentos, que depende da matéria-prima agrícola, entender os elementos que aceleram o êxodo rural é fundamental. Temos que compreender os principais fatores que vêm acelerando o processo de saída das pessoas do campo, o que passa pelo processo de motivação e oportunidade.

Como fazer o agricultor entender o valor e a qualidade do seu produto?

No mercado de café, o agricultor individual ou em cooperativa, por maior que sejam, dificilmente vão conseguir influenciar o preço do produto. O Brasil é o maior produtor mundial do grão. O produtor só tem autonomia de fato do custo de negócio quando ele sabe quanto custou produzir o café e quando faz a venda. Quando os agricultores veem isso, se torna um fator de motivação de negócios.

O que é a criação de valor compartilhado?

Existe uma responsabilidade comum a todos na cadeia de abastecimento: garantir que a riqueza produzida ao longo da cadeia seja da melhor maneira possível compartilhada. Quando a gente fala de criação de valor compartilhado, que denomina esse conceito, é isso. Além de satisfazer o acionista, a empresa tem a obrigatoriedade de fazer com que todos aqueles que venham antes na cadeia vejam uma vantagem de participar, produzindo com qualidade, ganhando dinheiro e investindo no negócio.

 

 

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