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Homem ganha, em média, R$ 1,2 mil a mais que mulher

Homem ganha, em média, R$ 1,2 mil a mais que mulher

Diferença salarial entre sexos em Vitória é a 2ª maior do país

Publicado em 6 de janeiro de 2018 às 01:46

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Enquanto os trabalhadores do sexo masculino da Capital capixaba ganham, em média, R$ 4.577, o rendimento mensal das trabalhadoras gira em torno de R$ 3.364, uma diferença média de R$ 1.213. (Reprodução internet)

Estamos no século XXI. O ano é 2018. E ainda hoje os homens têm salários bem maiores que os das mulheres no mercado de trabalho. Por eles ocuparem mais cargos de chefia e terem, em muitos casos, uma remuneração mais alta mesmo em funções iguais, vemos um verdadeiro abismo salarial entre sexos. E a diferença é assustadora.

Levantamento realizado por A GAZETA com base nos dados da Síntese dos Indicadores Sociais, do IBGE, constatou que Vitória é a segunda capital do país com maior diferença salarial entre homens e mulheres, ficando atrás apenas de Porto Alegre.

Enquanto os trabalhadores do sexo masculino da Capital capixaba ganham, em média, R$ 4.577, o rendimento mensal das trabalhadoras gira em torno de R$ 3.364, uma diferença média de R$ 1.213.

O abismo salarial em Vitória é tão grande que supera, e muito, a média do Estado (em que os homens ganham, em média, R$ 482 a mais que as mulheres), e a de todo Brasil (que tem diferença de R$ 541).

A desigualdade de salários, com vantagem masculina, é praxe em praticamente todos os setores da economia em Vitória. O da indústria de transformação de matérias-primas é o líder, com homens ganhando 75% mais que as mulheres na média. Na sequência, aparece a administração pública, com elas ganhando 32% menos.

A exceção vem das áreas de saneamento, em que elas ganham 40% mais, e de construção civil, com salários 29% maiores para as mulheres. O único setor em há equilíbrio salarial é o da agricultura e pecuária, em que os salários costumam variar em menos de R$ 10.

Essa disparidade de acordo com o gênero tende a ser maior nas cidades mais desenvolvidas, como Porto Alegre, Vitória e Curitiba, que lideram o ranking, segundo explica o economista e professor da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto Ramos, especialista em mercado de trabalho. Para ele, nessas cidades há mais discriminação.

“Se você pegar cidades mais desenvolvidas, a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho é muito maior, até porque elas são mais estudadas, com isso se manifesta mais essa discriminação. Aí se tem mulheres ocupando menos cargos de chefia em empresas e até em postos altos do setor público”, afirma.

PROBLEMA ANTIGO

Os especialistas explicam que com a entrada tardia das mulheres no mercado de trabalho, e o fato de que, no passado, a principal atividade delas era a função doméstica, criou-se uma cultura machista de que certos postos de trabalho não são para mulheres. Essa herança cultural retrógrada, segundo o economista Eduardo Araújo, que é vice-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), é difícil de ser superada.

Diferença salarial. (Arabson)

“As mulheres entraram tarde no mercado de trabalho, o que nos deixou uma herança cultural machista, que é um problema histórico e difícil de ser resolvido. É o retrato de uma situação preocupante, que ainda levará anos para ser mais igualitária”, comenta.

Além da questão cultural, há o “custo da gravidez”, que faz com que a desigualdade no mercado de trabalho ainda seja tão grande. “É um problema cultural que vem unido do custo da gravidez, que é algo exclusivamente feminino, e que faz com que, ainda hoje, o homem seja preferido”, ressalta o professor Ramos, da UnB.

O problema é global. Dados do Fórum Econômico Mundial apontam que em todo planeta ainda há uma diferença de 75% dos salários entre homens e mulheres. Em 2017, enquanto elas ganhavam US$ 12 mil por ano, eles recebiam US$ 21 mil na média mundial.

Apesar da alta diferença, os números apontam que começa a haver uma queda. De 2013 para cá, essa desigualdade salarial entre sexos reduziu 39% em Vitória e 19% na média do Estado.

Brasil não tem lei de igualdade salarial

No Brasil, assim como em quase todos os países, não há qualquer proibição de salários diferentes para homens e mulheres, mesmo que para uma mesma função. Essa é a razão, segundo especialistas, que tem feito essa igualdade vir a passos tão lentos.

“A maneira mais efetiva para se solucionar isso seria pelo caminho da lei, criando um dispositivo que obrigue empresas a pagar igualmente pelo mesmo cargo, seja ele ocupado por um homem ou uma mulher, e contratar o mesmo percentual de cada sexo, e que puna quem continuar praticamente esse preconceito no mercado de trabalho”, afirma o economista e professor da UnB, Carlos Alberto Ramos, especialista em mercado de trabalho.

O modelo, sugerido por Ramos, seria semelhante ao da Islândia, que tornou a paridade de salários uma lei há quase 60 anos. A legislação, que é de 1961, evoluiu neste ano, em que o país nórdico se tornou o primeiro do mundo a tornar ilegal a diferença de salários entre homens e mulheres.

“A Islândia, via lei, e outros países europeus, via projetos e políticas públicas, têm conseguido resolver isso. Cabe ao Brasil começar a estudar esses modelos, porque senão fica um problema que demorará anos para ser equacionado”, ressalta.

Desde o dia 1º deste ano, a Islândia passou a aplicar multas para empresas que descumprirem a proibição de disparidade de salários por gênero. A nova legislação também estabeleceu que companhias e agências do governo com mais de 25 funcionários devem obter uma certificação para suas políticas de igualdade de remuneração entre os sexos.

O país nórdico é líder há nove anos do Índice de Igualdade de Gênero do Fórum Econômico Mundial, seguida da Noruega e da Finlândia. Com a nova medida, eles se comprometem a erradicar totalmente a diferença de remuneração entre sexos até 2022.

Segundo a ONU , a paridade salarial entre homens e mulheres só será alcançada em 170 anos no mundo, se medidas mais eficazes não forem tomadas. No ano passado, a organização chegou a lançar uma campanha para acabar com as leis discriminatórias até 2021, visando o fim da diferença de salários até 2030 no mundo.

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Além de uma lei, o economista Eduardo Araújo, vice-presidente do Corecon, acredita ser necessário que o próprio mercado se modernize para ser menos desigual. “As próprias forças e entidades do mercado devem contribuir com o passar do tempo para alcançarmos essa igualdade e mais ascensão das mulheres. O próprio mercado precisa empurrar essa igualdade ”, avalia.

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