Quem nunca tomou um susto ao ver o saldo da conta antes do fim do mês e não saber como gastou todo o dinheiro? Muita gente pensa que os pequenos gastos do dia a dia não pesam, mas quando se coloca isso na ponta do lápis, a conta é muito mais alta do que se imagina.
Foi assim que a professora Marianne de Medeiros Grativon, 29 anos, descobriu que quase metade de seu salário estava sendo gasta com lanches e almoço fora de casa. O valor era tão alto que, neste mês, um ano depois de mudar seus hábitos e passar a se alimentar mais em casa, ela conseguiu dar uma boa entrada na compra de um carro.
Eu não me preocupava com meus gastos, até que a escola em que eu trabalho adotou a educação financeira como parte do currículo. Tive uma capacitação para começar a trabalhar com as crianças e, nessa capacitação, eles trabalharam com o que gastava a mais, deram dicas. Anotei minhas despesas e percebi que gastava muito dinheiro à toa, lembra.
Ela só trabalha à tarde, mas, em vez de almoçar em casa, comia em restaurante. Também era fã do lanche na padaria. Era cômodo, mas passei a almoçar em casa e levar lanche sempre que possível. Uns 50% do salário iam nisso. Cortei também o cartão de crédito, percebi que comprava muito parcelado, coisas sem necessidade, conta.
Marianne revela que colocou como objetivo, para ter motivação em cortar gastos, a compra de um carro. Consegui realizar esse sonho no início do mês, isso mudando de vida durante um ano. O dinheiro que de repente gastaria pagando cartão de crédito e coisas desnecessárias, fui guardando e agora em março consegui dar entrada boa no carro. Ele vai me ajudar a me deslocar entre os alunos particulares, vou conseguir pegar mais trabalho, comemora.
organização
A história de Marianne é um exemplo de que é possível organizar a vida financeira para realizar sonhos secando os ralos do salário. O presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e autor do canal do YouTube Dinheiro À Vista, Reinaldo Domingos, explica que tudo que é gasto de forma contínua ou seja, valores de qualquer tamanho que são pagos todas as semanas, ou todos os meses vai tomando um volume significativo na vida da pessoa.
Ela não enxerga porque não tem uma análise financeira. A primeira grande orientação é buscar pelo menos uma vez por ano anotar os gastos por 30 dias. Ali a pessoa vai descobrir para onde estão indo os centavos, e de onde provém o desequilíbrio financeiro. Você pensa que não gasta muito, mas esquece os pequenos valores. O dinheiro que dá para o filho, R$ 5, R$ 10, R$ 30, R$ 50... é natural não computar esses gastos. Mas é necessário apurar isso uma vez por ano, orienta.
É preciso anotar no momento em que gastar. A pessoa deve anotar quanto gastou e com o que foi a despesa. Com isso, vai começar a encontrar para onde está indo cada centavo do dinheiro. Depois, pegar essa totalização e colocar no orçamento, colocar quanto ganha bruto e quanto líquido, os pequenos descontos no salário, e isso vai dar consciência dos pequenos números invisíveis que se perdem, comenta.
sonhos
O próximo passo, acrescenta a educadora financeira da Dsop, Lorena Milaneze, é definir sonhos a serem alcançados, metas como comprar um carro ou viajar nas férias.
Cada um tem que entender seus hábitos. Não é para ficar sem tomar suco, mas tem que calibrar os supérfluos e ver o que é desperdício. Por outro lado, tenho que ter um sonho que me motive, se não o dinheiro vai embora com qualquer coisa. Tem que dar um destino para esse dinheiro, porque senão deixa de fazer as coisas e não tem recompensa por isso, observa.
Outro cuidado, aponta o economista e presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Ricardo Paixão, é com o cartão de crédito. O cartão pode ser uma ilusão monetária. É bom ter cuidado com o limite do cartão para não ter susto. Se a fatura chegar e você for surpreendido com o valor, é porque não tem bom planejamento financeiro, diz.
TRANSPORTE E LANCHE SÃO VILÕES DO BOLSO
Fazer um lanche quando vai ao shopping ou comprar umas guloseimas no fim da tarde na padaria são hábitos deliciosos. Usar o serviço de transporte de passageiros por aplicativo também facilita demais o dia a dia. Mas são essas atitudes que podem estar acabando com seu salário antes do fim do mês.
O lanche, em muitas situações, pode ser um grande vilão do salário, explica o economista e presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon), Ricardo Paixão. Às vezes, a gente tem costume de ir ao shopping e fazer um lanche, muita gente gosta. Quando leva a família, os filhos, isso tem um gasto muito elevado. Uma ida despretensiosa ao shopping gera uma despesa enorme, tem estacionamento, a pessoa pode gastar R$ 100 sem perceber. Ela passa o cartão e perde a programação. Tem que se policiar, ver quantas vezes faz isso no mês, alerta ele.
Outra grande vilã do orçamento doméstico é a padaria. Isso porque é muito comum uma pessoa ir comprar um pão e sair de lá com outros produtos. Quem tem o hábito de passar na padaria e comprar o pão, às vezes, olha bolo, um salgado, e sai dali com gasto de R$ 30, R$ 50. Isso acaba onerando o orçamento e as famílias não percebem, afirma Paixão.
O uso de aplicativos de transporte, como o Uber, são uma comodidade, principalmente para quem precisa ganhar tempo. Os valores mais baixos também são atraentes. Mas usá-lo com frequência pode acabar com um susto no fim do mês.
O Uber é barato, mas você chama um aqui, outro lá. Cada corrida é baratinha, mas no final sai caro, orienta o presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos.
Outro dreno de dinheiro são as compras por impulso, pondera a educadora financeira da Dsop, Lorena Milaneze.
As compras por impulso, as promoções, ou algo que alguém chega vendendo e a pessoa acaba comprando, isso tudo, às vezes, não é um valor tão alto, mas não é um gasto planejado. No fim do mês, a pessoa vai fechar no vermelho por causa disso.
A sobremesa diária na hora do almoço, para quem come fora, também pode ter um valor muito alto dentro do salário mensal. Não é que não possa ter, mas se for uma coisa diária, provavelmente vai impactar muito no orçamento. É preciso equilibrar, afirma Lorena.
SAIBA MAIS
Como organizar a vida financeira
Faça um orçamento
Saber quanto ganha e quanto gasta é o primeiro passo para organizar a vida financeira. Coloque no papel, no computador ou num aplicativo os valores recebidos e gastos. Inclua também o que anotou por 30 dias, identificando como gastos variáveis.
Renegocie e organize dívidas
Se você tiver muitas dívidas, coloque elas numa lista. Os juros pagos podem ser um gasto invisível de peso. Ligue para os credores e negocie. Se for possível vender um bem para quitar tudo, venda. Se não for, peça descontos e feche parcelas que caibam no orçamento. Troque dívida caras como cartão de crédito por outras mais baratas ao pagar à vista, lembre de chorar aquele descontão.
Envolva a família
Chame a família para participar da organização das finanças. Explique para os filhos o quanto é importante fazer isso e que será necessário sacrifícios para mudar alguns hábitos.
Estabeleça sonhos
Dar entrada na casa própria, comprar um carro, viajar nas férias... Estabeleça metas e prazos para realizar sonhos para ficar mais fácil de cortar despesas.
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