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Investidores apostam em moedas virtuais em busca do milhão

Investidores apostam em moedas virtuais em busca do milhão

Criado em 2009, esse ativo funciona como uma rede descentralizada de milhares de computadores que produzem a moeda, em um processo chamado de "mineração"

Publicado em 7 de janeiro de 2018 às 17:22

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O empresário Fabrício Vargas Matos investe em mais de dez moedas virtuais e está sempre em busca de tecnologias inovadoras. (Vitor Jubini)

Uma moeda sem emissão controlada por banco central, sem regulação de governos, sem lastro em ouro ou em dólar e de uma valorização impressionante no último ano. Assim é o Bitcoin, uma moeda virtual – também chamada de criptomoeda –, que tem chamado a atenção de investidores de todo o mundo.

Criado em 2009, esse ativo funciona como uma rede descentralizada de milhares de computadores que produzem a moeda, em um processo chamado de “mineração” - quando os computadores, “emprestados” pelos mineradores, resolvem problemas matemáticos. Quem resolve, recebe a moeda.

De acordo com o coordenador do MBA de Marketing Digital da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Miceli, as transações são registradas numa espécie de livro-caixa que é o blockchain, que guarda registros que caracterizam as movimentações bancárias, como de onde saiu e onde entrou um valor. Existem carteiras digitais onde os bitcoins são armazenados, que são disponibilizados por exchanges, que são uma espécie de casas de câmbio das criptomoedas.

“O Bitcoin tem retorno altíssimo e risco altíssimo”, explica ele. Isso porque em 1º de janeiro de 2017, a moeda era negociada a pouco mais de mil dólares. Em meados de dezembro, bateu quase 20 mil dólares, fechando o ano no patamar de US$ 13 mil, uma valorização de 1.318%.

Sua entrada, em 2017, no Mercado Futuro de Washington e a forte demanda de investidores explicam, em parte, a alta.

“É um investimento de alto risco por ser uma ativo muito volátil. Este tipo de investimento serve para quem tem um dinheiro guardado e estuda muito sobre o assunto, não investindo apenas pelo impulso da sua popularidade ou valorização”, avalia o COO da BitcoinTrade, Daniel Coquieri.

VALORIZAÇÃO

Como a valorização é grande, muita gente aposta na moeda de olho em ficar milionário. O servidor público Marcos Accioly é um dos investidores que está em busca de grandes lucros. Ele conta que tem Bitcoin desde 2012.

“Eu minerava no começo, mas comprei mesmo em 2017, quando explodiu, e as exchanges começaram a abrir. Quando comprei, ela estava em R$ 12 mil, chegou a R$ 70 mil. Eu tenho só 5% dos meus investimentos em bitcoin. Coloquei R$ 3 mil e virou mais de R$ 15 mil”, conta ele.

Accioly ressalta que está até pensando em pegar um empréstimo para alavancar os investimentos. “Pego com 2% de juros ao mês e tenho rentabilidade de 2% ao dia. Mas claro que vou fazer com segurança, tendo condições de pagar se não der certo. Acho que vou ficar milionário, mas não pelas criptomoedas, e sim pela diversificação. As criptomoedas vão acelerar isso”, brinca.

O servidor público Marcos Accioly investe em moedas virtuais desde 2012. (Vitor Jubini)

Outro investidor que já se deu bem com o Bitcoin é o jornalista Igor Nascimento. Ele conta que comprou R$ 2 mil em Bitcoin em dezembro de 2016. Em janeiro de 2017, já tinha um acréscimo de 25% no investimento.

“Iria fazer uma viagem, e uma das formas de ter esse dinheiro para fazer a viagem era fazendo esse tipo de investimento. Topei o risco e, de maio para junho, estava com R$ 7 mil. Em julho, fiz a viagem para fora do país. Paguei 80% da viagem com o rendimento”, conta.

Assim que retornou, ele voltou a investir. “Agora, o objetivo é ficar milionário. Faço pequenos investimentos e, à medida que vou tendo lucro, vou fazendo o resgate. Estudo bastante e tenho cautela.”

Investidores se tornam caçadores de inovações

Nem só de Bitcoin vive o mercado das criptomoedas. Hoje, existem mais de mil moedas virtuais ativas no mundo, e muitas delas registraram altas cifras de valorização em 2017. Entre as mais conhecidas, estão a Ether, a Litecoin, a Bitcoin Cash e a Ripple. Há, ainda, nomes como Monero, IOTA, Dash, Cardano, TRON e NEM.

No Brasil, é nos fissurados em tecnologia que essas moedas menos conhecidas encontram maior mercado. O empresário do ramo de tecnologia Fabrício Vargas Matos é um deles. Ele conta que investe em pelo menos dez moedas virtuais para testar as tecnologias.

“Trabalho com startups e sempre acompanho inovações. Comecei a me envolver com Bitcoin não do ponto de vista de investimento, mas porque era uma tecnologia. Me interesso pela tecnologia, mais eficiente que os sistemas de pagamentos que temos, como formas de enviar e receber valores com agilidade.”

Ele começou a estudar o mercado do Bitcoin em 2014, e diz que gastou “valores módicos” no investimento, que no fim das contas se valorizou muito.

“Investi em torno de R$ 1.000, não só em Bitcoin. Hoje, invisto em mais de dez moedas, e oscilo entre elas. Uso ferramentas que automatizam a carteira de moedas, e movimenta elas sozinhas. Quem é trader investe baseado no preço. Eu tenho um olhar de estudar a inovação, quem é a equipe desenvolvendo isso”, destaca.

Outro investidor é o professor de finanças do Ifes campus Barra de São Francisco, Ricardo dos Santos Dias. Ele teve contato com o Bitcoin através de um professor e começou a pesquisar o mercado. Há um ano, começou a investir.

“Eu compro Bitcoin para comprar outras moedas. Tenho na carteira em torno de 15 moedas. Estou apostando em moedas que têm um projeto interessante por trás e valor mais acessível. Já consegui mais que dobrar o investimento”, conta.

O jornalista Igor Nascimento investiu em Bitcoin e conseguiu fazer uma viagem. (Carlos Alberto Silva)

Dias conta que investia em ações, mas como as taxas das operações eram altas, decidiu migrar, em parte, para criptomoedas. “Negar essas moedas hoje seria como negar o Uber. Acho que vai haver uma resistência do mercado, mas é um investimento que veio para ficar. Estamos até preparando para dar um curso de investimento em criptomoedas para este ano”, conta ele.

Banco Central alerta para risco nos investimentos

O Bitcoin, assim como outras moedas virtuais, não são ativos regulamentados por algum banco central ou algum país. Esse é um dos motivos que torna o investimento uma aplicação de alto risco. No Brasil, o Banco Central emitiu, em novembro, um comunicado alertando para os riscos de operações com criptomoedas.

No comunicado, a autoridade monetária informa que, considerando “o crescente interesse dos agentes econômicos” nas moedas virtuais, a compra e guarda delas estão sujeitas a “riscos imponderáveis, incluindo, nesse caso, a possibilidade de perda de todo o capital investido, além da típica variação em seu preço”.

O Banco Central ainda alerta que não há legislação sobre o tema e que não regula nem supervisiona operações com esses ativos.

“Por não se tratar de uma moeda regulamentada, não há garantia de transformar o Bitcoin em dólar. Além disso, sempre existe o risco de um governo, por exemplo, proibir. E o investidor fica com um pepino na mão. Hoje, o mercado é pequeno, mas intensificando pode haver um interesse maior do regulador de criar regras, e não sabemos como seriam, se positivas ou negativas”, avalia o planejador financeiro CFP, Renan Lima.

Alguns cuidados precisam ser tomados ao investir, explica Sandra Rogenfisch, head da área de tecnologia e economia digital do Vinhas & Redenschi Advogados.

“Não tem fiscalização do Banco Central a essas exchanges. Se perder a senha da carteira, não recupera os Bitcoins. Outra questão é que a Receita Federal já tem recomendação de registrar esses valores na declaração de patrimônio. E se tiver ganho de rendimento, tem que tributar”, orienta.

Bitcoin

Como comprar?

Para comprar, o usuário faz um cadastro num site que negocia Bitcoins, envia sua documentação, passa por análise e, se for aprovado, passa a ter limites operacionais com depósitos de reais na plataforma.

Depósito

Tendo acesso, ele deposita o dinheiro, em reais, no site de uma corretora.

Negociação

Ele então realiza uma oferta de compra, mostrando quanto quer comprar e o quanto está disposto a pagar. Caso algum vendedor queira vender o Bitcoin, a plataforma executa a negociação e o comprador recebe o Bitcoin.

Outras moedas

Bitcoin Cash

É uma criptomoeda criada em agosto de 2017, em um processo separação (chamado hard fork) da Bitcoin. Os criadores alegaram que o sistema do Bitcoin era limitado ao processar apenas sete transações por segundo. Assim, surgiu a nova moeda, que já vale cerca de R$ 7.800.

Litecoin

Criado em 2011, o Litecoin é a segunda criptomoeda mais aceita por sites que utilizam esse tipo de pagamento. É parecido com o bitcoin, mas tem velocidade maior de transação, em média 2,5 minutos. Vale cerca de R$ 750.

Ethereum

É uma plataforma descentralizada feita para executar contratos inteligentes e aplicações descentralizadas usando a tecnologia blockchain. Fundada em 2014, usa a moeda digital ether para rodar os contratos e serviços. Não é possível trocá-lo por moedas reais, mas é possível trocar por outras moedas digitais, como bitcoins. Vale cerca de R$ 3.200.

Ripple

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A moeda, que apresenta-se sob a sigla XRP, valorizou cerca de 36.000% em 2017. Na última semana, esteve cotado a cerca de R$ 11,28. Foi criado pela empresa Ripple Labs, que trabalha com transações globais de dinheiro, como uma solução para a transferência de dinheiro entre países de forma rápida. É controlada de forma central.

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