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Empresas sobrevivem à invasão asiática no ES

Empresas sobrevivem à invasão asiática no ES

Quem não fechou as portas teve que se reinventar no mercado

Publicado em 13 de fevereiro de 2018 às 01:21

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Samir Melhem é diretor de empresa detentora de marca de roupas infantis: mercadorias asiáticas causaram queda de até 20% nas vendas de seus produtos. (Marcelo Prest)

Na fábrica, as linhas e tecidos são transformados em roupas de diferentes modelos e cores. Há alguns anos, os polos têxteis geraram empregos e renda em larga escala para o Estado, mas já se passaram quase dez anos desde o ponto em que essa realidade começou a mudar, principalmente devido à invasão do “dragão chinês” no mercado capixaba.

A importação de produtos de origem asiática, vindos principalmente da China, para o Espírito Santo, trouxe problemas não só para quem trabalhava na fabricação, mas mexeu também com outro lado desse setor, ou seja, com a venda de roupas e tecidos no varejo.

“Já tivemos cerca de 1,3 mil empresas ligadas à indústria têxtil no Estado, desde fábricas a lojas de confecção. Com os anos, desde 2010 esse número reduziu em 25%”, diz o presidente da Câmara do Vestuário na Federação das Indústrias (Findes), José Carlos Bergamin.

Ainda segundo ele, muitas empresas acabaram encolhendo e demitindo, fazendo com que muitas pessoas se tornassem microempreendedores individuais (MEIs).

Os números do setor no Estado reforçam essa perda de potência. Em 2011, a indústria têxtil registrou queda de 39,48% no seu faturamento e, a do vestuário, 7,16%.

Os empresários tiveram que aprender a lidar com a concorrência. A pressão que os produtos importados gerou no mercado interno fez com que as indústrias e empresas do setor fossem obrigadas a se modernizar e repensar conceitos para poder competir.

No caso do empresário Edvaldo Vieira, 57 anos, proprietário de uma marca especializada em moda jeans, a chegada dos produtos asiáticos foi muito difícil. Por conta disso, a fábrica, que fica em Colatina, precisou passar por uma transformação.

“Minha indústria estava focada na qualidade do que vendia. Os chineses encheram o mercado de produtos com preços muito baixos, aquém do valor que a indústria nacional tinha para competir”, lembra.

Segundo Edvaldo, para poder permanecer no mercado, teve que, gradualmente, reduzir os preços em até 40%. “Isso fez com que não pudéssemos realizar alguns investimentos futuros. Além disso, tivemos uma redução drástica de pessoal. Precisamos melhorar os processos de produção, o que foi um lado positivo disso tudo”, explicou.

Segundo o presidente da Câmara do Vestuário, José Bergamin, quando a indústria começou a se estabilizar, com o valor do câmbio aumentando, encarecendo os produtos importados, as grandes redes de lojas passaram a comprar mais no mercado interno simplesmente porque precisavam de coleções pequenas e, devido à crise, estavam atrás de novidades.

MUDANÇA

 

O impacto também foi grande para quem trabalhava com moda infantil. De acordo com Samir Melhem, um dos diretores de uma empresa detentora de uma marca de roupas infantis, as mercadorias asiáticas causaram um impacto de redução nas vendas de seus produtos entre 15% e 20%.

Para lidar com o problema, foi preciso fortalecer a marca com uma identidade forte, mais moda, produtos mais atuais, além de se preocupar com características adaptadas a costumes brasileiros.

“Precisamos mudar o tipo de produto que vendemos hoje. Antes, ele era voltado para o dia a dia, mas sempre tendo como princípio o preço, a qualidade e o conforto. Hoje, mudamos e priorizamos design, qualidade e conforto. Nós estudamos e lançamos a moda. Estamos atualizados com relação ao desejo de consumo brasileiro”, explica.

“ESTADO NÃO TEM INDÚSTRIAS TÊXTEIS”

Parece que a Ásia é logo ali. Por onde olhamos vemos produtos importados desse continente. Roupas, bijuterias e brinquedos são apenas alguns dos itens vindos do outro lado do mundo. Mas além desses produtos, que já chegam prontos ao Estado, boa parte dos tecidos usados na fabricação de roupas pelas fábricas capixabas vêm de fora do Espírito Santo ou até mesmo do país.

Hoje, o Estado não possui mais nenhuma indústria de tecidos e apenas uma de fabricação de linhas. Segundo a Sindicato da Indústria de Confecção de Roupas em Geral (Sinconfec), Clara Orlandi, com o preço dos tecidos estrangeiros mais baixos, os brasileiros não conseguem competir.

Um exemplo claro disso é o preço de um tecido comprado para a confecção de camisas. No Brasil, o metro desse produto chega a custar R$ 15. Porém, se vier importado da China, chega ao país a um custo de R$ 8 o metro.

“Com isso, muitas indústrias do setor têxtil fecharam, ou passaram pelo enxugamento, ou ainda importam a matéria-prima de fora. O valor da matéria-prima foi uma das coisas mais importantes, que somado aos encargos financeiros e impostos, propiciaram que as indústrias fechassem”, diz Orlandi.

Se o tecido importado custava quase a metade do valor do brasileiro, com os produtos prontos o cenário não era muito diferente. De acordo com José Carlos Bergamin, presidente da Câmara do Vestuário do ES na Federação das Indústrias (Findes), os produtos importados eram fabricados em condições predatórias, por isso o valor era mais baixo, causando perda de competitividade das indústrias brasileiras.

“Nós não estamos competindo com produtos feitos em condições sustentáveis, legais e direito. Com isso, as indústrias de vestuário e têxteis entraram em grande crise. Elas quebraram e não se modernizaram. Toda a cadeia têxtil foi afetada”, diz.

Além do produto asiático ser mais barato que o nacional, o preço do dólar naquele período - em 2010 - era muito baixo, o que possibilitou que o impacto nacional fosse maior. Naquele ano, um dólar chegou a custar menos de R$ 1,70. Em 2016, chegou a ultrapassar os R$ 4 e, hoje, está na casa dos R$ 3,30.

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Grandes empresas têxteis, como a Fiesa (2015) e a Poltex (2015), não resistiram ao mercado com preços muito baixos e, quando parecia que poderiam se recuperar, veio a crise e elas não resistiram a esse novo desafio. No histórico do Estado não sobrou nenhuma fabricante de tecidos.

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