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'Candidato político quis se infiltrar aqui', diz líder da greve no ES

"Candidato político quis se infiltrar aqui", diz líder da greve no ES

Bira contou ter expulsado a CUT, falou da preferência pela Intervenção Militar e revelou que diversas pessoas tentaram influenciar o movimento e tirar proveito da manifestação.

Publicado em 31 de maio de 2018 às 00:02

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O porta-voz da Greve dos Caminhoneiros em Viana, Bira Nobre. (Rafael Silva)

Ubirajara Nobre, o Bira, de 40 anos, é apontado como líder da greve dos caminhoneiros em Viana, apesar de destacar, muitas vezes, que não lidera a manifestação. Ele, que também é pastor, conta ser caminhoneiro há 16 anos, mas teve seu veículo de trabalho roubado há cerca de um ano. Desde então, tem trabalhado em um carro, fazendo fretes dentro da Grande Vitória.

Candidato a vereador de Cariacica em 2016, Bira, então filiado ao PEN, teve 357 votos. Foi a única eleição que disputou, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Dois anos depois, a frente de um dos maiores piquetes do Estado, foi o porta voz de 300 caminhoneiros que aderiram a greve e encostaram seus caminhões em Viana.

Em entrevista ao Gazeta Online, ele contou ter expulsado representantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), falou da preferência pela Intervenção Militar por parte de muitos grevistas e revelou que diversas pessoas tentaram influenciar o movimento e tirar proveito da manifestação.

O que motivou o fim da greve?

Recebemos uma orientação de quem está representando a greve desde o início em Brasília que era melhor acabar. Os caminhoneiros estavam sendo sacrificados demais, muitos pontos de bloqueio estavam abrindo e decidimos encerrar. Está tudo liberado. Entramos de cabeça erguida, ninguém morreu e nem foi preso. Construímos uma família. O movimento não acaba, vamos aguardar novas orientações para lutar pela redução dos impostos nos combustíveis.

Quais foram os sacrifícios dos caminhoneiros?

A ideia geral é que nós paramos nosso trabalho, deixamos de receber frete e ficamos longe das nossas famílias, enquanto a população não aderiu totalmente. A gente recebeu muito apoio, mas ninguém entrou de greve. Fizemos um protesto para parar o país, todos reclamam do presidente e do preço da gasolina. Nós avançamos, estávamos com a espada e o escudo na mão. Demos para a população e ela largou e correu para fazer fila em posto de gasolina. Me sinto traído. Chegamos tão perto e a sociedade nos traiu, nos abandonou.

Os impactos aqui na economia do Estado pressionaram pelo fim da greve?

A gente também acompanhou a situação das aves, dos animais morrendo. A gente ficou muito triste, mas a culpa não é dos caminhoneiros. Nossas reivindicações estão sendo feitas a seis meses. A culpa é da irresponsabilidade do governo.

O senhor é caminhoneiro?

Falaram aí que eu tava liderando a greve e que eu não era caminhoneiro. Eu não lidero a greve, eu sou só um porta-voz para falar com a polícia e com a imprensa. Sou carrateiro há 16 anos, trabalhei de empregado em várias transportadoras, podem procurar. Fiz muitos amigos e participei dos movimentos dos caminhoneiros. Ano passado roubaram meu caminhão, que eu nem terminei de pagar. Ficou para mim só uma dívida de R$ 18 mil. Atualmente, faço frete com meu carro particular aqui na Grande Vitória.

Houve influência política dentro do movimento?

Isso foi o que mais teve. Todo dia chega alguém aí para falar para os caminhoneiros. Falar de intervenção militar e pedir a saída do Temer. Este não era o foco, o foco era o preço do combustível, para todo mundo, do diesel, da gasolina e do etanol.

Teve influência da esquerda e da direita?

Bom, a gente, na verdade, não queria política aqui. Eu odeio política. A esquerda veio e pedimos para se retirar. Veio um representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e colocou uma bandeira deles aqui. Nós queimamos a bandeira da CUT e falamos para ele que se quissesse ficar, ia ter que tirar a camisa. Mas cada um fala uma coisa. Tem gente que fala de Bolsonaro, tem outros que pedem intervenção militar, aí vai de cada caminhoneiro, mas não é a pauta do movimento.

O senhor é a favor da intervenção?

Eu entendo o seguinte, se o governo perde o controle da segurança, chama os militares; se acontece uma enchente, chama os militares; se o presidente não tem aprovação das pessoas, chama os militares. Mas não sou a favor de um governo de militares, acho que eles poderiam fazer uma limpa e ficar até as eleições.

Já tinha participado de um movimento tão grande?

Participei da manifestação do impeachment. Fui junto com outros caminhoneiros em carreatas lá na Praça do Papa. Hoje vejo que não tem mais jeito. Não era só presidente que era corrupto, era ministro e era juiz, a gente paga imposto e parece que nada funciona.

Acha que a política anterior de preços da Petrobras era melhor que atual, que vincula o preço dos combustíveis às variações do petróleo e do dólar?

Bom, até era melhor antes, mas se tornou ruim. A gente viu que aquela política se tornou em um rombo grande. Eles falam em repassar o impacto dos benefícios concedidos aos caminhoneiros para os outros consumidores. Mas não são eles que tem pagar. Tem muitos cortes a serem feitos, a começar pelo auxílio-moradia, ao número de ministérios, ao valor de diárias, aos salários de congressistas. Todo mundo tem que se sacrificar, mas quem tá sofrendo é só o povo.

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