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Cartão de loja faz dívida ir de R$ 150 para R$ 1,4 mil

Cartão de loja faz dívida ir de R$ 150 para R$ 1,4 mil

Juros são altos e podem chegar a 875% ao ano, alerta pesquisa

Publicado em 24 de abril de 2018 às 00:32

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Lucivânia Cardoso, 38, viu a dívida com cartão de loja quase triplicar. (Marcelo Prest)

Praticamente todo mundo já fez alguma compra em grandes lojas de departamento e ouviu a famosa frase: “vamos fazer o cartão da loja, senhor (a)?”. Cada vez mais populares entre os consumidores, os cartões de marcas próprias, também conhecidos como private label, são vendidos como portadores de vantagens para os clientes, no entanto, um estudo apontou que eles não são tão vantajosos assim quanto aparentam.

Pesquisa da Proteste Associação de Consumidores avaliou 37 cartões e constatou que por trás das facilidades, há juros extremamente altos. Em algumas redes, os juros dos cartões chegam a até 875,25% ao ano.

A taxa é tão alta que seria como, nas contas do economista Eduardo Araújo, fazer uma compra no valor de R$ 150 e ter a dívida, após um ano girando, em torno de R$ 1.462. Já uma compra maior, no valor de R$ 1 mil, por exemplo, saltaria para R$ 9.750 após um ano.

“Quando a concessão do crédito é fácil, se paga mais caro em juros por causa disso, uma vez que o risco para a empresa é maior. Se usou o cartão no rotativo ou pagou em atraso, vai ter que pagar com esses juros bastante altos, que acabam gerando aquela dívida bola de neve que fica praticamente impossível de ser paga”, explica a especialista em crédito da Proteste, Renata Pedro.

Um caso assim aconteceu com a auxiliar de serviços gerais Lucivânia Cardoso, 38 anos. No meio do ano passado, ela fez uma compra no valor de R$ 204 numa grande loja de departamentos da Capital. No entanto, com os juros e as cobranças invisíveis, esse valor chegou a quase R$ 600 após o pagamento das oito parcelas.

“Eles me propuseram fazer o cartão da loja quando fiz a compra para parcelar o valor. Dividindo em oito vezes, a previsão era que seria cerca de R$ 30 por mês, mas as mensalidades eram de R$ 65”, conta a consumidora, que ressalta que não foram só os juros que levaram a esse problema. “Além disso, colocaram cinco seguros sem me avisar. Pedi para tirar e avisaram que não podia fazer antes que eu pagasse”.

FIQUE DE OLHO

Os conhecidos “cartões de loja”, na verdade, são divididos em três. Os private label (comuns), os híbridos (que possuem a função crédito), e os co-branded (cartão fidelidade). Entretanto, isso não quer dizer que a transação seja feita apenas entre o lojista e o consumidor.

“Por trás dessa relação, existem as financeiras, que são as responsáveis pela liberação do crédito usado para refinanciar a fatura, como prevê a regra do Banco Central”, pondera o economista Eduardo Araújo.

Outro ponto avaliado pela pesquisa é a anuidade dos cartões. Embora, a maioria das empresas prometerem não cobrar dos consumidores, uma análise mais profunda constatou que não é bem assim. São poucos os cartões que realmente não possuem anuidade, segundo a pesquisa. Geralmente, a taxa é cobrada de acordo com o uso, ou possui isenção nos três primeiros meses.

“Essas informações precisam estar claras no momento da contratação para que o consumidor não tenha surpresas. Caso não esteja claro e esse cliente se sinta lesado, ele pode recorrer aos órgãos de defesa do consumidor e fazer valer seus direitos”, comenta a especialista Renata Pedro, da Proteste.

No entanto, nem tudo é negativo nesses cartões, ressalta a diretora presidente do Procon Estadual, Denize Izaita. “Conseguindo equilibrar e não caindo nas armadilhas do rotativo, você ganha prazos, presentes, milhas. Se souber utilizar bem, é uma coisa boa”.

SIMULAÇÕES

Como fica a dívida com cartão de loja com juros de 875,25% ao ano?

- Uma compra de R$ 50 com taxa de juros, após um ano irá para R$ 487,62.

- Uma dívida de R$ 100 neste cartão, sobe para R$ 975,25 em 12 meses.

- Comprando R$ 150, após uma ano o débito vai para R$ 1.465,87.

- Já uma dívida de R$ 1.000 salta para R$ 9.752,50.

ÓRGÃOS ALERTAM PARA COBRANÇAS EMBUTIDAS

Apesar de serem vendidos como cartões sem anuidade e que garantem benefícios, esses produtos financeiros possuem outros custos que podem passar despercebidos e que nem mesmo são informados aos consumidores no ato de contratação. Esse é o alerta que é feito pelas entidades de defesa do consumidor, que condenam a falta de informação clara e prévia para o cliente antes de fazer o cartão.

(Arabson)

A diretora presidente do Procon Estadual, Denize Izaita, explica que as demandas ao órgão sobre essas cobranças são crescentes. “O fato de que não se paga anuidade chama atenção, mas eles cobram outras taxas que querem dizer a mesma coisa que isso, como a de emissão da fatura e de parcelamento. Então, com essas taxas, ficam elas por elas na questão da anuidade”, destaca.

Segundo Denize, outra reclamação constante é a de seguros embutidos. “Isso é um ponto a se ficar atento porque a quantidade de seguros desses cartões é muito grande: de vida, de problemas domésticos, de defeitos em aparelhos... Se você contratou, exija a apólice para saber a cobertura daquele seguro. Se não tem conhecimento, deve reclamar”.

A especialista em crédito da Proteste, Renata Pedro, afirma que esses custos precisam ser informados previamente ao cliente. Caso não haja essa informação, é prudente perguntar e ficar alerta.

“É preciso que o consumidor tenha essa informação das despesas atreladas ao cartão antes. Na hora de oferecer, só dizem as ofertas, os benefícios, mas essas linhas miúdas precisam ser acordadas”, pontua.

VALE A PENA?

Os especialistas alertam que nem sempre vale a pena optar por um cartão de loja para obter descontos e ganhar prazos.

Quem já possui o cartão convencional, por exemplo, que tem as mesmas funcionalidades e possui juros menores, um novo cartão é dispensável, apesar dos benefícios. “Outro ponto é identificar se você é realmente é cliente fixo daquele loja. Se não for, não tem por que fazer”, pondera Renata.

Quem não possui cartão de crédito e opte pelo cartão da loja é preciso ter cuidado. “Às vezes, o cartão dá uma sensação de complemento da renda que não é real, e em função do desconhecimento, acaba levando às dívidas”, comenta o economista Eduardo Araújo.

TRÊS RECLAMAÇÕES POR DIA NO PROCON

As queixas de consumidores por problemas com cartões de lojas são crescentes. Ao longo do ano passado, só o Procon Estadual recebeu 817 reclamações sobre o tema. Neste ano, já são 231 queixas. Os números equivalem dizer que órgão recebe, diariamente, pelo menos três reclamações sobre esse produto.

Se levarmos em conta apenas as queixas relativas aos juros e a cobranças de taxas, como a do cálculo de parcela, foram 112 do ano passado para cá.

A diretora-presidente do Procon, Denize Izaita, explica que a maioria das reclamações diz respeito a taxas que não haviam sido acordadas previamente ou que não foram esclarecidas ao consumidor no ato da contratação.

“A gente vê que ainda tem muita cobrança pela simples emissão do boleto, que é uma cobrança abusiva porque o ônus da cobrança não pode ficar na conta do consumidor”, comenta. Outros motivos que leva os consumidores a procurarem o órgão são os seguros embutidos e a cobrança pelo parcelamento com juros altos.

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O Procon orienta que, caso se sinta lesado, o consumidor procure alguma agência ou ligue para o telefone 151.

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