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Com 40 anos de história, tradicional pizzaria de Vitória fecha as portas

Com 40 anos de história, tradicional pizzaria de Vitória fecha as portas

Crise no mercado e problemas de saúde do fundador contribuíram para o encerramento das atividades

Publicado em 18 de maio de 2018 às 18:15

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Pizzaria Napolitana, em Bento Ferreira. (Reprodução/Facebook)

Uma das pizzarias mais antigas de Vitória, a Napolitana, que funcionava no bairro Bento Ferreira, fechou suas portas e foi colocada à venda. Fundada em 1978 pelo empresário Américo Pessotti, hoje com 94 anos, a empresa não resistiu ao momento econômico do país e encerrou suas atividades.

Além da crise financeira, as condições de saúde de Américo também contribuíram para o fim do negócio. Recém-recuperado de um câncer na próstata, o empresário sofreu uma queda, fraturou o fêmur e agora precisa de cuidados mais intensivos. A filha dele, Angela Pessotti, que vinha tocando o empreendimento desde 2006, diz que a decisão foi dolorosa, mas que precisou fechar a pizzaria no último mês para se dedicar ao pai.

"Ele se dedicou a vida inteira à pizzaria. Até 2016, quando minha mãe faleceu, ele fazia questão de preparar o molho de tomate que seria usado nas pizzas e nas lasanhas. Tudo era caseiro, da massa aos ingredientes. Ele era muito exigente e implicava até com o tamanho das rodelas de tomate que iam na pizza”, lembra a empresária.

Seu Américo preparando o molho utilizado na pizzaria. (Angela Pezzotti)

O anúncio de que o empreendimento iria fechar as portas pegou de surpresa os clientes mais assíduos do estabelecimento. Na página da pizzaria no Facebook, muitos lamentaram.

"Espero que reabram um dia. Namorei, casei e levei meus filhos para comer aí", comentou uma internauta. "Quando era criança fazia meus aniversários e de minhas irmãs lá. É uma pena, vai fechar um pedaço da história de Bento Ferreira", disse outra admiradora.

HISTÓRIA

A pizzaria começou suas atividades na Avenida Mascarenhas de Moraes, a Beira-Mar, em frente ao clube Álvares Cabral. Apesar da especialidade em pizzas, foi a lasanha à bolonhesa que colocou o nome da Napolitana entre os estabelecimentos mais tradicionais de Vitória nos anos 90.

"Até hoje tem gente que me pergunta o que a gente colocava na lasanha (risos). Tudo era feito pelo meu pai. Ele tinha uma dedicação muito grande e muito cuidado com a procedência dos produtos. Muita gente fez o primeiro encontro de namoro lá, depois voltavam para fazer o pedido de casamento e anos mais tarde retornavam já com os filhos", recorda Angela.

Seu Américo (como sempre foi chamado pelos clientes) começou como gerente na pizzaria. Ele montou o negócio com um primo, que logo no primeiro ano vendeu sua parte para o empresário. Em 2006, a Napolitana saiu de seu endereço original e ficou fechada por alguns meses, por conta de um problema com a visão de seu Américo. Mas, pressionada por clientes e amigos, a família resolveu reabrir o negócio na Rua Coronel Schwab Filho, também em Bento Ferreira, Vitória.

MUDANÇA NO CONSUMO

Angela revela que a decisão de fechar o negócio este ano foi dolorosa e feita em conjunto com a família. Até seu Américo foi a favor do encerramento das atividades, conta. Ela explica que o mercado de pizzas mudou e, atualmente, a maioria das pessoas prefere pedir comida em casa.

"O tempo hoje é mais corrido e a insegurança também é maior. Hoje é difícil as pessoas se reunirem para comer, comemorar o aniversário em restaurantes e pizzarias, como acontecia antigamente. Quem quer comer, muitas vezes prefere pedir pelo telefone", diz.

A empresária não descarta voltar com o negócio, caso a economia tome novos rumos. Mas admite que sua prioridade agora é cuidar do pai.

"Foi muito difícil chegar a essa decisão (choro). Eu estava tentando tomar essa atitude desde outubro, quando meu pai quebrou o fêmur e ficou com dificuldade de andar. Deixar a empresa para só funcionários tomarem conta não daria para ir para frente. Mas é a nossa história ali. Minha mãe, para se ter uma ideia, morreu no dia da pizza, 10 de julho, por conta de uma pneumonia. A gente tinha muita ligação com esse mercado", lembra, emocionada.

"PAÍS PARADO"

Antes de fechar a pizzaria, Angela tentou colocá-la à venda em dezembro, mas não chegou a receber uma oferta satisfatória. Ela analisa que o momento político e econômico do Brasil não incentiva "ninguém" a investir em novos negócios.

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"O país está parado, em crise, e deve ficar assim até o ano que vem, quando o próximo presidente assumir. Este ano a preocupação é com a Copa do Mundo e as eleições. Quem vencer a eleição, não vai poder fazer nada até janeiro. E quem estiver no governo, também não terá como fazer muita coisa com o mandato acabando em dezembro."

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