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Rebaixamento da nota de crédito do Brasil não surpreende economistas

Rebaixamento da nota de crédito do Brasil não surpreende economistas

Para Andre Perfeito, estrategista-chefe da Guide Investimentos, o fato de o governo ter começado a discutir uma mudança na "regra de ouro" foi a gota d'água para o rebaixamento

Publicado em 12 de janeiro de 2018 às 03:34

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Dentre as empresas que deverão ter sua nota também rebaixada pela agência de risco está a Petrobras, que poderá ser prejudicada em sua política de alongamento da dívida. (Divulgação)

Embora a possibilidade de um novo rebaixamento do Brasil já rondasse o mercado, a decisão da S&P nesta quinta-feira (11) não surpreendeu os economistas. O rebaixamento, dizem, pode até ser usado pelo governo na tentativa de sensibilizar o Congresso para a aprovação da Reforma da Previdência no próximo mês. Mas duvidam que isso realmente aconteça este ano.

"Estava claro que o governo não tinha condições de aprovar mais a reforma este ano e a agência apenas tomou uma decisão mais do que esperada. O timing é positivo para mostrar ao Congresso o que pode acontecer lá na frente, em 2019, se de fato não aprovarem a reforma", diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. "Aí, sim, veremos uma queda muito mais acentuada dos ratings. Mas o Congresso este ano decidiu brincar à beira do abismo e o preço disso poder ser voltar à crise lá na frente caso não seja aprovada em 2019, completou.

Para Andre Perfeito, estrategista-chefe da Guide Investimentos, o fato de o governo ter começado a discutir uma mudança na "regra de ouro" foi a gota d'água para o rebaixamento.

"Para as agências, o que importa é o resultado primário das contas públicas, e o país tem registrados déficits primários gigantescos. Isso, mais a dificuldade do governo em aprovar medidas de ajuste pesaram na decisão de antecipar o novo corte da nota do país", diz Perfeito.

Em sua avaliação, o rebaixamento não deverá ter impacto significativo na Bolsa e no dólar, mas sim na curva de juros de longo prazo.

"Haverá um rebaixamento em série dos ratings de bancos e empresas brasileiras, mas o estresse maior será nos juros de longo prazo", diz Perfeito.

Opinião semelhante tem o analista de mercado Pedro Galdi, da Magliano Corretora, para quem, a partir desta sexta-feira, deve haver rebaixamentos em série, começando pelos bancos estatais e posteriormente empresas brasileiras, como a Petrobras. Segundo ele, o rebaixamento foi um sinal claro sobre as incertezas em relação à aprovação das reformas necessárias para o ajuste fiscal, principalmente em relação à reforma da Previdência.

Pedro Galdi disse não saber se a reforma da Previdência será agora aprovada em fevereiro próximo, mas com certeza o rebaixamento poderá ajudar o governo a reforçar a necessidade de o Congresso aprovar.

Dentre as empresas que deverão ter sua nota também rebaixada pela agência de risco está a Petrobras, que poderá ser prejudicada em sua política de alongamento da dívida.

"A medida (o rebaixamento) afeta a todos bancos e empresas. E certamente a "janela" de oportunidade de captações de recursos a juros raozoáveis se fechou. As empresas como a Petrobras vão ter que esperar outro momento", destacou Galdi

O economista concorda que a decisão da S&P será usada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para pressionar os parlamentares a aprovar a reforma da Previdência, mas acha improvável que isso aconteça.

"No ano passado não conseguiram. Agora, com eleições, é muito mais difícil. 

Rebaixar a nota mesmo antes da discussão da reforma da Previdência prevista para fevereiro é uma forma de fazer pressão com foco no cenário político e trabalhar para que o Brasil se mantenha no caminho dos últimos anos, avalia Adeodato Netto, à frente da Eleven Financial Research:

"A decisão da S&P foi tempestiva e assertiva. É um recado claro, alertando para o risco de ruptura com as políticas responsáveis de condução da situação econômica do país, o risco da inversão da tendência de redução de endividamento, de enxugar os gastos do estado e outras medidas nessa direção", destaca ele. "Mas é um recado também ao governo atual, para que tenha mais visão de longo prazo e menos preocupação em ser popular".

Netto não vê, contudo, impacto relevante da decisão anunciada pela agência para o mercado:

"Nós já somos(grau especulativo), já captamos recursos por um custo mais caro. Isso já está precificado. Em tese, só levará mais tempo para recuperar o grau de investimento".

Luis Otávio Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, também não ficou surpreso com o rebaixamento.

"Houve adiamento da reforma da Previdência, discussão sobre mudanças na regra de ouro, várias medidas para cumprir o teto de gastos não foram aprovadas como a taxação dos fundos, foi suspenso pelo STF (Supremo Tribunal Federal) o adiamento do reajuste do funcionalismo, usaram uma medida um tanto heterodoxa para capitalizar a Caixa e as chances de privatizar a Eletrobras diminuíram. Não foi surpresa".

Ele vê um efeito positivo nesse rebaixamento, que talvez ajude a aprovar a reforma

"Talvez seja o incentivo que faltava para os políticos votarem a reforma. A inércia tem um custo".

Ele afirma que o dólar vai subir depois do rebaixamento, mas não deve passar de R$ 3,30, e a bolsa cair. Parte desse rebaixamento já estava nos preços dos ativos.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, afirma que esse rebaixamento já era esperado no fim do ano passado, depois do adiamento da reforma da Previdência.

"Até os melhores resultados fiscais foram conseguidos com receitas não recorrentes. Isso passa uma grande fragilidade".

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O economista da Austin Ratings não acredita que o rebaixamento vai facilitar a vida do governo no Congresso para conseguir aprovar a reforma da Previdência. E teme que os investimentos percam um pouco de ritmo e os lançamentos de ações em Bolsa ficam mais depreciados.

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