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Bancos estudam projeto para alterar dívida de cheque especial

Bancos estudam projeto para alterar dívida de cheque especial

Proposta é, após 30 dias, passar saldo negativo para crédito pessoal

Publicado em 8 de março de 2018 às 11:16

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Novas regras para o cheque especial . (Reprodução)

Após pressão da sociedade e do Banco Central (BC), as instituições financeiras começaram a desenhar um projeto para não deixar os clientes no cheque especial — cujos juros estão em 324,7% ao ano — por mais de 30 dias. Segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, a proposta que está na mesa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e já foi levada ao BC é transformar o saldo negativo automaticamente em um crédito pessoal, que tem taxa de 122,6% por ano, após 30 dias de uso do cheque especial. O cliente, porém, terá de autorizar previamente essa transação.

De acordo com técnicos do setor, a medida ainda não está em sua forma final. Uma dúvida é se seria possível manter ativo ou não o limite de cheque especial do correntista. Argumenta-se que o brasileiro tem a cultura de já contar com aquele dinheiro em sua conta. Mas há quem insista que chegou o momento de mudar isso.

Houve várias divergências entre os bancos sobre o modelo. Alguns insistiam que a melhor saída era apenas investir em ações pesadas de educação financeira. As instituições chegaram a cogitar fazer o anúncio ainda este mês, apenas com o programa educacional, mas houve quem defendesse que o momento atual, em que a taxa básica de juros (Selic) está em seu menor patamar histórico — 6,75% ao ano —, é o ideal para fazer uma mudança mais significativa.

Quando a atual diretoria do BC assumiu, em meados de 2016, os juros básicos da economia estavam em 14,25% ao ano. Apesar disso, naquela época, a taxa do cheque especial estava mais baixa: 311,48% ao ano.

Desde então, a inadimplência não sofreu grandes alterações. Passou de 14,9% para 15,2%. Ou seja, ficou muito mais barato para os bancos captarem, mas, mesmo assim, eles passaram a cobrar mais para os clientes com o orçamento apertado.

Até agora, o consenso é que a mudança não pode ser obrigatória, como a que o BC fez no uso do cartão de crédito, com renegociação obrigatória, no ano passado. A ideia é fazer com que o cliente opte por transformar o débito em crédito pessoal.

- Ninguém deve ser obrigado a aderir. Os bancos devem explicar direitinho como vai funcionar - falou uma fonte a par das discussões.

Atualmente, os brasileiros estão no vermelho em R$ 24,4 bilhões. Em janeiro, houve um salto de 12% dessa dívida, pelo fato de ser um mês com muitas contas, como impostos e material escolar. No entanto, nos últimos 12 meses, o estoque de endividamento caiu 4,5%.

PODE NÃO SER VANTAJOSO

O problema, para quem não está acostumado a ficar pendurado todos os meses no cheque especial, é que a mudança automática pode pesar mais no bolso. Se a pessoa passasse apenas um mês no vermelho, pagaria 12,8% ao mês de juros sobre a quantia. No entanto, se esse valor for parcelado, a carga de juros do crédito pessoal é, em média, de 122,6% ao ano. Neste caso, não valeria a pena dar a autorização ao banco.

O foco da medida é o cliente que vive atolado no cheque especial. Quem fica R$ 1 mil no cheque especial por um ano acumula uma dívida de R$ 4.109,89 se não movimentar mais a conta.

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— Há ainda um contingente alto de pessoas desempregadas no Brasil que precisam do cheque especial — lembra Patrícia Pereira, gestora de Renda Fixa da Mongeral Aegon Investimentos. — Em muito pouco tempo, essa dívida torna-se impagável.

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