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Finanças: gastos 'invisíveis' drenam o salário

Finanças: gastos "invisíveis" drenam o salário

Pequenas despesas mensais podem alterar o equilíbrio financeiro

Publicado em 18 de março de 2018 às 00:41

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Marianne de Medeiros conseguiu juntar dinheiro cortando os supérfluos. (Ricardo Medeiros)

Quem nunca tomou um susto ao ver o saldo da conta antes do fim do mês e não saber como gastou todo o dinheiro? Muita gente pensa que os pequenos gastos do dia a dia não pesam, mas quando se coloca isso na ponta do lápis, a conta é muito mais alta do que se imagina.

Foi assim que a professora Marianne de Medeiros Grativon, 29 anos, descobriu que quase metade de seu salário estava sendo gasta com lanches e almoço fora de casa. O valor era tão alto que, neste mês, um ano depois de mudar seus hábitos e passar a se alimentar mais em casa, ela conseguiu dar uma boa entrada na compra de um carro.

“Eu não me preocupava com meus gastos, até que a escola em que eu trabalho adotou a educação financeira como parte do currículo. Tive uma capacitação para começar a trabalhar com as crianças e, nessa capacitação, eles trabalharam com o que gastava a mais, deram dicas. Anotei minhas despesas e percebi que gastava muito dinheiro à toa”, lembra.

Ela só trabalha à tarde, mas, em vez de almoçar em casa, comia em restaurante. Também era fã do lanche na padaria. “Era cômodo, mas passei a almoçar em casa e levar lanche sempre que possível. Uns 50% do salário iam nisso. Cortei também o cartão de crédito, percebi que comprava muito parcelado, coisas sem necessidade”, conta.

Marianne revela que colocou como objetivo, para ter motivação em cortar gastos, a compra de um carro. “Consegui realizar esse sonho no início do mês, isso mudando de vida durante um ano. O dinheiro que de repente gastaria pagando cartão de crédito e coisas desnecessárias, fui guardando e agora em março consegui dar entrada boa no carro. Ele vai me ajudar a me deslocar entre os alunos particulares, vou conseguir pegar mais trabalho”, comemora.

organização

A história de Marianne é um exemplo de que é possível organizar a vida financeira para realizar sonhos secando os “ralos” do salário. O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e autor do canal do YouTube “Dinheiro À Vista”, Reinaldo Domingos, explica que tudo que é gasto de forma contínua – ou seja, valores de qualquer tamanho que são pagos todas as semanas, ou todos os meses – vai tomando um volume significativo na vida da pessoa.

“Ela não enxerga porque não tem uma análise financeira. A primeira grande orientação é buscar pelo menos uma vez por ano anotar os gastos por 30 dias. Ali a pessoa vai descobrir para onde estão indo os centavos, e de onde provém o desequilíbrio financeiro. Você pensa que não gasta muito, mas esquece os pequenos valores. O dinheiro que dá para o filho, R$ 5, R$ 10, R$ 30, R$ 50... é natural não computar esses gastos. Mas é necessário apurar isso uma vez por ano”, orienta.

É preciso anotar no momento em que gastar. “A pessoa deve anotar quanto gastou e com o que foi a despesa. Com isso, vai começar a encontrar para onde está indo cada centavo do dinheiro. Depois, pegar essa totalização e colocar no orçamento, colocar quanto ganha bruto e quanto líquido, os pequenos descontos no salário, e isso vai dar consciência dos pequenos números ‘invisíveis’ que se perdem”, comenta.

sonhos

O próximo passo, acrescenta a educadora financeira da Dsop, Lorena Milaneze, é definir sonhos a serem alcançados, metas como comprar um carro ou viajar nas férias.

“Cada um tem que entender seus hábitos. Não é para ficar sem tomar suco, mas tem que calibrar os supérfluos e ver o que é desperdício. Por outro lado, tenho que ter um sonho que me motive, se não o dinheiro vai embora com qualquer coisa. Tem que dar um destino para esse dinheiro, porque senão deixa de fazer as coisas e não tem recompensa por isso”, observa.

Outro cuidado, aponta o economista e presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Ricardo Paixão, é com o cartão de crédito. “O cartão pode ser uma ilusão monetária. É bom ter cuidado com o limite do cartão para não ter susto. Se a fatura chegar e você for surpreendido com o valor, é porque não tem bom planejamento financeiro”, diz.

TRANSPORTE E LANCHE SÃO VILÕES DO BOLSO

Fazer um lanche quando vai ao shopping ou comprar umas guloseimas no fim da tarde na padaria são hábitos deliciosos. Usar o serviço de transporte de passageiros por aplicativo também facilita demais o dia a dia. Mas são essas atitudes que podem estar acabando com seu salário antes do fim do mês.

O lanche, em muitas situações, pode ser um grande vilão do salário, explica o economista e presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Ricardo Paixão. “Às vezes, a gente tem costume de ir ao shopping e fazer um lanche, muita gente gosta. Quando leva a família, os filhos, isso tem um gasto muito elevado. Uma ida despretensiosa ao shopping gera uma despesa enorme, tem estacionamento, a pessoa pode gastar R$ 100 sem perceber. Ela passa o cartão e perde a programação. Tem que se policiar, ver quantas vezes faz isso no mês”, alerta ele.

Outra grande vilã do orçamento doméstico é a padaria. Isso porque é muito comum uma pessoa ir comprar um pão e sair de lá com outros produtos. “Quem tem o hábito de passar na padaria e comprar o pão, às vezes, olha bolo, um salgado, e sai dali com gasto de R$ 30, R$ 50. Isso acaba onerando o orçamento e as famílias não percebem”, afirma Paixão.

O uso de aplicativos de transporte, como o Uber, são uma comodidade, principalmente para quem precisa ganhar tempo. Os valores mais baixos também são atraentes. Mas usá-lo com frequência pode acabar com um susto no fim do mês.

“O Uber é barato, mas você chama um aqui, outro lá. Cada corrida é baratinha, mas no final sai caro”, orienta o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos.

Outro dreno de dinheiro são as compras por impulso, pondera a educadora financeira da Dsop, Lorena Milaneze.

“As compras por impulso, as promoções, ou algo que alguém chega vendendo e a pessoa acaba comprando, isso tudo, às vezes, não é um valor tão alto, mas não é um gasto planejado. No fim do mês, a pessoa vai fechar no vermelho por causa disso.”

A sobremesa diária na hora do almoço, para quem come fora, também pode ter um valor muito alto dentro do salário mensal. “Não é que não possa ter, mas se for uma coisa diária, provavelmente vai impactar muito no orçamento. É preciso equilibrar”, afirma Lorena.

SAIBA MAIS

Como organizar a vida financeira

Faça um orçamento

Saber quanto ganha e quanto gasta é o primeiro passo para organizar a vida financeira. Coloque no papel, no computador ou num aplicativo os valores recebidos e gastos. Inclua também o que anotou por 30 dias, identificando como gastos variáveis.

Renegocie e organize dívidas

Se você tiver muitas dívidas, coloque elas numa lista. Os juros pagos podem ser um gasto “invisível” de peso. Ligue para os credores e negocie. Se for possível vender um bem para quitar tudo, venda. Se não for, peça descontos e feche parcelas que caibam no orçamento. Troque dívida caras como cartão de crédito por outras mais baratas – ao pagar à vista, lembre de chorar aquele descontão.

Envolva a família

Chame a família para participar da organização das finanças. Explique para os filhos o quanto é importante fazer isso e que será necessário sacrifícios para mudar alguns hábitos.

Estabeleça sonhos

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Dar entrada na casa própria, comprar um carro, viajar nas férias... Estabeleça metas e prazos para realizar sonhos para ficar mais fácil de cortar despesas.

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