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Piloto viu e viveu transformações do aeroporto: 'Pista de cimento'

Piloto viu e viveu transformações do aeroporto: "Pista de cimento"

Alfredo César da Silva acompanha as mudanças no terminal aeroportuário de Vitória desde os anos 1950

Publicado em 27 de março de 2018 às 17:52

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O piloto Alfredo César da Silva. (Fernanda Madeira - GZ)

O ano era 1952. Com apenas 16 anos de idade, o hoje economista aposentado Alfredo César da Silva cruzou a Capital para iniciar seu curso de piloto de aeronaves no chamado Aeroporto das Goiabeiras, onde funcionava na época o Aeroclube do Espírito Santo.

Quando ele chegou ao aeroporto, o terminal tinha apenas 13 anos de fundação e 10 de operação. "Tudo era muito diferente. Eu encontrei aquela antiga estação de passageiros que era apenas um salão pequeno, com basicamente um banheiro, um restaurante e alguns balcões de atendimento", lembra.

especialHoje com 82 anos, o piloto recorda que a pista do "campo de aviação" - como também era chamado o aeroporto - foi feita de cimento. "Ela tinha 1.500 metros de extensão e era toda de cimento, o que já era um avanço porque uns poucos anos antes era uma pista de grama".

Outra lembrança é da região, que se transformou ao longo do tempo. Alfredo conta que na época Camburi era apenas uma grande mata de restinga. Os entornos eram totalmente desabitados, e o acesso era por uma estrada de terra e barro.

"Eu saía do Centro da cidade, pegava o bonde até a Praia do Canto e de lá eu ia caminhando por essa estrada de barro para chegar até o aeroporto e fazer o curso. Não tinha nada por perto. Eu lembro que onde hoje é a Ufes, por exemplo, era um grande campo de golfe que ingleses fizeram. O acesso da ilha para o continente era apenas pela Ponte da Passagem, e Camburi era um imenso matagal", diz.

VIDA

O piloto Alfredo César da Silva. (Fernanda Madeira - GZ)

Aos 17 anos e meio Alfredo já era formado piloto. Mas ele não parou por aí. A paixão pela aviação fez com que sempre seguisse na área, que ele define como seu maior prazer. "Nunca segui carreira na aviação comercial, só no aeroclube. Depois de aluno, quando me tornei piloto, também fui instrutor por muitos anos, presidente do aeroclube por algumas vezes e hoje sou conselheiro", conta.

A paixão por voar, ele lembra, nasceu antes até do contato com o aeroporto. Na infância, ele morava com a família de frente para onde se operavam os chamados hidroaviões, na região de Santo Antônio. "Eu morava do outro lado da ilha e via desde pequeno aquela operação de pousos e decolagens, o que me chamava muito a atenção."

O carinho por voar é tamanho que levou Alfredo a escrever, em 2014, um livro que lembra os fatos dos 75 anos do Aeroclube do Espírito Santo, cuja história se confunde com a do Aeroporto da Capital e com a própria aviação capixaba.

"Eu vivo nesse meio desde os 16 anos. Nunca saí dele. Fui economista, trabalhei na Vale, mas essa sempre foi a atividade que mais me dava prazer. Com o aeroclube grande e desenvolvido do jeito que está hoje, decidi escrever o livro com base em tudo o que eu vivi, ouvi e li", explica.

MEMÓRIA

Alfredo lembra com clareza todas as companhias que operavam em Vitória naqueles primeiros anos de aeroporto. Eram seis ao todo: Navegação Aérea Brasileira (NAB), Linhas Aéreas Brasileiras (LAB), Cruzeiro do Sul, Viação Aérea São Paulo (VASP), Aerovias Brasil, e Lóide Aéreo Nacional.

Outras informações que Alfredo guarda com carinho na memória são as ampliações e modernizações do aeroporto que ele viu ao longo da vida. A primeira, que cimentou a pista de grama, ocorreu na época da Segunda Guerra Mundial.

Aspas de citação

Eu fico muito feliz e satisfeito de ver esse progresso da aviação no Estado e com esse crescimento do Aeroporto de Vitória, que tem uma história antiga e muito bonita, que enfim está sendo respeitada com a finalização dessa tão esperada obra

Alfredo César da Cilva
Aspas de citação

"Pelas necessidades da guerra, o governo federal começou a dar mais apoio aos aeroportos do litoral, já que pelo mar submarinos alemães espionavam o Brasil. Aí eles melhoraram a pista, o que possibilitou a operação de aviões grandes de bombardeio e transporte de materiais da guerra", ressalta.

Uma nova modernização só veio acontecer cerca de 30 anos depois, na década de 70, quando a pista de cimento foi asfaltada e o terminal atual, construído. "A pista, que era de 1.500 metros, foi expandida para 1.750 metros, e o pátio também foi aumentado. A esse aeroporto deu-se o nome que temos hoje, que é Eurico Salles de Aguiar."

NOVO AEROPORTO

Depois de acompanhar tantas reformas e mudanças ao longo do tempo, ver também o novo aeroporto saindo do papel é algo que anima Alfredo, um personagem que, sem dúvidas, faz parte da história da aviação capixaba.

"Eu fico muito feliz e satisfeito de ver esse progresso da aviação no Estado e com esse crescimento do Aeroporto de Vitória, que tem uma história antiga e muito bonita e que, enfim, está sendo respeitada com a finalização dessa tão esperada obra", afirma.

Ver finalizada a ampliação do complexo aeroportuário, que ele acompanhou de perto, não deixa de ser uma satisfação. "A gente via grandes aeroportos fora, no Brasil e no mundo, e dava aquela inveja, e eu pensava 'poxa vida, Vitória merecia algo assim'. Agora, graças a Deus, teremos um terminal que vai dar mais qualidade e conforto aos capixabas", comemora.

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Para finalizar, Alfredo ainda deu uma bela ideia para as companhias aéreas: "Com tantos talentos da aviação que formamos aqui, seria interessante e motivo de orgulho que o primeiro voo comercial a pousar na nova pista fosse composto por uma tripulação capixaba". Se a ideia vai ser aceita não se sabe. Mas como ele mesmo diz: "A gente merece, né?".

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