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Roubos fazem seguro de cargas para o Rio triplicar de valor

Roubos fazem seguro de cargas para o Rio triplicar de valor

Insegurança causou alta do preço do frete e tem provocado prejuízo a empresas capixabas

Publicado em 13 de janeiro de 2018 às 03:26

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Caixas de mercadorias roubadas foram flagradas pelo helicóptero da TV Globo, ontem pela manhã, no meio de uma rua do Morro Camarista Meier, na Zona Norte do Rio, enquanto policiais buscavam criminosos. (Reprodução/TV Globo)

A violência no Rio de Janeiro tem trazido prejuízos que extrapolam a área territorial da capital fluminense. A insegurança vivida por lá já respinga aqui no Espírito Santo e em outros Estados que têm negócios na “Cidade Maravilhosa”.

Um desses reflexos é sentido pelo setor de transportes, que viu no último ano o preço do seguro de cargas até triplicar, afetando diretamente o custo do frete de mercadorias, que hoje já chega a ficar 30% mais caro, de acordo com o produto transportado e a região do Rio onde será entregue.

O presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística do Espírito Santo (Transcares), Liemar José Pretti, afirma que a situação é tão grave que há empresas que estão deixando de atuar no Rio para evitar prejuízos financeiros e também para não expor seus profissionais a situações de risco.

De acordo com ele, todos os tipos de mercadoria são alvo em potencial dos bandidos, mas algumas são as preferidas, como alimentos, bebidas, eletrodomésticos e eletrônicos. “Eles estão atrás de cargas que podem ser vendidas facilmente e que não tenham facilidade de rastreamento”, cita Pretti.

A situação dramática é confirmada pelos números. Nos últimos cinco anos, o roubo de cargas no Rio de Janeiro cresceu 200%, passando de 3.534 em 2013, para 10.593 em 2017. Eduardo Rebuzzi, presidente da Federação do Transporte de Cargas do Rio de Janeiro (Fetranscarga), contabiliza que os prejuízos de 2017 já atingiram quase R$ 900 milhões.

Ele explica que a insegurança e os elevados custos levaram as transportadoras a criarem uma taxa extra para as empresas que contratam seus serviços com partida ou destino no Rio de Janeiro.

Batizada de Taxa de Emergência Excepcional (Emex), o valor adicional varia de acordo com a carga, sendo R$ 10 a cada 100 kg transportado, além de um percentual de até 1% do valor total da carga.

“O frete para a Região Metropolitana do Rio está mais caro por conta dessa insegurança. Assim a gente vê, além da Emex, o aumento das apólices de seguro para essa região por parte das seguradoras. Juntas, portanto, essas duas medidas estão sendo responsáveis pelo encarecimento do frete”, comentou o presidente da Federação das Empresas de Transportes do Espírito Santo (Fetransportes), Jerson Picoli, lembrando que a taxa, embora tenha sido criada a partir da situação do Rio, não é exclusiva para lá.

Empresas do setor no Espírito Santo que atuam no Rio demonstram preocupação com a escalada de roubos por lá. Rômulo Ribeiro, responsável pelo setor de seguros da Transportadora Jolivan, comenta que só em 2017 os furtos a cargas da empresa aumentaram 50%. Com isso, há seguradoras que se recusam a prestar o serviço quando o destino é o Rio de Janeiro.

“As seguradoras querem cobrar mais por cargas que são para o Rio. Quando tem que passar por locais como a Avenida Brasil, dependendo da carga, eles nem dão cobertura, e às vezes chegam a cobrar o dobro do valor do seguro normal. Está ficando uma situação complicada para a gente devido a esse descontrole”, ressalta.

Assistente comercial da Patrus Transportes, Geisiane Sodré conta que a empresa se viu obrigada a reduzir os embarques para o Rio. “Foi a solução que encontramos. Reduzimos ao máximo para não correr esse risco. Mas isso acaba nos prejudicando. Sobre o pouco que ainda é transportado para lá, vai com um valor total acrescido de uns 30% pela taxa Emex, que tem sido nosso único meio de se resguardar.”

Se no Rio de Janeiro as transportadoras vivem o drama do aumento da insegurança ano a ano, no Espírito Santo, essa realidade é bem diferente. Segundo o delegado titular da Delegacia de Roubo a Cargas, Nilton Abdala, no Estado, as ocorrências desse tipo de crime só vêm caindo. “Estamos atuando no combate às organizações criminosas, e o resultado disso é a queda significativa dos roubos de cargas”, afirmou, sem detalhar os números.

Traficantes passaram a desviar produtos

A explicação pelo expressivo crescimento do roubo de cargas no Estado do Rio, segundo entidades, seria a mudança do próprio padrão dos crimes.

O presidente da Federação do Transporte de Cargas do Rio de Janeiro (Fetranscarga), Eduardo Rebuzzi, explica que sempre houve roubo desses produtos no país, sendo que 80% deles eram concentrados no Rio de Janeiro e em São Paulo, e a maior parte da atuação era de quadrilhas especializadas.

Mas a partir da implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) na capital fluminense, o tráfico de drogas começou a ser combatido de uma forma mais efetiva, reduzindo a atuação de traficantes nas favelas cariocas.

“Dessa forma, muitos criminosos encontraram no segmento de cargas uma forma de se financiar. Eles passaram a roubar todo o tipo de carga, como carne, chocolate, eletrônicos, e qualquer produto que pudesse ser comercializado de forma rápida. Assim, eles conseguem ter um capital de giro para financiar a compra de drogas e armas”, explica Rebuzzi.

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O presidente da Fetranscarga conta que a ousadia dos criminosos é tamanha que eles escolhem menores de 18 anos para abordarem os caminhoneiros nas rodovias. “Menores entram no caminhão e mandam o motorista seguir para determinado endereço. Ou ainda o menor vai de moto e manda o profissional segui-lo até a favela. Assim, se a polícia for acionada e conseguir pegar o bandido, logo o adolescente é liberado”, diz o empresário, que ressalta que os bandidos costumam agir de madrugada ou pela manhã.

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