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Praia do Canto lidera abertura de farmácias na Grande Vitória

Praia do Canto lidera abertura de farmácias na Grande Vitória

O bairro da Praia do Canto, em Vitória, lidera a abertura desse tipo de negócio. Apenas na Capital, foram 49 lojas desde 2016

Publicado em 6 de março de 2018 às 00:02

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(Fernando Madeira | GZ)

“Tenho medo de viajar e quando voltar ter uma farmácia no lugar da minha casa”. A frase pronta que viralizou nas redes sociais nos últimos meses está longe de ser uma simples anedota. Isso porque as drogarias, sobretudo de bandeiras nacionais, estão realmente invadindo a Grande Vitória.

Números das prefeituras de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica mostram que de 2016 até hoje foram licenciadas 136 novas lojas do setor nesses municípios. Foram 68 farmácias abertas em 2016, 58 no ano passado, e dez apenas nos dois primeiros meses deste ano.

A Praia do Canto desponta como o principal destino das redes. O bairro é o campeão em novos empreendimentos nos últimos dois anos. Foram nove lojas abertas, algumas praticamente em frente a outras. Na sequência do ranking, os bairros que mais receberam drogarias foram Jardim da Penha, Centro e Santa Lúcia, todos em Vitória.

O doutor em contabilidade e professor da Fucape, Fernando Galdi, explica que, para o consumidor, essa expansão é vantajosa, uma vez que pode se contar mais opções. Entretanto, pondera que esse movimento é concentrado nas áreas nobres.

“Essas redes estão abrindo novas lojas em pontos estratégicos, sobretudo em bairros nobres, como a Praia do Canto, testando se haverá uma sustentabilidade a longo prazo. Não é um movimento espalhado, mas bem concentrado. E vemos isso em todo o Brasil. Para o consumidor, no final, isso é bom, pela proximidade e pela concorrência, que faz os preços baixarem”, afirma.

De acordo com o especialista, esse boom de crescimento do mercado farmacêutico tem hora para acabar. “A partir do momento que o mercado estiver saturado com tanta drogaria, devido a essa expansão acelerada, muitas vão começar a fechar as portas. O número até já vem caindo. Em um longo prazo, isso é insustentável.”

Por cidade, a Capital também é o principal destino das farmácias. Foram 49 aberturas desde 2016, ante 44 em Vila Velha, 23 em Cariacica e 20 na Serra.

Segundo o presidente da Federação Brasileira de Redes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia, o setor é mais resistente que outros em tempos de crise, por isso conseguiu crescer mesmo em um momento difícil para a economia nacional. “O mercado farmacêutico é mais resistente até pelo próprio sistema de comercialização, uma vez que sempre tem gente doente e que precisa tomar medicamentos, que é uma despesa impossível de se cortar”, comenta.

IMPACTOS

Para os especialistas, os únicos prejudicados diante dessa situação são as pequenas redes e farmácias individuais, que não conseguem bater de frente com as redes gigantes, que conseguem dar mais descontos.

Maior grupo capixaba do setor, a Rede Farmes, que possui 106 farmácias, não deixou de crescer, mas de forma mais tímida. De acordo com o diretor comercial, Bruno Souza, a empresa tem pesquisado o mercado em meio à crescente concorrência e usado a tradição como aposta para atrair clientes.

“Somos capazes de sermos mais rápidos que os concorrentes nacionais, levando no peito o orgulho de ser capixaba. Estamos em plena expansão, principalmente no interior e temos o objetivo de ter ao menos uma farmácia em cada município do Estado”, afirma.

INVESTIDORES POR TRÁS DO CRESCIMENTO

A rápida expansão do setor farmacêutico nos últimos três anos tem causado espanto e estranheza nos consumidores. Mas, afinal, o que está por trás de todo esse crescimento? Segundo os especialistas, há um ponto em comum entre todos esses casos: investidores.

De acordo com o presidente da Federação Brasileira de Redes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia, todas as grandes redes nacionais que têm tomado as ruas têm recebido investimentos. “Uma das maiores tem capital aberto na bolsa, outra tem um grande fundo de investimentos que está por trás. Se vê em todos os casos isso, grandes investidores colocando dinheiro no setor, porque com a crise os outros apresentavam risco”, afirma.

O doutor em contabilidade, professor da Fucape e comentarista da Rádio CBN, Fernando Galdi, explica que com esse acesso abundante de capital, a expansão é um caminho natural, até mesmo pelo baixo custo de se abrir uma farmácia para esses grupos. “Como o acesso aos recursos é alto e o custo de montar uma loja para eles é relativamente baixo, se dá esse crescimento. Até porque se alguém investiu é porque quer que a empresa cresça, para ter lucro com o investimento. E, nesse caso, para crescer, só expandindo. Então, acaba por ser algo natural.”

Além de serem destinos de vultosos investimentos, as grandes redes de farmácias acabam faturando mais por conseguirem uma margem de lucro maior.

“Essas marcas têm um poder de barganha muito grande com os fornecedores por comprar grandes lotes, conseguindo ter uma margem de lucro melhor, já que nem sempre esse valor menor é repassado para o consumidor”, comenta Galdi, que reforça que esse lucro é ainda maior em outros produtos. “Os medicamentos acabam sendo apenas um atrativo para entrar na farmácia. Eles ganham dinheiro mesmo é com cosméticos, perfumaria, suplementos e vitaminas”.

RENTABILIDADE

A expansão das drogarias em função dos investimentos não considera a necessidade do consumidor, segundo os especialistas. Por isso, segundo eles, não há público para tantas farmácias.

“Não há público para termos tantas farmácias, uma do lado da outra. Não há espaço para toda essa quantidade de lojas que vem abrindo e não é rentável para ninguém. A projeção que se tem é que, após esse boom de 2015 para cá, que deve durar pelo menos até o ano que vem, é que eles vão ter que repensar essa estratégia, talvez fechando muitos desses empreendimentos, comenta Tamascia, da Febrafar.

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Na linha do que acredita o presidente da própria federação que representa o setor, Fernando Galdi também prevê uma saturação do mercado com tantas drogarias. “A partir de 2020 vamos começar a assistir a um movimento inverso desse atual, que é o de fechamento de farmácias. As que deram certo ficam, as que estão dando prejuízo não irão sobreviver”, projeta.

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