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Mais de 150 mil famílias moram de favor no Espírito Santo

Mais de 150 mil famílias moram de favor no Espírito Santo

Número cresceu 23,5% em 2017, muito acima da média nacional

Publicado em 8 de maio de 2018 às 00:19

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Mariana Fraga se mudou do Rio de Janeiro para Vitória, onde vive com a mãe após ficar desempregada. (Bernardo Coutinho | GZ)

Quando a crise chegou, muitas pessoas que estavam pagando um aluguel ou a prestação de um imóvel perderam o emprego e acabaram não tendo como honrar seus compromissos. Ao todo, mais de 154 mil famílias no Espírito Santo estão morando de favor na casa de conhecidos ou de parentes.

Dados da Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio Contínua (Pnad-C), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que em 2016, 124,9 mil famílias viviam de favor no Estado, ou seja, em 2017, foram acrescentadas cerca de 30 mil famílias a esta estatística. Enquanto no Brasil, de 2016 para 2017, o número de famílias que se enquadravam nesta categoria subiu quase 7%, no Estado o aumento foi de 23,56% – percentual quase três vezes maior que o nacional.

Mariana Fraga Melo Araújo, 37 anos, faz parte desse grupo de capixabas que moram com parentes e não pagam aluguel. Mãe de um casal de gêmeos de 3 anos, ela e o marido tiveram que voltar a morar com a mãe, em Vitória, para diminuir as despesas.

Mariana e o marido moravam no Rio de Janeiro. Lá, tinham empregos e financiaram um apartamento por 30 anos. Ela foi demitida e, em 2014, mudaram para Vitória. Como não podiam mais arcar com os custos do financiamento, acabaram perdendo o sonho da casa própria.

Na Capital capixaba, alugaram um apartamento, quando ela descobriu que estava grávida. “Quando meus filhos estavam com cinco meses comecei a fazer brigadeiros para vender, mas mesmo com a renda extra percebi que os gastos continuavam altos e decidi morar com a minha mãe”, contou. A decisão ajudou a diminuir as despesas de casa e ainda a ter uma ajuda extra para cuidar dos filhos.

De acordo com o economista Ricardo Paixão, com o número de desempregados ainda alto, a maior parte das famílias ainda tem ao menos uma pessoa sem trabalhar. “Isso faz com que a renda média diminua e, consequentemente, o orçamento fique mais apertado. Por isso, boa parte das famílias não conseguiu pagar o aluguel ou um financiamento. Isso faz elas irem para casa da família ou dividir com um amigo, por exemplo.”

Se analisarmos apenas os dados de Vitória, o percentual é ainda mais expressivo. Em 2016, eram 7,4 mil famílias nesta situação e no ano passado o número subiu para 9,3 mil, o que representa um aumento de 25,15%.

Conseguir empréstimo pessoal ou realizar um financiamento hoje está mais difícil do que era há alguns anos. Segundo o economista Antônio Marcus Machado, o sonho de ter a casa própria está cada vez mais distante. “O que vemos surgir é um movimento em que as pessoas compartilham a casa ao invés de comprar uma”, comentou.

Segundo a Pnad-C, de 2016 para 2017, no Estado, 87,4 mil famílias deixaram de morar em casa própria e quitada. Em 2016, eram mais de 1 milhão e no ano passado esse total caiu para 919,8 mil. Já em Vitória, mais de 10,5 mil famílias deixaram a casa própria e quitada (-10,97%).

No Estado, o percentual de pessoas que moram em um imóvel próprio e ainda está pagando subiu 70,5%. O número passou de 37.937, em 2016, para 64.689, em 2017. Na Capital, porém, mais de 1,4 mil (-14,02%) deixaram esta condição.

 

MAIS MORADORES

Mais de 28 mil pessoas deixaram de morar sozinhas no Estado em 2017, em comparação a 2016. Em contrapartida, o número de residências com mais de três moradores aumentou em quase 19 mil. Os números mostram que a crise influenciou os rearranjos nos lares capixabas.

Em 2016, 227,8 mil pessoas viviam sozinhas – o número caiu para 199,6 mil no ano passado, ou seja, o Espírito Santo passou a contar com 12% menos residências onde havia apenas um morador, revela a Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio Contínua (Pnad-C).

Se somarmos as residências com uma pessoa ao total de moradias em que vivem duas pessoas, a diferença entre os anos também é grande. De 607,4 mil, em 2016, para 581,6 mil, em 2017 – uma queda de 25,8 mil residências entre um ano e o outro.

 

Segundo o economista Mário Vasconcelos, essa mudança no comportamento deve-se essencialmente a dois fatores: construção de uma nova família e redução de custos.

“Quando as pessoas começam a construir uma família, elas deixam de viver sozinhas e vão morar com o parceiro ou a parceira. Já o segundo caso foi agravado pela crise e pelo desemprego. Para diminuir gastos foi preciso dividir as contas do aluguel, luz, entre outras despesas. Para essas pessoas, a alternativa é morar em uma república ou dividir a casa com um amigo.”

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De 2016 para 2017, o número de casas com quatro pessoas aumentou em 15,4 mil, uma diferença de quase 6% entre os anos. Em 2016, eram 253,8 mil residências com quatro pessoas no Espírito Santo. Já em 2017, 269,2 mil casas chegaram a essa condição. Se considerarmos todas as residências com mais de três moradores, houve um aumento de 18.682 casas - em 2016 eram 781,3 mil e no ano passado, 800 mil.

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